|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FINANÇAS
Presidente do BC diz que modelo atual serve para reter dólares e que são as exportações, não os juros, que valorizam o real
Meirelles defende mudanças no câmbio
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
O presidente do Banco Central,
Henrique Meirelles, disse ontem
que chegou o "momento de o
Brasil repensar suas normas cambiais", criadas no passado para
"reter" dólares no país, quando
havia escassez da moeda, diferentemente do que ocorre hoje.
Para Meirelles, porém, a atual
abundância de dólares no Brasil
-que provoca a queda da cotação- não tem relação com as altas taxas de juros, que atraem investidores estrangeiros e irrigam
o mercado com a moeda americana. O motivo, segundo ele, é o
grande fluxo de entrada de divisas
por causa da alta das exportações.
"Os fluxos de moeda externa no
Brasil estão altamente influenciados pelo saldo comercial e pelo investimento direto", afirmou Meirelles, em palestra no Congresso
do Ibef (Instituto Brasileiro de
Executivos de Finanças).
Segundo o presidente do BC,
"fala-se muito" sobre "até que
ponto as taxas de juro no Brasil
atraem muito capital", reduzindo
a cotação do dólar.
Saldo comercial
Em 12 meses até abril, o saldo
comercial estava em US$ 45 bilhões. São justamente os exportadores os maiores críticos da desvalorização do dólar, que reduz a
rentabilidade das vendas externas.
Para conter o recuo do dólar, o
presidente do BC defendeu a alteração na legislação que regula o
câmbio. "O Brasil teve durante
muitas décadas uma estrutura
normativa que visava reter dólares no país. O que acontece é que
hoje está numa situação totalmente inversa [de excesso de dólares]", avalia.
Quase tudo que estava a alcance
do BC, diz Meirelles, já foi feito,
como unificar os mercados de
câmbio no início de 2005. A maior
parte das mudanças agora, diz,
tem de ser na legislação vigente.
Meirelles disse ainda que já tramita no Congresso proposta de
alterar a estrutura normativa do
mercado de câmbio. Uma das
idéias em análise, diz, é permitir
aos exportadores a manutenção
de contas em dólar no exterior ou
mesmo no Brasil -possibilidade
que gera ainda dúvidas sobre sua
legalidade no âmbito da regulamentação do Sistema Financeiro
Nacional. "É uma discussão pertinente e válida, mas não há decisão
ainda tomada", disse o presidente
do BC.
Atualmente, todo exportador
tem de trazer os dólares para o
país e convertê-los obrigatoriamente em real mesmo que tenha
de pagar em seguida uma importação em moeda norte-americana, o que o faz ir novamente ao
mercado para trocar os reais obtidos na exportação por dólares. Isso aumenta os custos com intermediação financeira.
Na avaliação de Meirelles, há
ainda "uma correlação" entre a
queda do risco país e a apreciação
do real.
Em sua palestra, Meirelles fez
ainda uma defesa da política monetária do BC, dizendo que "o
Banco Central, em qualquer país
do mundo, principalmente nos
que adotam o regime de metas de
inflação, não tem tanta latitude
quanto parece para determinar a
taxa de juros".
De acordo com Meirelles, a definição da taxa está relacionada ao
comportamento das taxas de juros futuras (180 e 360 dias), projetadas pelo mercado de acordo
com a expectativa de inflação.
"Essa é a taxa que influencia a
atividade econômica. Em qualquer lugar do mundo em que o
Banco Central baixou artificialmente as taxa de juros, o mercado
subiu as taxas porque previa um
aumento de inflação, o que levou
a contração econômica. Por isso
temos de nos ater à realidade",
afirmou.
Segundo Meirelles, não há nenhuma "distorção" no fato de os
juros futuros estarem mais baixos
do que a taxa básica Selic. "É absolutamente o que deveria ser
num momento em que a inflação
está convergindo para as metas."
Texto Anterior: Computação: Dell substituirá chip da Intel Próximo Texto: Análise: Prazo maior para trazer dólar deve ter efeito nulo no câmbio Índice
|