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entrevista
"Precisamos de um acordo de longo prazo"
ADRIANO CEOLIN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente do Sindicato
dos Metalúrgicos do ABC,
Sérgio Nobre, 43, afirma que
não é momento de discutir
redução de salários, muito
menos demissões. Em entrevista exclusiva à Folha, ele
critica empresas que estão
pressionando o governo e os
sindicatos para fazer negociações nesse sentido. Alega
que a crise não atingiu o setor automobilístico e promete resistir às ameaças das
empresas.
"As empresas estão vindo
de cinco anos consecutivos
de recorde de produção e
vendas. Será que não têm fôlego para manter o pessoal
em casa dois, três meses?",
disse, defendendo medidas
como uso de banco de horas
e férias coletivas.
Na quarta-feira, Nobre
tem marcada uma audiência
com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva -que presidiu o sindicato dos metalúrgicos entre 1975 e 1980. "Vou
sugerir a ele [Lula] que reative a câmara setorial, experiência importante que tivemos em 1992", disse.
![](http://www1.folha.uol.com.br/fsp/images/ep.gif)
FOLHA - Então ainda não há motivos para redução de salários
nem demissões?
SÉRGIO NOBRE - Ainda não sabemos como vai ser 2009.
Antes de saber o que vai
acontecer com o setor, já começam a falar de demissões,
redução de salários... É um
absurdo.
FOLHA - As empresas estão se
preparando para o pior.
NOBRE - Mais do que a crise
internacional, o que está
provocando demissão é a falta de responsabilidade social
das empresas. Só vai saber o
que vai ocorrer no setor no
início de abril. Por que a empresa não espera até lá para
saber o que vai acontecer e
segura os trabalhadores?
Porque é mais fácil demitir.
Ela demite agora. Se em abril
melhorar, ela contrata outro
por metade do salário.
FOLHA - Ainda não houve demissões no ABC?
NOBRE - Acho que as empresas demitem onde têm facilidade. As empresas estão vindo de cinco anos consecutivos de recorde de produção e
vendas. Será que as empresas
não têm fôlego para manter o
pessoal em casa dois, três
meses? Não é que vai ter resultado negativo. Vai ter uma
quedinha no faturamento
das empresas. Elas querem
compensar essa queda reduzindo salários ou transferindo custo para o Estado.
FOLHA - No futuro, poderá haver redução salarial no setor?
NOBRE - A crise ainda não se
instalou no setor. Ninguém
sabe o impacto. Como é barato demitir, demitem agora.
Acho que tudo vale para proteger o emprego. Não sou
contra discutir absolutamente nada. O que eu acho é
que existem mecanismos
agora que podem ser utilizados.
FOLHA - Os empresários estão
fazendo uma pressão sobre o governo para que haja mais negociações para reduções salariais?
NOBRE - Eu acho que os empresários estão transferindo
a responsabilidade da crise
para o Estado e para as costas
dos trabalhadores. E não
querem entrar com nada. Espero que o governo reflita sobre isso.
FOLHA - Então neste momento
não se fala nem em redução de
salário?
NOBRE - De jeito nenhum. As
empresas podem deixar o
pessoal em casa com recurso
próprio.
FOLHA - Mas e daqui três meses?
NOBRE - Eu não tenho nenhum problema ideológico
de discutir absolutamente
nada. Eu acho que esse debate de redução de salários e
demissões agora é fora de hora.
FOLHA - No ABC, o senhor já tem
um compromisso com as empresas de que não vai haver demissão até abril?
NOBRE - Eu tenho conversado com todas as empresas
sobre isso.
FOLHA - Até abril não vai ter demissão?
NOBRE - Espero que não.
FOLHA - O senhor vai ter uma
audiência com o presidente Lula?
NOBRE - Vai ser amanhã.
Vou sugerir a ele [Lula] que
reative a câmara setorial, experiência importante que tivemos em 1992. Afinal de
contas, a crise não atingiu todos os setores. Com a mediação do governo, precisamos
construir um acordo de longo prazo. Temos de discutir
meta de emprego, produção.
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