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Dólar desce ao menor valor desde 2000
Apesar da turbulência nos mercados, moeda americana acumula recuo de 2,48% no ano; ontem fechou vendida a R$ 1,733
Entre os fatores que ajudam a explicar a tendência no câmbio, está a diferença maior entre os juros no Brasil e nos Estados Unidos
FABRICIO VIEIRA
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Enquanto a Bovespa ensaia
uma recuperação, o mercado
de câmbio vive outra realidade.
O dólar desceu ontem a seu
mais baixo valor em quase oito
anos, ao fechar vendido a R$
1,733, após recuo de 0,17%. No
acumulado do ano, a depreciação da moeda americana diante
do real já alcança os 2,48%.
Ninguém considera que a crise internacional, desencadeada
pelas dificuldades no setor
imobiliário dos EUA, já foi superada. Mas quem atentar apenas para o comportamento do
real nas últimas semanas poderá ter outra impressão. Desde
março de 2000, o dólar não
operava em patamares tão baixos quanto o praticado ontem.
Alguns fatores ajudam a explicar por que a moeda norte-americana desceu aos níveis
atuais. Um deles é a diferença
entre os juros praticados no
Brasil e nos países desenvolvidos, que acaba por atrair mais
capital especulativo para o
mercado brasileiro.
Os juros americanos estão
hoje em 3% anuais e a expectativa é que caiam ainda mais
neste semestre. Já a taxa básica
brasileira está em 11,25% e espera-se que seja mantida por
um bom tempo. O investidor
estrangeiro aproveita esse cenário para captar recursos a
custos mais baixos lá fora e reaplicar em ativos brasileiros. Ele
ganha duas vezes: com o juro
maior no Brasil e com a diferença entre a taxa de câmbio de
entrada e o da eventual saída.
Para Sidnei Nehme, da corretora NGO, a tese do "descolamento", pela qual os emergentes sofreriam menos do que os
países maduros em caso de recessão nos EUA, é uma realidade para o real por conta dessa
diferença entre os juros. "Estamos vendo um descolamento
total no câmbio. Até com fluxo
negativo, como aconteceu em
janeiro, o dólar cai. A única forma de conter a queda do dólar é
reduzindo os juros", disse.
Para Mário Battistel, diretor
de câmbio da Fair Corretora, se
não houver uma piora no cenário internacional, a tendência
do dólar é cair ainda mais. "Não
ficarei surpreso se o patamar de
R$ 1,70 for rompido."
Na mínima de ontem, o dólar
foi negociado a R$ 1,728. Em
meados de janeiro, quando o
mercado passou a ficar temeroso de que os EUA poderiam ser
afetados por uma recessão, o
dólar chegou a ganhar terreno
diante do real, sendo negociado
na máxima a R$ 1,83.
A depreciação do dólar não
tem ocorrido apenas diante da
moeda brasileira. Isso tem
acontecido também em relação
à maioria das moedas emergentes, como o dólar australiano e o peso chileno.
O último boletim Focus revelou que a expectativa do mercado é a de que o dólar esteja em
R$ 1,80 no fim do ano.
De sua parte, os investidores
estrangeiros sinalizam estar
cada vez mais mais confiantes
na apreciação do real. Isso é o
que apontam as operações que
têm feito no mercado futuro de
câmbio da BM&F. Quando os
investidores realizam operações que elevam suas "posições
vendidas" em dólar, indicam
que estão confiantes na depreciação da moeda americana. E
essas posições vendidas dos estrangeiros na BM&F saltaram
de US$ 200,2 milhões no dia 21
de janeiro para US$ 4,51 bilhões agora. Ou seja, os estrangeiros têm montado cada vez
mais operações que darão lucros a eles se o dólar prosseguir
em rota de desvalorização.
Nathan Blanche, sócio da
Tendências Consultoria, afirma que, mesmo assim, o dólar
não deve recuar muito além do
atual patamar. "O câmbio atual
é de equilíbrio. Tivemos no ano
passado um fluxo de US$ 90 bilhões. Neste ano, deve cair para
US$ 35 bilhões. Está muito
mais fácil para o BC enxugar [a
liquidez no câmbio]. Não espero que tenha uma pressão no
câmbio de 17%, como a valorização do real no ano passado.
Isso tudo com uma variável nova: a crise. Se houver uma apreciação, será muito pequena em
relação a R$ 1,75", disse.
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