São Paulo, Terça-feira, 20 de Abril de 1999
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POLÍTICA ECONÔMICA
Presidente sugere criação de novo foro de coordenação, com participação do Brasil, para que decisões possam ser mais representativas
FHC propõe a Tony Blair a ampliação do G-7

do enviado especial a Londres

O presidente Fernando Henrique Cardoso defendeu ontem junto ao primeiro-ministro britânico, Tony Blair, a criação de um novo foro de coordenação de políticas econômicas, maior que o G-7, mas menor que o G-22.
O G-7 é o clube exclusivo dos sete países mais ricos do mundo, com uma longa tradição de coordenação de políticas, especialmente cambiais. O G-22 é um grupo ainda informal, que reúne, além dos sete do G-7, 15 países em desenvolvimento, Brasil inclusive.
Para FHC, o G-7 (ou G-8, pois hoje inclui também a Rússia) "já não é um foro adequado", e o G-22 é grande demais. Sugeriu algum número intermediário entre 8 e 22, "para que as decisões possam ser mais representativas".
À Folha, o presidente indicou 15 como o número talvez ideal para compor tal foro.
Pela versão do encontro transmitida aos jornalistas pelo embaixador do Brasil em Londres, Rubens Barbosa, Blair é receptivo à idéia.
É claro que a proposta de FHC visa inserir o Brasil nos organismos que de fato decidem. Parece, mas não é megalomania.
Há três anos, durante reunião do G-7 em Lyon (França), o presidente francês Jacques Chirac, também apoiou a ampliação do grupo, e chegou a mencionar o Brasil entre os que deveriam participar.
No encontro com Blair, FHC apoiou, por sua vez, proposta britânica para a criação de um Foro de Estabilidade Fiscal, recentemente endossada pelo FMI.
Trata-se, na essência, de um ponto de encontro no qual técnicos da área econômica discutam meios de tornar mais transparentes as operações financeiras internacionais, os movimentos de capitais e as informações sobre o desempenho de cada país.
Já aos empresários britânicos com os quais se reunira antes, FHC retomou antiga tese do mitológico economista John Maynard Keynes no sentido de se criar o verdadeiro banco central dos bancos centrais.
Seria o organismo adequado, achava Keynes e acha agora FHC, para, por exemplo, injetar dinheiro na economia global, quando necessário, ou enxugá-lo, para evitar inflação, quando preciso.
Todas essas idéias complementam preocupação de FHC desde que tomou posse: o excesso de capitais que cruzam fronteiras todos os dias (um volume avaliado pelo BIS em impressionantes US$ 1,4 trilhão) é capaz de desestabilizar qualquer economia.
Aliás, FHC defendeu, perante os empresários, "algum tipo de controle internacional" sobre tais fluxos, mas não entrou em detalhes.
Enquanto os novos foros não se materializam, o presidente brasileiro terá que se contentar com uma instância puramente política: foi convidado por Blair para participar em junho de uma reunião para discutir a "Terceira Via", um caminho intermediário entre o liberalismo puro e as antigas teorias estatizantes da social-democracia. Aceitou. (CLÓVIS ROSSI)




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