São Paulo, sábado, 20 de janeiro de 2007

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Pirelli diz que quer sair da Telecom Italia

Em nota oficial, maior companhia italiana informa que tem mantido conversas com vários interessados na empresa

A russa AFK Sistema, maior operadora de telefonia celular do Leste Europeu, é apontada como possível compradora da tele


JANAÍNA LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

A Pirelli, maior empresa italiana, divulgou ontem nota oficial reiterando que deseja sair da Olimpia, holding controladora da Telecom Italia.
Caso a intenção seja concretizada, o comando da Telecom Italia mudará de mãos mais uma vez. A empresa foi privatizada em 1997. Desde lá, passou por três controladores.
A Telecom Italia é dona da TIM Brasil, segunda maior operadora de telefonia móvel nacional, e de parte da Brasil Telecom, concessionária de telefonia fixa das regiões Norte, Centro-Oeste e Sul.
Não há consenso na cúpula da empresa sobre o que fazer com os ativos brasileiros. Parte defende a fusão da TIM Brasil com a Brasil Telecom, outra quer vender as duas empresas e há ainda os que desejem se desfazer só das ações da BrT.
No texto divulgado ontem, a Pirelli admite ter sido procurada por alguns grupos interessados em suas ações na Olimpia. A nota ressalta, entretanto, que ainda não há acordos fechados sobre o assunto.
Os débitos da Telecom Itália hoje somam 39,5 bilhões.
Quanto aos possíveis interessados, a russa AFK Sistema, maior operadora de telefonia celular do Leste Europeu, é apontada por agentes do mercado com uma das possíveis compradoras das ações que a Pirelli tem na Olimpia.
"Há pontos de interrogação sobre o que [essa venda de participação] significaria para a política financeira da empresa", disse a Bloomberg Duncan Warwick-Champion, diretor de pesquisa de crédito para a Europa do UBS, em Londres. "Eles poderão pedir um maior grau de controle do que os maiores acionistas da Telecom Italia gostariam de ceder", afirmou ele.
Segundo o jornal russo "Kommersant", nos próximos dias a AFK dará um mandato a um banco italiano para negociar a compra da Telecom com o grupo Pirelli.
Analistas russos calculam que a transação envolveria até US$ 8,6 bilhões.

Resistência
Outras hipóteses aventadas no mercado são o repasse das ações para a alemã Deutsche Telekom ou para investidores do Oriente Médio.
O mercado reagiu bem ao anúncio da Pirelli. A Folha apurou no mercado financeiro italiano que boa parte dos agentes atribuem o desgaste de imagem da Telecom Italia, decorrente das acusações de espionagem investigadas pelo Ministério Público italiano, à permanência de Marco Tronchetti Provera, acionista majoritário da Telecom Italia e pai dos herdeiros da Pirelli, na Olimpia.
A venda da tele promete esquentar discussões na Itália. O governo do país, de centro-esquerda e pouco simpático a Tronchetti Provera, não quer que a maior tele do país caia nas mãos de estrangeiros. Está alinhado aos sindicatos locais.
Os aliados do primeiro-ministro Romano Prodi também não ficam confortáveis com a possibilidade de que a Pirelli esteja negociando as ações na Olimpia com Silvio Berlusconi, magnata das telecomunicações na Itália e ex-primeiro ministro do país.
Em entrevista realizada no fim de dezembro, o ministro de Infra-Estrutura e Transportes da Itália, Antonio Di Pietro, falou à Folha sobre uma possível venda da tele a estrangeiros.
Para ele, a venda da Telecom Italia -"uma empresa muito grande, envolvida ultimamente em um escândalo não-financeiro, mas de outro gênero, sobre o qual a magistratura está se indagando"- não é errada, desde que a oferta seja boa.
O ministro, todavia, fez ressalvas à atuação do comprador. "Quem vai adquirir a empresa? Porque isso sim é um problema! A Telecom é uma empresa que opera no setor de telecomunicações com licença do Estado italiano, e isso, por si só, já é um fator que, parece-me, deve ser atentamente analisado. O setor de telecomunicações, então, é muito delicado a qualquer país porque, como se sabe, guarda aspectos da soberania nacional", ponderou.


Com agências internacionais

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