São Paulo, terça-feira, 20 de janeiro de 2009

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entrevista

"Precisamos de um acordo de longo prazo"

ADRIANO CEOLIN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Sérgio Nobre, 43, afirma que não é momento de discutir redução de salários, muito menos demissões. Em entrevista exclusiva à Folha, ele critica empresas que estão pressionando o governo e os sindicatos para fazer negociações nesse sentido. Alega que a crise não atingiu o setor automobilístico e promete resistir às ameaças das empresas.
"As empresas estão vindo de cinco anos consecutivos de recorde de produção e vendas. Será que não têm fôlego para manter o pessoal em casa dois, três meses?", disse, defendendo medidas como uso de banco de horas e férias coletivas.
Na quarta-feira, Nobre tem marcada uma audiência com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva -que presidiu o sindicato dos metalúrgicos entre 1975 e 1980. "Vou sugerir a ele [Lula] que reative a câmara setorial, experiência importante que tivemos em 1992", disse.

 

FOLHA - Então ainda não há motivos para redução de salários nem demissões?
SÉRGIO NOBRE
- Ainda não sabemos como vai ser 2009. Antes de saber o que vai acontecer com o setor, já começam a falar de demissões, redução de salários... É um absurdo.

FOLHA - As empresas estão se preparando para o pior. NOBRE - Mais do que a crise internacional, o que está provocando demissão é a falta de responsabilidade social das empresas. Só vai saber o que vai ocorrer no setor no início de abril. Por que a empresa não espera até lá para saber o que vai acontecer e segura os trabalhadores? Porque é mais fácil demitir. Ela demite agora. Se em abril melhorar, ela contrata outro por metade do salário.

FOLHA - Ainda não houve demissões no ABC?
NOBRE
- Acho que as empresas demitem onde têm facilidade. As empresas estão vindo de cinco anos consecutivos de recorde de produção e vendas. Será que as empresas não têm fôlego para manter o pessoal em casa dois, três meses? Não é que vai ter resultado negativo. Vai ter uma quedinha no faturamento das empresas. Elas querem compensar essa queda reduzindo salários ou transferindo custo para o Estado.

FOLHA - No futuro, poderá haver redução salarial no setor?
NOBRE
- A crise ainda não se instalou no setor. Ninguém sabe o impacto. Como é barato demitir, demitem agora. Acho que tudo vale para proteger o emprego. Não sou contra discutir absolutamente nada. O que eu acho é que existem mecanismos agora que podem ser utilizados.

FOLHA - Os empresários estão fazendo uma pressão sobre o governo para que haja mais negociações para reduções salariais?
NOBRE
- Eu acho que os empresários estão transferindo a responsabilidade da crise para o Estado e para as costas dos trabalhadores. E não querem entrar com nada. Espero que o governo reflita sobre isso.

FOLHA - Então neste momento não se fala nem em redução de salário?
NOBRE
- De jeito nenhum. As empresas podem deixar o pessoal em casa com recurso próprio.

FOLHA - Mas e daqui três meses?
NOBRE
- Eu não tenho nenhum problema ideológico de discutir absolutamente nada. Eu acho que esse debate de redução de salários e demissões agora é fora de hora.

FOLHA - No ABC, o senhor já tem um compromisso com as empresas de que não vai haver demissão até abril?
NOBRE
- Eu tenho conversado com todas as empresas sobre isso.

FOLHA - Até abril não vai ter demissão?
NOBRE
- Espero que não.

FOLHA - O senhor vai ter uma audiência com o presidente Lula?
NOBRE
- Vai ser amanhã. Vou sugerir a ele [Lula] que reative a câmara setorial, experiência importante que tivemos em 1992. Afinal de contas, a crise não atingiu todos os setores. Com a mediação do governo, precisamos construir um acordo de longo prazo. Temos de discutir meta de emprego, produção.


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