São Paulo, domingo, 20 de março de 2005

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FORMAÇÃO DE PREÇO

Cursos ficam 226% mais caros de julho de 1994 a março de 2005, ante uma variação de 183% do IPCA

Mensalidade escolar bate inflação no Real

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Desde o lançamento do Plano Real, quem tem filhos na escola particular ou paga universidade sofreu com aumentos acima da inflação no valor da mensalidade dos cursos. O grupo educação registrou alta acumulada no período (julho de 1994 a março de 2005) de 213,80%, de acordo com levantamento do IBGE feito a pedido da Folha.
A variação supera o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) do período -183,11%. No caso específico dos cursos (colégios, universidade e cursos não-regulares), o item de maior peso no grupo educação, o aumento foi ainda maior: 225,91%.
Depois de oscilar abaixo da inflação média de 2000 a 2002, os preços dos serviços educacionais aceleraram nos dois últimos anos e voltaram a subir mais do que o IPCA, tendência que havia sido registrada nos primeiros anos do Plano Real.
Subiram 10,25% em 2003 e 10,44% em 2004 -o IPCA nesses anos foi de 9,30% e 7,60%, respectivamente. O grupo alimentação, nos mesmos períodos, avançou bem menos -7,48% e 3,86%.
Segundo Eulina Nunes dos Santos, gerente de Índices de Preços do IBGE, os reajustes mais intensos ficaram concentrados nos primeiros anos do Plano Real, quando houve um forte movimento de recomposição de preços.
"Houve um ganho [de margens] naquele período. No começo do Real, os serviços como um todo subiram mais do que outros bens", afirma. Em 1995, enquanto o IPCA ficou em 22,41%, o grupo educação subiu 40,08%.
Nos dois últimos anos, diz ela, os dissídios mais altos impulsionaram as mensalidades. É que, por causa do choque cambial de 2002, provocado pelas eleições presidenciais, a inflação disparou e elevou os reajustes salariais do ano seguinte.
Em abril de 2003, mês que concentra a maior parte das datas-bases de professores, o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) acumulado em 12 meses bateu em 19,36%, carregando o impacto da crise cambial de 2002.
"Educação é mais ou menos como um preço administrado. Seu reajuste é definido por um contrato e carrega a inflação do passado. Em 2003, o aumento foi por causa da correção dos salários", afirma Nunes dos Santos.

Sem desconto
Representantes de colégios e universidades dizem que foram os dissídios de 2003 que puxaram os reajustes das mensalidades para cima naquele ano e em 2004. Afirmam ainda que a metodologia do IBGE não captura os descontos nas mensalidades.
Carlos Thadeu de Freitas Filho, economista do Grupo de Conjuntura da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), diz que boa parte da pressão sobre o grupo educação teve origem no repasse de custo dos serviços públicos, que em toda a história do Real aumentaram mais do que a inflação média. Cerca de 30% dos custos fixos dos colégios são com energia, luz, água e telefone e outros serviços.
"Os itens de educação sofrem com a forte indexação que ainda persiste na economia brasileira", afirmou o economista.

Boa notícia
A boa notícia é que em 2005 tais pressões não devem se repetir com a mesma força. É que nem tarifas públicas nem salários de professores e demais profissionais de ensino subirão nos mesmos níveis de anos anteriores.
Os dados já revelam tal situação. Segundo o IBGE, o grupo educação registrou inflação de 5,28% em fevereiro, mês que praticamente concentra todos os reajustes de mensalidades. Em 2004, a variação havia sido maior: 6,70%. No caso dos cursos, o aumento foi de 6,29%, ante 8,11% em igual mês de 2004.
De todos os serviços educacionais, o que teve o maior reajuste foi o curso de primeiro grau, com alta de 8,10% em fevereiro deste ano. Em seguida, ficou o curso de segundo grau, que sofreu um reajuste de 7,88%. A creche teve alta de 7,13%.
Na ponta dos menores aumentos, ficaram os cursos diversos (3,53%) e o curso de terceiro grau (5,60%). A maior parte dessas categorias havia tido variações maiores no ano passado.
Na conta do IBGE para chegar à inflação das despesas com educação, também entra o material escolar. O livro didático aumentou 1,62%. Os artigos de papelaria tiveram alta de 1,83% -o caderno subiu 2,47%.


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