São Paulo, sexta-feira, 20 de maio de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

RECEITA ORTODOXA

Governo não dá garantia de que reivindicação para que órgão tenha até nove membros vá ser acolhida

Conselhão propõe a Lula mudança do CMN

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em reunião dominada por críticas à política econômica, o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social aprovou, por larga maioria, uma moção para que sejam incluídos representantes da sociedade no CMN (Conselho Monetário Nacional), órgão cuja principal atribuição é fixar as metas de inflação.
Os conselheiros, entretanto, não obtiveram do governo garantia oficial de que a reivindicação vá ser acolhida. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) não participaram do encontro.
O documento aprovado recomenda a Lula ampliar o CMN de três para até nove membros, assegurada a maioria ao governo. Só oito votos contrários foram identificados -estavam presentes 85 dos 90 conselheiros, mas nem todos votaram, e o placar não foi registrado. Apesar da maioria folgada, o resultado aparentemente ficou aquém das expectativas do ministro Jaques Wagner (Conselhão), que havia redigido e distribuído a moção com o trecho "Os conselheiros, por unanimidade, recomendam".
Responsável por conduzir a reunião e favorável à ampliação do CMN, Wagner tentou evitar, em vão, que as discussões ficassem concentradas na política de juros do Banco Central, conseqüência das metas de inflação.
O ministro também disse que Palocci e o presidente do BC, Henrique Meirelles, preferem o formato atual do CMN, composto por eles próprios e o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo -o único presente à reunião, que deixou antes do final.
"Estamos discutindo se a única verdade que vai prevalecer é a de três ministros", disse o consultor Antoninho Marmo Trevisan, que defendeu a abertura da "caixa-preta da política monetária".
O discurso mais veemente contra a proposta foi do conselheiro Roberto Setubal, do Itaú. "Estamos colocando em risco a maior conquista do Brasil nos últimos dez anos [o controle da inflação]. Estamos indo na contramão da história, dos países desenvolvidos, que despolitizaram totalmente a política monetária."
A intervenção irritou parte dos defensores da ampliação do CMN. "Fica parecendo que a economia é uma ciência exata, e não existe fórmula única em economia", disse o presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), deputado Armando Monteiro (PTB-PE).
Mesmo contrário à moção, o empresário Jorge Gerdau Johannpeter, do grupo Gerdau, não deixou de criticar os juros, elevados para 19,75% ao ano anteontem.
Antes das críticas, numa reunião à tarde com empresários do setor de radiofusão, Palocci defendeu a política econômica.
"Toda vez que a inflação saiu do controle, não foi o ministro que pagou o descontrole, foi a população mais pobre, porque perde renda com a inflação."
(GUSTAVO PATU)


Texto Anterior: Produção: Governo anuncia suspensão de tributos
Próximo Texto: Furlan vê menos competitividade com juros altos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.