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agrofolha
Seca arrasa trigo argentino e pesa na inflação do Brasil
A menor em duas décadas, safra do país vizinho deve apresentar quebra de 43%
Para analistas, volume para moinhos brasileiros vai recuar 80%; alternativa é comprar produto mais caro, ofertado por EUA e Canadá
THIAGO GUIMARÃES
DE BUENOS AIRES
Protagonista da maior crise
argentina em 2008, o setor rural do país vizinho inicia mais
um ano de dificuldades com o
governo Cristina Kirchner.
Para o Brasil, a principal consequência está na queda na
produção argentina de trigo. A
safra 2008/09, segundo a Bolsa
de Cereais de Buenos Aires, foi
de 8,7 milhões de toneladas -a
menor em 20 anos e 43% abaixo dos 15,2 milhões de toneladas da temporada passada.
Analistas estimam que o Brasil -dependente do trigo argentino- terá 80% a menos para importar do vizinho. Ao buscar o grão mais caro em outros
países, como EUA e Canadá, o
resultado será mais inflação,
dizem moinhos nacionais.
A maior seca em 70 anos, a
queda na produção, a perda de
rentabilidade e a intervenção
estatal nos mercados de grãos,
carne e leite reforçam o mal-estar entre produtores e governo.
A crise começou em março
de 2008. Durante alta recorde
das commodities, o governo
criou um sistema "móvel" de
impostos sobre exportações de
grãos, que seguia as cotações
externas. "Tentou-se que o setor pagasse muito acima de sua
capacidade", diz Ricardo Bindy,
do site agrositio.com.
O campo reagiu. Promoveu
locautes e 4.000 bloqueios de
estradas pelo país. Houve desabastecimento, a causa ganhou
apoio nacional e o projeto do
governo caiu no Senado em julho, com desempate do vice-presidente, Julio Cobos.
Na semana passada, Cristina
anunciou facilidades para comprar máquinas e fertilizantes.
Não agradou às principais entidades do setor, que pedem menos impostos e entraves a exportações. "Não há diálogo com
o governo, que nos vê como
oposição", afirma Javier Jayo,
secretário-geral da CRA (Confederações Rurais Argentinas).
Queda de produção
Produtos primários (22%) e
manufaturas agropecuárias
(34%) respondem pela maior
fatia das exportações argentinas -os dados são de 2007. O
saldo comercial do país em
2008, até novembro, ficou em
US$ 14,3 bilhões, o maior desde
2003 (US$ 15,7 bilhões).
Projeções privadas apontam
queda de 20% na safra total de
grãos deste ano -de 98 milhões
para 78 milhões de toneladas.
O pior quadro é o do trigo. Seca, restrições a exportações e
menor rendimento por baixo
uso de fertilizantes explicam a
situação. Como o governo limita a venda externa do cereal para conter a inflação, restariam
apenas 2,3 milhões de toneladas para exportar, diz Mariano
Lamothe, economista-chefe da
consultoria Abeceb.com.
Isso "significa aumento de
preços no Brasil", afirma o vice-presidente da Abitrigo (Associação Brasileira da Indústria
do Trigo), Antenor Barros Leal.
O país compra cerca de 60%
do trigo que a Argentina exporta. Em 2009, diz Leal, precisará
importar 6 milhões de toneladas e terá que recorrer ao produto de países como EUA e Canadá, 40% mais caro.
Os moinhos brasileiros reclamam da taxação para o trigo.
Como as tarifas de exportação
alcançam 23% para o cereal
sem processar e apenas 18% para a farinha, a farinha argentina
chega ao Brasil mais barata do
que a nacional. A Abitrigo prepara uma queixa antidumping.
A Secretaria da Agricultura
argentina não atendeu aos pedidos de entrevista da Folha.
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