UOL


São Paulo, quinta-feira, 20 de fevereiro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ministro informou cúpula do governo da alta anteontem

Palocci já sabia da alta do juro antes da reunião do BC

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A assessoria da pasta da Fazenda nega, mas a Folha apurou que o ministro Antonio Palocci Filho comunicou anteontem de manhã à cúpula do governo que os juros subiriam, o que aconteceu ontem.
O comunicado à cúpula, portanto, foi feito antes de começar a reunião de dois dias da diretoria do Banco Central, que, em tese, tem autonomia para decidir pela subida ou não das taxas básicas de juros (a Selic).
Em reunião anteontem de manhã no Palácio do Planalto, Palocci disse aos ministros José Dirceu (Casa Civil), Luiz Gushiken (Comunicação de Governo e Gestão Estratégica) e Luiz Dulci (Secretaria Geral) que seria inevitável aumentar a taxa de juros devido à uma nova pressão inflacionária.
De acordo com o que a Folha apurou, Palocci não mencionou o percentual de aumento.
O grupo informado compõe o chamado "núcleo duro" do governo, aquele que é composto apenas por petistas e que é mais próximo ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Resistência
Apesar das veementes negativas do Ministério da Fazenda, argumentando que a taxa de juros não sofre nenhuma ingerência política e que ela é uma decisão soberana e técnica do Copom (Conselho de Política Monetária), circula na cúpula do governo a versão de que Lula teria sido avisado de antemão do aumento dos juros e que teria resistido a um percentual maior de elevação.
Segundo essa versão, o mercado apostava em aumento de dois pontos percentuais nos juros na reunião de ontem.
Palocci e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, desejavam aumentar 1,5 ponto percentual. De acordo com a versão, Lula reclamou e baixou o aumento para um ponto percentual.
A assessoria de Palocci também nega essa versão dos fatos.
O porta-voz da Presidência, André Singer, disse que o presidente Lula não quis comentar a elevação da taxa básica de juros de 25,5% para 26,5% ao ano promovida na reunião de ontem do Copom.
Indagado se Lula fora avisado do aumento, Singer respondeu: "Não sei dizer, o presidente não quis comentar".

Repetição
A versão sobre interferência de Lula sobre juros tem semelhança com o que aconteceu no primeiro aumento da taxa sob o governo do petista, no mês passado, quando o percentual subiu de 25% para 25,5% ao ano.
A Folha revelou que Lula fora avisado e que resistira. Depois, convencido por auxiliares, teria aceitado o aumento de 0,5 ponto percentual. O argumento que convenceu Lula foi que havia o risco de a inflação disparar neste ano.
O presidente tem dado demonstrações públicas de evidente apoio ao rigor fiscal e monetário de Palocci, apesar das críticas de que a política repete o que foi praticado durante a gestão FHC (1995-2002) e dos petardos quase diários dos radicais do PT contra o receituário econômico do ministro.


Texto Anterior: Receita ortodoxa: BC de Lula sobe taxa de juro e enxuga crédito
Próximo Texto: Dinheiro já fica mais caro para as empresas
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.