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País continua fora do mercado financeiro internacional
DA REPORTAGEM LOCAL
Apesar do bom desempenho
dos papéis argentinos e da conseqüente queda do risco-país, a
Argentina está longe de ser a
menina-dos-olhos do mercado
de capitais internacional. Pelo
contrário, há centenas de investidores espreitando em tribunais ao redor do mundo, esperando a oportunidade para
confiscar recursos levantados
pelo governo argentino.
O risco de ver dinheiro levantado com novos papéis nas
mãos dos credores que não
aceitaram a troca de dívida de
2004 mantém a Argentina fora
do mercado. Dos credores, detentores de aproximadamente
US$ 20 bilhões em títulos, 25%
não aceitaram o acordo e argumentam que o país poderia ter
oferecido algo melhor do que a
oferta de 2003/2004, que previa abatimento de 75% na dívida.
Em período em que os países
emergentes conseguem financiamento às menores taxas de
juros já registradas, a Argentina não pode sequer acessar o
mercado de dívidas. No ano
passado, países como México e
Brasil, por exemplo, conseguiram inclusive colocar títulos
em moedas locais no mercado
internacional, tamanho o apetite dos investidores por ativos
dos países emergentes, lembra
Antonio Madeira, analistas da
MCM Consultores. "A Argentina está fora do mercado", ressalta o economista.
"[O fato de] não ter acabado
definitivamente com o calote
está impedindo o governo de
fazer emissões e o obriga a colocar dívida no mercado local ou
por meio do governo venezuelano", completa Mónica Erpen,
do IAMC (Instituto Argentino
do Mercado de Capitais), instituição ligada à Bolsa argentina.
O governo argentino diz que
não volta atrás. Por enquanto,
lembra Ricardo Amorim, do
WestLB, a maneira encontrada
pelo país para colocar mais dívida no mercado internacional
foi vender papéis ao governo da
Venezuela, que por sua vez os
repassa ao mercado financeiro
local, que os vende a investidores. "Mas essa é uma opção cara, a Argentina paga um prêmio
para a Venezuela", diz ele.
Na prática, os argentinos
vendem os títulos a um preço
menor que o de mercado para o
governo venezuelano, que por
sua vez faz o mesmo ao colocar
os papéis no mercado financeiro local. Para Amorim, a estratégia tem funcionado, mas também tem prazo para acabar.
Com o tempo, avalia ele, ela se
mostrará mais cara do que voltar à mesa de negociação com
os credores descontentes e limpar de vez o nome da Argentina
no mercado de capitais global.
O grande empecilho de fazê-lo, por enquanto, é político. O
tratamento duro com os bancos e credores foi bandeira de
campanha do presidente Néstor Kirchner. O então ministro
da Economia, Roberto Lavagna, não cansava de repetir que,
uma vez encerrada a oferta, o
governo não voltaria atrás.
Kirchner prepara-se para enfrentar eleições em outubro
deste ano. Se não concorrer,
deve apoiar sua esposa na corrida presidencial, o que torna
muito improvável que ele tope
o desgaste político de ceder aos
credores. "Passadas as eleições", diz Amorim, "o governo
deve sentar para negociar. Vão
acabar chegando em acordo."
(MARCELO BILLI)
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