São Paulo, Terça-feira, 20 de Abril de 1999
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CONTAS PÚBLICAS
Resultado trimestral -excluindo gastos com juros- foi anunciado em Londres pelo presidente da República
União tem superávit de R$ 7 bilhões

CLÓVIS ROSSI
enviado especial a Londres

O presidente Fernando Henrique Cardoso anunciou ontem, em Londres, que o superávit fiscal obtido pela União no primeiro trimestre do ano foi de R$ 7 bilhões, superior à meta constante no memorando de entendimento assinado com o FMI.
O resultado significa que a União, incluindo a Previdência, arrecadou R$ 7 bilhões a mais do que gastou. O número exclui os juros sobre a dívida interna e os resultados de Estados e de estatais.
O número foi transmitido ao presidente no domingo à noite, pelo ministro da Fazenda, Pedro Malan, e festejado por ele porque lhe permitiu mostrar aos empresários britânicos com os quais se reuniu ontem à tarde que o compromisso que o governo assegura ter com o ajuste fiscal "é mais claro que as minhas belas palavras".
O presidente lembrou que, no trimestre final do ano passado, após, portanto, a crise da Rússia, o governo tivera que fazer um enorme esforço para obter um superávit de entre R$ 5 bilhões e R$ 6 bilhões, nível agora superado.
A política do governo assenta-se, precisamente, na obtenção de superávits fiscais para poder, a um só tempo, pagar os juros da dívida interna e ainda amortizar parte dela.
É a forma de demonstrar que a relação entre a dívida e o PIB (Produto Interno Bruto, medida da renda nacional) não vai se tornar inadministrável. Os investidores externos temeram, no auge da crise, que isso ocorresse, o que levaria o país a uma moratória da dívida interna, parte dela em mãos de estrangeiros.
Por isso, o "compromisso" de FHC com o ajuste fiscal foi o eixo da sessão (fechada aos jornalistas) em que o presidente debateu o quadro econômico com um grupo de 11 empresários britânicos.
Mais tarde, ao sair de encontro com o primeiro-ministro Tony Blair, o presidente disse aos jornalistas que expressara aos empresários sua "determinação pessoal de fazer o ajuste fiscal, até porque o combate à inflação é fundamental para o Brasil, mas é também para mim, porque toda a minha política, desde que fui ministro da Fazenda, foi a de dar estabilidade ao país. Não iria, agora, perder a vantagem que o Brasil conseguiu".
Blair, por sua vez, ao menos na versão transmitida por seu colega brasileiro, manifestou satisfação "com o fato de o Brasil estar ultrapassando as dificuldades, o que evitou o contágio nas outras economias sul-americanas".

Confiança
Pouco modesto, FHC disse ainda que o premiê britânico demonstrara "mais confiança no governo e no presidente do Brasil do que as dúvidas" manifestadas em recentes artigos tanto do jornal "Financial Times" como da revista "The Economist".
A revista suspeita que as CPIs (Comissões Parlamentares de Inquérito) em andamento no Senado sobre os bancos e sobre o Judiciário possam desviar a atenção das reformas.
O presidente acha que "não é o que vai acontecer", até porque as CPIs correm no Senado, e as reformas, na Câmara.
"CPI tem que ser encarada com tranqüilidade, não com sobressalto. O governo nada tem a esconder nem a temer", completou.
Na palestra aos empresários,FHC voltou a fazer previsões otimistas sobre a economia brasileira, mais ou menos como ocorrera durante sua exposição ao empresariado alemão, na quinta-feira.
A estes, chegara a prever crescimento da economia brasileira ainda este ano, por mais que o memorando de entendimento com o FMI fale em queda de 3,5% a 4%.
Aos britânicos, FHC limitou-se a dizer que "há até quem fale em crescimento", mas não assumiu ele próprio a previsão.


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