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LUÍS NASSIF
O relatório McKinsey e a economia
O relatório McKinsey sobre
produtividade na indústria
brasileira pode se constituir em
marco na história econômica
do país. Levará tempo para que
todas as conclusões possam ser
assimiladas. Mas, pela primeira vez, dá-se conteúdo científico a fenômenos que vinham
sendo apontados por analistas
mais ligados à observação da
realidade.
Há três conclusões do relatório -antecipados na última "Veja"--, que corroboram a visão
desses analistas que conseguiram escapar da armadilha do
macro-economismo:
* Apenas com a reorganização dos métodos de trabalho, a
produtividade poderá aumentar em 34%. É a constatação
científica dos avanços proporcionados por programas de
qualidade total.
* A redução do custo dos
equipamentos e do dinheiro
permitirá, por si, um salto
equivalente a 4% do PIB nos
investimentos. Na semana passada a própria Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas
(FIPE) da Universidade de São
Paulo terminou trabalho demonstrando que a desoneração
de impostos na exportação na
média equivaleria a uma desvalorização cambial da ordem
de 17%.
* O baixo nível de escolaridade dos trabalhadores brasileiros não é empecilho para o desenvolvimento. A Xerox do
Brasil conquistou prêmio internacional de qualidade no
atendimento ao consumidor
através de um programa onde
os trabalhadores atendiam a
todas as dúvidas apresentadas
pelos clientes sem recorrer a
um manual sequer -apenas se
informando sobre os problemas junto aos respectivos setores.
Avanço no software
Em suma, o relatório demonstra que grande parte de
avanços de produtividade, na
maioria dos setores, depende
apenas de "software" -melhores
processos gerenciais, programas de qualidade, treinamento dos trabalhadores, capacidade de se relacionar na cadeia produtiva, assim como redução do custo Brasil.
Em geral a análise macro-econômica convencional associa a capacidade de crescimento de uma economia apenas ao
nível de investimento em ativos fixos.
Em 1995 a indústria calçadista tanto de Birigui quanto de
Franca estavam quebradas.
Em 1997, Birigui saía do buraco e Franca não. A diferença
entre ambos não está nos investimentos, mas em um trabalho desenvolvido em Birigui,
entre cerca de trinta empresas,
procurando formas de atuação
em comum, implantando programas de qualidade, buscando a cooperação dos fornecedores e de organizações empresariais (como o Sebrae) para
avançar no mercado externo.
Em dez anos a Itália passou
de economia em crise para economia dinâmica. Pelos índices
macro-econômicos convencionais (investimento/PIB, investimento em pesquisa e desenvolvimento etc.) seria um fracasso. Venceu por conta desse
associativismo objetivo e da
criação de um ambiente cultural favorável à inovação empresarial.
No lado oposto, a vigorar os
conceitos clássicos de macro-economia, a Coréia era para ser
a mais competitiva economia
do planeta, graças aos seus níveis de investimento. E, no entanto, embora trazendo desenvolvimento, acabou resultando
em um super-investimento que
precipitou a própria crise coreana.
Não significa que se devam
negligenciar os investimentos
nem a educação, nem se esmorercer na luta pela redução
desse nível estúpido de taxas
de juros. Significa que, para
efeito da análise macro-econômica, há que se considerar novos insumos na economia
mundial, tão importantes
quanto o nível físico de investimentos.
Economia e ciência
Da coluna de 17 de dezembro
passado: "A renovação da análise econômica nacional vai
passar pela capacidade dos jovens economistas fugirem dos
manuais, reaprenderem a pensar de maneira sistêmica e a
trabalhar realidades complexas. Ampliar o escopo de conhecimento, trafegar pela micro-economia, pelas novas técnicas gerenciais, pelas realidades regionais e setoriais, pelos
mercados financeiro e monetário, pela política e pela análise
psico-social não é dispersão de
esforços: é condição essencial
para entender a economia e
fazer, de fato, ciência".
E-mail: lnassif@uol.com.br
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