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Papel argentino rende até 282% em 2006
Títulos do governo com remuneração atrelada ao crescimento do PIB estão entre os mais rentáveis do ano passado
Mercado de ações e títulos privados está aquecido, colocando país entre os emergentes com ativos de maior rentabilidade
DA REPORTAGEM LOCAL
Os papéis argentinos estão
em alta desde o ano passado.
Dois títulos do governo do país
vizinho estão até entre os investimentos mais rentáveis de
2006. Papéis vendidos em
2003, cuja rentabilidade estava
atrelada ao crescimento da economia, os chamados Cupon's
PBI registraram valorização de
mais de 150% em 2006.
Os Cupon's são dois entre os
diversos títulos que o governo
argentino usou para trocar sua
dívida, obrigando os credores,
no final de 2004, a aceitar descontos que chegavam a 75%. O
governo, à época, ofereceu títulos atrelados à inflação, às taxas
de juros internacionais, ao dólar e à taxa de crescimento do
PIB. Os Cupons PBI são justamente os títulos atrelados ao
desempenho econômico da Argentina. PBI é a sigla em espanhol para PIB (Produto Interno Bruto -a soma de toda a riqueza produzida por um país
em um ano).
Em 2004, ninguém dizia
considerar a troca um bom negócio. E cerca de um quarto dos
credores decidiu não aderir ao
programa, tentando na Justiça
conseguir acordo melhor. Mas
quem, no ano passado, resolveu
investir nesses papéis não se
saiu nem um pouco mal. Em
2006, o Cupon em peso registrou alta de 157%, o em dólar
subiu nada menos do que
282%.
São resultados extraordinários, e os demais títulos públicos argentinos nem de longe os
acompanham. Mas o bom desempenho da economia do
país, que cresce a taxas superiores a 8% desde 2003, trouxe
certa exuberância a todo o mercado de capitais: títulos públicos, privados, ações, todos registraram resultados muito
bons no ano passado.
"O investimento em títulos
públicos argentinos levou a
rendimentos muito bons durante 2006. Medido pelo índice
de títulos IAMC, a rentabilidade anual ficou em 20,6% em pesos, enquanto a alta em dólares
foi de 18,2%", disse Mónica Erpen, diretora-executiva do
IAMC (Instituto Argentino de
Mercado de Capitais). Entre os
títulos mais negociados, estão o
Par e o Discount. O primeiro
registrou alta de 58% em dólares, o segundo, de 36%.
Mas a "exuberância argentina" não se restringiu aos papéis
do governo em 2006. O índice
MSCI-Barra, de consultoria
controlada pelo Morgan Stanley Capital International,
mostra que os papéis privados
argentinos, subindo 66% no
ano passado, só perderam em
valorização para chineses
(78%) e indonésios (69%). O
Brasil fica em 11º lugar, com valorização de 40%, sempre medida em dólares.
"A economia argentina está
pegando fogo, crescendo mais
do que 8,5% em 2006 e com expectativa de crescimento de 8%
em 2008", escreve Walter Molano, economista da BCP Securities, que coloca os ativos argentinos entre os mais atrativos na região em 2007.
"A Argentina foi o país emergente com a melhor performance em 2006. A velocidade
deve continuar em 2007, com
mais fundos embarcando [em
papéis argentinos]", conclui.
Ricardo Amorim, diretor de
Pesquisa Econômica e Estratégia para a América Latina do
WestLB, está entre os analistas
que recomendam os papéis argentinos. Amorim chama a
atenção para os títulos públicos
indexados ao crescimento, que
já tiveram desempenho impressionante em 2006, e para
os títulos indexados à inflação,
que também devem trazer retornos graúdos em 2007.
Em parte, lembra Amorim, o
bom desempenho dos papéis é
explicado pelas próprias dificuldades do governo argentino
em emitir mais dívida. Parte
dos credores apenas espera novas emissões para, entrando na
Justiça, conseguir desviar os
recursos. Esse empecilho mantém a Argentina fora do mercado internacional. Com uma
oferta reduzida de títulos e uma
procura crescente, a tendência
é o preço subir.
Mas o "sucesso" argentino
também conta. O crescimento
superior a 8% e o superávit primário de 4% alimentam a expectativa de que a possibilidade
de novo calote é remota. Ou seja, os investidores acreditam na
capacidade -e na vontade- de
pagamento do governo.
(MARCELO BILLI)
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