São Paulo, sábado, 20 de janeiro de 2007

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Papel argentino rende até 282% em 2006

Títulos do governo com remuneração atrelada ao crescimento do PIB estão entre os mais rentáveis do ano passado

Mercado de ações e títulos privados está aquecido, colocando país entre os emergentes com ativos de maior rentabilidade


DA REPORTAGEM LOCAL

Os papéis argentinos estão em alta desde o ano passado. Dois títulos do governo do país vizinho estão até entre os investimentos mais rentáveis de 2006. Papéis vendidos em 2003, cuja rentabilidade estava atrelada ao crescimento da economia, os chamados Cupon's PBI registraram valorização de mais de 150% em 2006.
Os Cupon's são dois entre os diversos títulos que o governo argentino usou para trocar sua dívida, obrigando os credores, no final de 2004, a aceitar descontos que chegavam a 75%. O governo, à época, ofereceu títulos atrelados à inflação, às taxas de juros internacionais, ao dólar e à taxa de crescimento do PIB. Os Cupons PBI são justamente os títulos atrelados ao desempenho econômico da Argentina. PBI é a sigla em espanhol para PIB (Produto Interno Bruto -a soma de toda a riqueza produzida por um país em um ano).
Em 2004, ninguém dizia considerar a troca um bom negócio. E cerca de um quarto dos credores decidiu não aderir ao programa, tentando na Justiça conseguir acordo melhor. Mas quem, no ano passado, resolveu investir nesses papéis não se saiu nem um pouco mal. Em 2006, o Cupon em peso registrou alta de 157%, o em dólar subiu nada menos do que 282%.
São resultados extraordinários, e os demais títulos públicos argentinos nem de longe os acompanham. Mas o bom desempenho da economia do país, que cresce a taxas superiores a 8% desde 2003, trouxe certa exuberância a todo o mercado de capitais: títulos públicos, privados, ações, todos registraram resultados muito bons no ano passado.
"O investimento em títulos públicos argentinos levou a rendimentos muito bons durante 2006. Medido pelo índice de títulos IAMC, a rentabilidade anual ficou em 20,6% em pesos, enquanto a alta em dólares foi de 18,2%", disse Mónica Erpen, diretora-executiva do IAMC (Instituto Argentino de Mercado de Capitais). Entre os títulos mais negociados, estão o Par e o Discount. O primeiro registrou alta de 58% em dólares, o segundo, de 36%.
Mas a "exuberância argentina" não se restringiu aos papéis do governo em 2006. O índice MSCI-Barra, de consultoria controlada pelo Morgan Stanley Capital International, mostra que os papéis privados argentinos, subindo 66% no ano passado, só perderam em valorização para chineses (78%) e indonésios (69%). O Brasil fica em 11º lugar, com valorização de 40%, sempre medida em dólares.
"A economia argentina está pegando fogo, crescendo mais do que 8,5% em 2006 e com expectativa de crescimento de 8% em 2008", escreve Walter Molano, economista da BCP Securities, que coloca os ativos argentinos entre os mais atrativos na região em 2007.
"A Argentina foi o país emergente com a melhor performance em 2006. A velocidade deve continuar em 2007, com mais fundos embarcando [em papéis argentinos]", conclui.
Ricardo Amorim, diretor de Pesquisa Econômica e Estratégia para a América Latina do WestLB, está entre os analistas que recomendam os papéis argentinos. Amorim chama a atenção para os títulos públicos indexados ao crescimento, que já tiveram desempenho impressionante em 2006, e para os títulos indexados à inflação, que também devem trazer retornos graúdos em 2007.
Em parte, lembra Amorim, o bom desempenho dos papéis é explicado pelas próprias dificuldades do governo argentino em emitir mais dívida. Parte dos credores apenas espera novas emissões para, entrando na Justiça, conseguir desviar os recursos. Esse empecilho mantém a Argentina fora do mercado internacional. Com uma oferta reduzida de títulos e uma procura crescente, a tendência é o preço subir.
Mas o "sucesso" argentino também conta. O crescimento superior a 8% e o superávit primário de 4% alimentam a expectativa de que a possibilidade de novo calote é remota. Ou seja, os investidores acreditam na capacidade -e na vontade- de pagamento do governo.
(MARCELO BILLI)


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