São Paulo, quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

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Dólar desce ao menor valor desde 2000

Apesar da turbulência nos mercados, moeda americana acumula recuo de 2,48% no ano; ontem fechou vendida a R$ 1,733

Entre os fatores que ajudam a explicar a tendência no câmbio, está a diferença maior entre os juros no Brasil e nos Estados Unidos

FABRICIO VIEIRA
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Enquanto a Bovespa ensaia uma recuperação, o mercado de câmbio vive outra realidade. O dólar desceu ontem a seu mais baixo valor em quase oito anos, ao fechar vendido a R$ 1,733, após recuo de 0,17%. No acumulado do ano, a depreciação da moeda americana diante do real já alcança os 2,48%.
Ninguém considera que a crise internacional, desencadeada pelas dificuldades no setor imobiliário dos EUA, já foi superada. Mas quem atentar apenas para o comportamento do real nas últimas semanas poderá ter outra impressão. Desde março de 2000, o dólar não operava em patamares tão baixos quanto o praticado ontem.
Alguns fatores ajudam a explicar por que a moeda norte-americana desceu aos níveis atuais. Um deles é a diferença entre os juros praticados no Brasil e nos países desenvolvidos, que acaba por atrair mais capital especulativo para o mercado brasileiro.
Os juros americanos estão hoje em 3% anuais e a expectativa é que caiam ainda mais neste semestre. Já a taxa básica brasileira está em 11,25% e espera-se que seja mantida por um bom tempo. O investidor estrangeiro aproveita esse cenário para captar recursos a custos mais baixos lá fora e reaplicar em ativos brasileiros. Ele ganha duas vezes: com o juro maior no Brasil e com a diferença entre a taxa de câmbio de entrada e o da eventual saída.
Para Sidnei Nehme, da corretora NGO, a tese do "descolamento", pela qual os emergentes sofreriam menos do que os países maduros em caso de recessão nos EUA, é uma realidade para o real por conta dessa diferença entre os juros. "Estamos vendo um descolamento total no câmbio. Até com fluxo negativo, como aconteceu em janeiro, o dólar cai. A única forma de conter a queda do dólar é reduzindo os juros", disse.
Para Mário Battistel, diretor de câmbio da Fair Corretora, se não houver uma piora no cenário internacional, a tendência do dólar é cair ainda mais. "Não ficarei surpreso se o patamar de R$ 1,70 for rompido."
Na mínima de ontem, o dólar foi negociado a R$ 1,728. Em meados de janeiro, quando o mercado passou a ficar temeroso de que os EUA poderiam ser afetados por uma recessão, o dólar chegou a ganhar terreno diante do real, sendo negociado na máxima a R$ 1,83.
A depreciação do dólar não tem ocorrido apenas diante da moeda brasileira. Isso tem acontecido também em relação à maioria das moedas emergentes, como o dólar australiano e o peso chileno.
O último boletim Focus revelou que a expectativa do mercado é a de que o dólar esteja em R$ 1,80 no fim do ano.
De sua parte, os investidores estrangeiros sinalizam estar cada vez mais mais confiantes na apreciação do real. Isso é o que apontam as operações que têm feito no mercado futuro de câmbio da BM&F. Quando os investidores realizam operações que elevam suas "posições vendidas" em dólar, indicam que estão confiantes na depreciação da moeda americana. E essas posições vendidas dos estrangeiros na BM&F saltaram de US$ 200,2 milhões no dia 21 de janeiro para US$ 4,51 bilhões agora. Ou seja, os estrangeiros têm montado cada vez mais operações que darão lucros a eles se o dólar prosseguir em rota de desvalorização.
Nathan Blanche, sócio da Tendências Consultoria, afirma que, mesmo assim, o dólar não deve recuar muito além do atual patamar. "O câmbio atual é de equilíbrio. Tivemos no ano passado um fluxo de US$ 90 bilhões. Neste ano, deve cair para US$ 35 bilhões. Está muito mais fácil para o BC enxugar [a liquidez no câmbio]. Não espero que tenha uma pressão no câmbio de 17%, como a valorização do real no ano passado. Isso tudo com uma variável nova: a crise. Se houver uma apreciação, será muito pequena em relação a R$ 1,75", disse.


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