São Paulo, sábado, 20 de janeiro de 2007

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País continua fora do mercado financeiro internacional

DA REPORTAGEM LOCAL

Apesar do bom desempenho dos papéis argentinos e da conseqüente queda do risco-país, a Argentina está longe de ser a menina-dos-olhos do mercado de capitais internacional. Pelo contrário, há centenas de investidores espreitando em tribunais ao redor do mundo, esperando a oportunidade para confiscar recursos levantados pelo governo argentino.
O risco de ver dinheiro levantado com novos papéis nas mãos dos credores que não aceitaram a troca de dívida de 2004 mantém a Argentina fora do mercado. Dos credores, detentores de aproximadamente US$ 20 bilhões em títulos, 25% não aceitaram o acordo e argumentam que o país poderia ter oferecido algo melhor do que a oferta de 2003/2004, que previa abatimento de 75% na dívida.
Em período em que os países emergentes conseguem financiamento às menores taxas de juros já registradas, a Argentina não pode sequer acessar o mercado de dívidas. No ano passado, países como México e Brasil, por exemplo, conseguiram inclusive colocar títulos em moedas locais no mercado internacional, tamanho o apetite dos investidores por ativos dos países emergentes, lembra Antonio Madeira, analistas da MCM Consultores. "A Argentina está fora do mercado", ressalta o economista.
"[O fato de] não ter acabado definitivamente com o calote está impedindo o governo de fazer emissões e o obriga a colocar dívida no mercado local ou por meio do governo venezuelano", completa Mónica Erpen, do IAMC (Instituto Argentino do Mercado de Capitais), instituição ligada à Bolsa argentina.
O governo argentino diz que não volta atrás. Por enquanto, lembra Ricardo Amorim, do WestLB, a maneira encontrada pelo país para colocar mais dívida no mercado internacional foi vender papéis ao governo da Venezuela, que por sua vez os repassa ao mercado financeiro local, que os vende a investidores. "Mas essa é uma opção cara, a Argentina paga um prêmio para a Venezuela", diz ele.
Na prática, os argentinos vendem os títulos a um preço menor que o de mercado para o governo venezuelano, que por sua vez faz o mesmo ao colocar os papéis no mercado financeiro local. Para Amorim, a estratégia tem funcionado, mas também tem prazo para acabar. Com o tempo, avalia ele, ela se mostrará mais cara do que voltar à mesa de negociação com os credores descontentes e limpar de vez o nome da Argentina no mercado de capitais global.
O grande empecilho de fazê-lo, por enquanto, é político. O tratamento duro com os bancos e credores foi bandeira de campanha do presidente Néstor Kirchner. O então ministro da Economia, Roberto Lavagna, não cansava de repetir que, uma vez encerrada a oferta, o governo não voltaria atrás.
Kirchner prepara-se para enfrentar eleições em outubro deste ano. Se não concorrer, deve apoiar sua esposa na corrida presidencial, o que torna muito improvável que ele tope o desgaste político de ceder aos credores. "Passadas as eleições", diz Amorim, "o governo deve sentar para negociar. Vão acabar chegando em acordo."
(MARCELO BILLI)


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