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São Paulo, quinta-feira, 20 de fevereiro de 2003

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Segundo entidade, é "insustentável" combater a inflação com juro alto; comércio critica compulsório

Para Fiesp, expansão do ano está ameaçada

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

A expansão da economia nos primeiros seis meses do ano já está comprometida e o desempenho de 2003 está "sob severa ameaça". Essa foi a posição defendida ontem pela Fiesp, a maior entidade do setor industrial do país, em relação à elevação nos juros anunciada pelo governo.
Para a federação, a atual posição do governo -de combater a inflação usando a política monetária- é "insustentável".
Representantes do varejo também criticaram a decisão e reviram -de 2% a 3% para até zero- a expansão do comércio no Estado de São Paulo em 2003.
Os setores também se colocaram contra a medida de elevação da alíquota de recolhimento do compulsório. Para a Fiesp, a decisão deixará em posição delicada "quem está em pior situação nesse momento", afirma.
Ou seja, as empresas que dependem de crédito interno e sofrem, de forma direta, os impactos da redução nos recursos disponíveis na economia.
O recolhimento compulsório é o dinheiro que os bancos são obrigados a depositar no Banco Central. Se esse volume aumenta, os bancos ficam com menos capital para empréstimo em caixa e o dinheiro passa a custar mais caro.
Aliás, os recursos já não estavam nada baratos antes da decisão de aumento nos juros, anunciada ontem. Por exemplo: para obter capital de giro, as empresas pagam agora taxa média de 4,19% ao mês. Antes da elevação de um ponto percentual, anunciada pelo Banco Central, a taxa estava em 4,12% ao mês. Os dados são da Anefac, entidade da área de finanças que faz esse tipo de pesquisa.

Dependência
Para a Fiesp, há uma excessiva dependência do atual governo em relação à política monetária, o que acaba resultando num menor crescimento da economia, inclusive no segundo semestre de 2003.
O erro, afirma Horacio Lafer Piva, presidente da federação que assinou o comunicado da entidade, está em tomar decisões com base nos reflexos a curto prazo -ou seja, na contenção imediata da inflação- e em subestimar os efeitos na atividade produtiva.
Na última reunião da entidade, diretores acreditavam numa expansão de 1,5% nas atividades industriais em 2003, assim como um crescimento no PIB (Produto Interno Bruto) próximo de 2%. As taxas podem ser revistas.
Comunicado apresentado ontem pela CNI (Confederação Nacional da Indústria), entretanto, mostra uma discordância em relação à Fiesp. A elevação nos juros, diz a CNI, é positiva por demonstrar "a disposição do governo em não dar trégua à inflação".
Para a Fiesp, o melhor caminho no combate à inflação, no entanto, não está em utilizar mecanismos da política monetária. Isso quer dizer, em mexer nas taxas de juros para reduzir a demanda dos consumidores por produtos. E, com isso, brecar a disparada da inflação.
Só o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) em janeiro ficou em 2,25%, ante 2,10% em dezembro. A taxa foi a maior no mês de janeiro desde o início do Plano Real.

Sem expansão
"A gente não imaginava que fossem elevar a taxa de recolhimento de depósito compulsório. O que eles estão fazendo é usando o que podem para segurar a inflação reprimindo ainda mais a demanda", diz Antonio Carlos Borges, diretor-executivo da Fecomercio SP (Federação do Comércio do Estado de São Paulo)
Segundo o presidente da entidade, Abram Szajman, foi preciso rever as contas de expansão do varejo após a decisão do governo. A expectativa de crescimento do comércio no ano, que era de 2% a 3%, cai para uma faixa de 0% a 1%, em faturamento real no Estado de São Paulo.
Com a alta anunciada pelo BC, a taxa de juros que o consumidor paga à loja (cada vez que compra a prazo) passará de 6,66% ao mês, em média, para 6,73% ao mês, informa a Anefac, que faz esse levantamento. Com isso, as prestações ficam mais caras, o varejo vende menos e a indústria passa a produzir menos também.
Um cenário perverso para uma economia que sofre abalos há tempos: a indústria paulista registrou retração de 1,2% em 2002. E o varejo nacional só cresceu 0,68% no mesmo ano, segundo o IBGE, que reúne dados do país.


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