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BORIS TABACOF
"Dois monólogos não fazem um diálogo"
Quando a maré sobe, os barcos sobem. Mas o barco brasileiro está pesado, com excesso
de lastro e pouca carga útil
A PRINCIPAL causa direta do
baixo crescimento que caracteriza a economia brasileira
por mais de uma década é o nível insuficiente de investimentos.
Nos primeiros anos pós-Plano
Real, os dirigentes econômicos, conhecidos como os "pais" da bem-sucedida derrota do dragão da inflação, que cuspiu fogo na vida dos brasileiros por tanto tempo, afirmavam
que a balança de pagamentos deveria ser deficitária, já que realizar um
superávit é mandar para fora o capital de que tanto necessita o país para
alimentar o seu crescimento. Daí ter
sido a política de endividamento
não um acidente mas uma atuação
explícita, propositada.
Tudo isso eu sei não por ouvir dizer ou ler, mas porque participei das
atividades nessa linha de política,
tendo sido, na época, um dos seus
defensores e propagadores, especialmente na condição de dirigente
de entidades empresariais.
Acontece que, com exceção do
controle da inflação, o resto deu errado, por diversos motivos, entre os
quais a errônea política de câmbio,
mantido fixo por vários anos, e as várias crises internacionais de liquidez, com custos crescentes para o
país. Na verdade, o que se adotava
era uma política de manter a inflação em nível baixo, ancorada no
câmbio, pagando qualquer preço,
especialmente do crescimento medíocre, resultado que se mantém até
hoje. Paradoxal escassez de capital
para investimento direto apesar da
enorme liquidez internacional que
se criou nos últimos anos.
Ficamos presos na armadilha:
câmbio nocivo às atividades produtivas, que, entre outras coisas, manteve a alimentação barata à custa da
quase ruína da agricultura (com a
exceção das commodities exportadas principalmente para a China),
uma redução da vulnerabilidade externa com o acúmulo de uma grande
reserva que é inútil e cara como capital para investimento no país, tudo isso bancado com juros estratosféricos que esmagam a produção, o
consumo e o investimento.
Acrescente-se a esse quadro uma
política fiscal ruinosa: impostos cada vez maiores e gastos correntes incontroláveis, principalmente com
os juros mais altos do mundo, pagos
pelo maior consumidor de crédito
do país, que é o governo, ao qual não
sobram recursos para investimentos essenciais. A dívida pública já
passa de R$ 1 trilhão.
Esse é o resumo do "enigma" brasileiro da falta de investimentos necessários para a retomada firme do
desenvolvimento do país, diferentemente do que acontece em outras
regiões e países. Sabe-se que, quando a maré sobe, todos os barcos sobem juntos. Mas o barco brasileiro
está muito pesado, com excesso de
lastro e pouca carga útil. Enquanto
isso, vemos alguns exemplos contemporâneos de sucesso em que
países aproveitam o capitalismo para crescer e não o consideram culpado de seus males.
Uma fonte de capital para financiar novos investimentos, ou ampliá-los, reside nas aplicações dos
chamados "private equities". São investimentos em empresas de capital
fechado, de dimensão média a grande, geralmente familiares, em que
investidores privados enxergam
crescimento potencial importante.
Embora com riscos mais elevados,
eles atraem capitais que esperam,
com o sucesso das empresas, ganhos
muito maiores do que nas Bolsas
convencionais, para as quais acabam migrando. Essas aplicações,
que são hoje verdadeira febre, por
exemplo, na Índia, são difíceis no
Brasil, devido ao tremendo emaranhado tributário e regulatório que
não permite a indispensável transparência dessas empresas para poder receber esses investimentos.
A atual polarização ideológica é
artificial e não provoca um diálogo
produtivo. O respeitado mestre italiano Norberto Bobbio escreveu que
"dois monólogos não fazem um diálogo". O confuso ruído a que se chama de discussão sobre a evolução esperada das políticas macroeconômicas, na melhor das hipóteses, representaria "mais do mesmo".
Os monólogos que são enunciados
como altas cogitações devem dar lugar ao diálogo sobre a única questão
que pode elevar o patamar do nosso
país: como multiplicar os investimentos, públicos e privados, domésticos ou globais. Uma nova política
audaciosa nessa direção deve condicionar as medidas e passos necessários. A pergunta que se fez até agora
sobre o efeito de qualquer passo em
relação à meta da inflação deve ser
substituída por: é bom para os investimentos e o crescimento econômico?
BORIS TABACOF é diretor do Departamento de Economia
do Ciesp e vice-presidente do Conselho de Administração
da Suzano.
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