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ARTIGO
Educação e democracia
IBERÊ Z. BANDEIRA DE MELLO
Aloizio Mercadante, em artigo
na Folha (Dinheiro, 8 de fevereiro), no afã de atacar o governo
Mário Covas, criticou o sorteio de
vagas para o segundo grau da rede
escolar do Estado. Afirmou: "Distribuir vagas nas escolas" (por sorteio) "é um escândalo inaceitável",
mas não apresentou nenhuma alternativa ao sorteio adotado pela
Secretaria da Educação. Tão-somente lembrou que sua carreira
(assim como a de alguns de seus
familiares) deveu-se ao fato de ter
estudado numa escola pública em
Santos -o colégio Canadá.
De certo o colégio Canadá foi, e
deve ser ainda, uma boa escola.
Mas o ex-deputado deixou de lado
um detalhe importante: era uma
boa escola para poucos. Sou santista por adoção e sei que, na minha época, o estudo naquele educandário era uma aspiração de todos os pais com filhos na idade escolar.
Assim, o espantoso é que, nessa
relembrança nostálgica, Mercadante não tenha assinalado o seu
privilégio, pois milhares de estudantes santistas não ingressaram
nesse ginásio e foram obrigados a
pagar escolas particulares, nem
sempre de boa qualidade.
Mais espantoso ainda é o fato de
Mercadante implicitamente apresentar o privilégio que desfrutou
(não gozado por várias gerações
de estudantes santistas, excluídos
pelos exames de admissão) como
uma alternativa ao sorteio de vagas.
Felizmente, o panorama do ensino fundamental hoje em São Paulo é bem diferente. Não menos que
520 mil alunos foram matriculados nas escolas estaduais de suas
preferências para cursar o segundo grau. Contudo, 83 mil candidatos escolheram determinadas escolas em que o número de vagas
era menor que o de pretendentes,
embora na rede das escolas estaduais na capital sobrassem 95 mil
vagas.
Como, então, distribuir esses 83
mil alunos pelas escolas que ainda
dispunham de vagas? Impondo a
odiosa discriminação social e cultural dos vestibulinhos? Ou recorrendo ao impessoal e democrático
sistema de sorteio para realocar
esses 83 mil, ou 14% da clientela,
entre as 95 mil vagas disponíveis?
O governador Covas e a secretária
Rose Neubauer encaram a educação pública com seriedade. Vejamos alguns fatos. A duração da
aula passou a ser de 50 minutos
corridos, com dez minutos para
deslocamentos de alunos e/ou
professores entre as salas de aula.
"Mas por que só agora?", perguntaria o leitor. Porque a nova
carreira para o magistério, recentemente aprovada pela Assembléia Legislativa depois de amplamente discutida com a categoria,
permite enorme racionalização de
recursos físicos e materiais, sem
reduzir a carga horária de ensino
na sala de aula.
A carreira beneficia todos os
profissionais do magistério, ativos
e aposentados, incorpora gratificações aos seus salários-base e traz
uma jornada de trabalho mais
adequada. Os professores podem
organizar melhor sua jornada; enxuga-se o número de aulas e, portanto, reduz-se de forma expressiva o número de professores
não-habilitados, sem a capacitação necessária para o ensino.
Vale lembrar também que, nesta
gestão, mais de 4,5 milhões de
crianças passaram a ter cinco horas de aulas todos os dias -e não
quatro horas, como antes. Isso
equivale a ampliar em 25% o número de aulas ministradas da 1ª à
4ª série, ou a um ano a mais de
escolaridade. E mais: a separação
de crianças e adolescentes em prédios-escolas diferentes produziu
um enorme ganho de eficiência.
Foi com as escolas reorganizadas
e a grande quantidade de materiais
pedagógicos adquiridos com os
recursos enviados pelo governo
que aconteceu a criação das salas-ambiente, com ganhos pedagógicos significativos, particularmente no ensino de ciências, história e geografia.
Quanto aos professores, há que
ressaltar que nenhum deles em
São Paulo recebe hoje menos do
que 5,4 salários mínimos por 40
horas semanais de trabalho e que
os salários médios dos educadores
paulistas registraram aumentos de
até 81,57%, descontada a inflação
do período. Mais: o governo do
Estado proporcionou cursos de
capacitação em serviço a 75 mil
professores da rede, ministrados
por universidades e instituições de
alto nível.
Com uma escola atraente e eficiente, nada mais justo do que esperar a redução da evasão escolar
e o aumento nas taxas de aprovação dos alunos de nossas escolas
públicas estaduais. De fato, com
83,8% de índice de aprovação e
7,6% de índice de evasão no ensino fundamental, São Paulo tem
hoje os melhores indicadores das
últimas décadas na rede pública. E
95% das crianças e jovens de 7 a 14
anos do Estado frequentam escola
-o mais alto índice do país.
Iberê Z. Bandeira de Mello, 58, advogado, foi
secretário de Negócios Extraordinários da Prefeitura de São Paulo (gestão Mário Covas) e
membro do Conselho Estadual e Federal da
OAB.
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