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São Paulo, quinta-feira, 20 de fevereiro de 2003

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O CONTA-GOTAS FUNCIONA

BC não tem opção para deter preços e faz o correto, afirma economista

DA REPORTAGEM LOCAL

O economista-chefe do banco Boreal, Elson Teles, acredita que a política monetária do Banco Central segue na direção correta. Segundo Teles, a atividade econômica já apresenta sinais de desaceleração, mas as expectativas continuam altas, porque o mercado tende a olhar para o comportamento passado dos preços.
"Como a inflação dos últimos meses foi muito alta, teme-se uma pressão grande de repasse. É o caso dos sindicatos, que deverão brigar por aumento de salário", afirma Teles.
De acordo com o economista, para conter o temor de que surjam novos focos de pressão sobre os preços nos próximos meses, o BC não pode se mostrar leniente com a inflação. A expectativa do Boreal é que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) fique em 11% neste ano.

Folha - A política monetária está na direção certa?
Elson Teles -
Acho que está na direção certa, sim. O Banco Central sempre deixa claro que há uma defasagem da transmissão dos efeitos da política monetária para os preços, que pode levar de seis a nove meses. Como as medidas começaram em outubro, ainda temos de ter um pouco de paciência.

Folha - Já há sinais de efeito dos juros sobre a atividade econômica?
Teles -
Já estamos vendo recuo da atividade econômica, tanto no nível de produção industrial como nas vendas do comércio. O índice de confiança do consumidor também já recuou.

Folha - Se a tendência é que os preços recuem, por que novos aumentos de juros são necessários?
Teles -
A inflação ainda demonstra resistência à queda por conta da inércia inflacionária. A política monetária perde graus de eficácia quando a inflação atinge níveis muito altos. Foi o que aconteceu recentemente por causa da desvalorização do real.
O BC não tem alternativa. Tem de tentar fazer com que as expectativas do mercado voltem a convergir. Essa inércia tem a ver com o fato de que o BC estourou a meta dois anos consecutivos. O mercado olha mais para trás do que para frente. Fica desconfiado e teme que surjam novos focos de pressão.
Por tudo isso, esses aumentos de juros, que nos últimos meses somam 8,5 pontos percentuais e já representam um choque, têm sido necessários.


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