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'FALCÃO' NO BIRD
Indicado por Bush para comandar o Banco Mundial quer fugir da imagem difundida de linha-dura
Wolfowitz diz conhecer combate à pobreza
DO ""FINANCIAL TIMES"
Sob circunstâncias diferentes,
Paul Dundes Wolfowitz, o secretário-adjunto da Defesa dos EUA,
seria uma opção muito menos
polêmica para ocupar a presidência do Banco Mundial. O homem
que George W. Bush costuma
chamar de "Wolfie" já ocupou diversos cargos diplomáticos e de
segurança nacional sob seis presidentes diferentes, dirigiu uma
prestigiosa escola de política externa e vários setores da burocracia governamental e tem mais experiência de vida em países em
desenvolvimento do que qualquer presidente anterior do Banco Mundial.
Mas as circunstâncias sempre
vêm ao caso. Wolfowitz, indicado
por Bush para a presidência do
banco na semana passada, foi a
principal força intelectual por trás
da invasão do Iraque, a mais controversa guerra travada pelos Estados Unidos desde o Vietnã. Ele
também vem sendo o mais veemente defensor do uso ousado de
força militar para escorar regimes
tirânicos, de tal modo que -com
ou sem razão- conquistou fama
internacional de fanático.
Dentro dos EUA, o sumo sacerdote dos chamados ""Vulcanos"
-o apelido dado ao pequeno
grupo de assessores de Bush para
a área da segurança durante a
campanha eleitoral presidencial
de 2000, que incluía a atual secretária de Estado, Condoleezza Rice- passou os últimos dois anos
defendendo-se diante do Congresso e outros setores em função
das previsões otimistas que traçou para a Guerra do Iraque. Antes da invasão americana, Wolfowitz previu que os iraquianos
iriam receber as forças americanas de braços abertos.
Seu otimismo efervescente também ficou claro pela maneira despreocupada como desprezou a
opinião manifestada por Eric
Shinseki, ex-chefe do Estado-Maior do Exército americano, para quem os EUA precisariam de
algumas centenas de milhares de
homens no Iraque. Para os críticos, esse erro de cálculo resultou
em mais mortos americanos, à
medida que as forças da coalizão
foram tendo dificuldade em derrotar a insurgência obstinada.
Os críticos da indicação de Wolfowitz para a presidência do Banco Mundial questionam se ele poderá facilmente transferir sua
atenção da administração Bush e
da prioridade que ela atribui à
guerra contra o terror para o conselho de direção de um banco cujos 184 países-membros travam
uma guerra contra a pobreza. Sua
independência pode acabar comprometida pela força dos vínculos
que ele possui com os círculos internos da administração Bush,
conforme evidenciados claramente em uma foto pendurada na
parede de seu gabinete, mostrando Wolfowitz entre o secretário
de Defesa, Donald Rumsfeld, e o
vice-presidente e ex-secretário de
Defesa Dick Cheney. Este último
rabiscou sobre a foto: "Paul,
quem é o melhor secretário da
Defesa para quem você já trabalhou? Dick".
O poder do presidente do Banco
Mundial é limitado pelo conselho
executivo, que tem poder decisório em questões políticas e de concessão de empréstimos, e os países do G7, que regem a governança do banco. Mas a presidência do
Banco Mundial também proporciona a quem a ocupa um ótimo
púlpito desde o qual difundir suas
idéias. James Wolfensohn, o presidente que está de saída, encontrou oposição dentro e fora do
banco, mas mesmo assim deixou
sua marca própria sobra a discussão do desenvolvimento, na qual
enfatizou o combate à corrupção
e o alívio da dívida dos países pobres. Wolfowitz pode optar por
usar o cargo para promover a
pauta de prioridades dos EUA.
Para seus críticos no Banco
Mundial, a questão é se eles vão
conseguir encontrar meios de trabalhar com um homem que afirma compreender que não vai
mais estar trabalhando para os
EUA e que estará pronto para ouvir. Embora Wolfowitz não seja
elogiado por suas credenciais
multilateralistas -ele aprovou
uma política que impediu países
não participantes da coalizão liderada pelos EUA de participar das
licitações para obras de reconstrução no Iraque-, ele afirma conhecer em primeira mão a necessidade de cooperação multilateral
para combater a pobreza.
Experiência
Respondendo às críticas de que
lhe falta experiência na área das finanças e do desenvolvimento,
Wolfowitz observa que a fase durante a qual foi embaixador dos
EUA na Indonésia, no final dos
anos 1980, lhe proporcionou uma
base em questões ligadas ao desenvolvimento. "Não sou diletante", afirmou em entrevista concedida ao "Financial Times".
Wolfowitz diz que ajudou para
que fosse encontrado um consenso entre interesses conflitantes na
Embaixada dos EUA em Jacarta.
Ex-diretor da Escola de Estudos
Internacionais Avançados da
Universidade Johns Hopkins, em
Washington, ele observa ironicamente que administrar acadêmicos pode ser "como pastorear gatos e cangurus juntos".
Um ex-assessor do Congresso
que trabalhou com Wolfowitz diz
que ele é uma das figuras de Washington mais injustamente caricaturada e que, com freqüência,
acaba levando a culpa por decisões tomadas por Dick Cheney ou
Donald Rumsfeld. Como embaixador dos EUA, Wolfowitz causou boa impressão a muitas pessoas na Indonésia, onde, segundo
um de seus assessores, ganhou
muitos "fãs vitalícios".
Nem todo mundo concorda. O
primeiro-ministro de Timor Leste, Mari Alkatiri, disse que os países mais poderosos do mundo
-excluindo os EUA- precisam
analisar seriamente o apoio que
podem dar à indicação de Wolfowitz, tomando nota de sua proximidade com o regime do presidente Suharto, que governou a Indonésia com mão de ferro por três
décadas.
Ao longo de sua carreira no governo, Wolfowitz vem combatendo a imagem que possui de ser
um teórico extremamente inteligente, mas administrador não tão
eficiente. Muitos fontes internas
do Pentágono dizem que ele é
pouco capaz como administrador, o que tradicionalmente é o
papel principal do vice. Mas seus
defensores dizem que Rumsfeld
inverteu a estrutura tradicional,
conferindo o papel estratégico a
seu vice.
O paralelo mais evidente à indicação de Wolfowitz ao Banco
Mundial é Robert McNamara, o
ex-secretário de Defesa que deixou o Pentágono antes do fim da
Guerra do Vietnã para presidir o
Banco. McNamara foi uma escolha controvertida, mas ele chegou
ao fim de seus 13 anos de mandato com sua reputação até certo
ponto restaurada.
Será que Wolfowitz enxerga algum paralelo entre seu caso e o de
McNamara? "Não. Para começo
de conversa, não costumo me enxergar nos diversos moldes nos
quais as pessoas querem me encaixar. Uma coisa que sei sobre
McNamara e à qual espero me
equiparar é que, ao que consta, ele
foi alguém que realmente cuidou
bem do lado administrativo do
banco." Wolfowitz nega que esteja buscando uma saída de uma
guerra controversa. "Não faço
idéia de por que ele foi ao banco.
Sei que eu não estou indo para lá
para escapar da controvérsia."
Tradução de Clara Allain
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