São Paulo, terça-feira, 20 de janeiro de 2009

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BENJAMIN STEINBRUCH

Esperança


O corte profundo no juro é o estímulo que a economia precisa para completar o pacote de esperança dos EUA

DOIS EVENTOS se destacam nesta terceira semana do ano, num momento em que a crise global já deixa marcas na economia brasileira, com lamentáveis impactos na produção e no emprego.
O primeiro, naturalmente, é a posse, hoje, do 44º presidente dos EUA, Barack Obama. Pelo que se espera, será o grande acontecimento do ano para a mídia americana, maior até do que o Super Bowl, a tradicional final do futebol, que atrai dezenas de milhões de telespectadores.
O segundo evento, no Brasil, é a reunião do Copom do Banco Central, que também começa hoje. Espera-se que, finalmente, o BC se renda às evidências de que a inflação deixou de ser ameaça e baixe a taxa de juros.
A posse de Obama, em Washington, não tem nada a ver com a reunião no BC, em Brasília. Mas ambos os eventos são muito importantes para dar início a uma virada de ânimo na economia brasileira.
Nada a censurar nas propostas de Obama. Ele já pediu ao Congresso a aprovação de um pacote de gastos de US$ 825 bilhões e prometeu criar 3 milhões de empregos no setor privado. Além disso, pretende dobrar a produção de energia alternativa em três anos (boa notícia para o álcool brasileiro), reequipar as escolas e universidades públicas, recuperar a infraestrutura, levar a internet em banda larga a todo o país, apoiar os Estados com dificuldades financeiras, manter e incrementar programas de seguro-desemprego e seguro-saúde e cortar impostos de empresas e pessoas.
Tudo isso tem espaço nas boas cartilhas de economia. Nem é o caso de fazer, como em posses anteriores de presidentes americanos, as tradicionais considerações sobre a importância da redução do protecionismo, para que haja maior abertura a produtos brasileiros castigados por cotas e tarifas. Seria pedir demais.
Tudo o que se pode desejar a Obama é que ele seja iluminado para cumprir sua missão de recuperar a destroçada economia americana, uma aspiração mundial.
Ao assumir, Obama fará o juramento constitucional cujo texto é o mesmo desde 1789: "Juro solenemente exercer fielmente o cargo de presidente dos EUA e usar toda a minha capacidade para proteger, preservar e defender a Constituição dos EUA". Depois do juramento, pela tradição que teria sido instituída por George Washington, o presidente dirá "So help me God" (Que Deus me ajude). Na semana passada, um advogado ateu tentou conseguir em uma corte distrital de Washington a proibição dessa menção a Deus no juramento. Não conseguiu, felizmente.
No Brasil, o BC precisa ter coragem e fazer um corte de ao menos 1,75 ponto percentual na taxa básica. Não há mais desculpas para ortodoxia. O desaquecimento é forte e o risco da deflação bate à porta -o IGP-10 teve variação negativa mensal de 0,85%.
Uma redução da Selic em 0,5 ou 0,75 ponto, como se prevê no mercado, não muda nada. A taxa ainda seria a mais alta e absurda do mundo. Não adianta indicar uma tendência. O corte tem de ser efetivo, prático e rápido, como se fez no mundo inteiro, para dar confiança aos empreendedores e promover o aumento da atividade econômica. Esse é o único instrumento que temos. O Brasil já perdeu muito crescimento por causa do conservadorismo e do medo. Já jogou fora a oportunidade de aumentar o PIB em bilhões e bilhões de dólares.
O corte profundo na taxa de juros é o estímulo que a economia precisa neste momento para completar o pacote de esperança que vem de Washington.

BENJAMIN STEINBRUCH, 55, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).

bvictoria@psi.com.br



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