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ANÁLISE
Prazo maior para trazer dólar deve ter efeito nulo no câmbio
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Apesar de ser uma reivindicação do setor exportador
para diminuir a valorização do
real ante o dólar, a maior liberdade para trazer ao país o dinheiro
obtido com vendas de produtos lá
fora -com o fim ou aumento do
prazo máximo atual de 210 dias-
dificilmente terá o efeito alardeado pelos empresários na taxa de
câmbio.
Desde o ano passado, quando
esse prazo foi elevado de 180 para
210 dias a fim de tentar diminuir a
oferta de dólares no país, a experiência mostrou que os exportadores continuaram internalizando o dinheiro rapidamente. A
maioria não espera nem 40 dias,
segundo um levantamento de
bancos que operam com câmbio.
Um dos motivos é que setores
produtivos estão descapitalizados
e precisam recorrer a instrumentos de apoio à exportação. Na prática, essas linhas de financiamento, conhecidas como ACC, ACE
ou pré-pagamento, permitem receber antecipadamente de uma
instituição financeira no país o
valor acertado com o estrangeiro
que irá adquirir sua mercadoria.
Com isso, é possível antecipar
em até 540 dias o recebimento do
dinheiro. No caso das operações
de pré-pagamento, as grandes
empresas exportadoras podem
antecipar uma receita que só viria
em três, cinco ou dez anos, por
exemplo.
Como o dólar está em baixa, o
real se valoriza e os juros no Brasil
são muito elevados, os exportadores utilizam esses mecanismos de
apoio ao comércio exterior, recebem o equivalente em reais e ganham um rendimento extra aplicando os recursos aqui no mercado financeiro.
Além disso, segundo o ex-diretor de Política Monetária do Banco Central Luiz Fernando Figueiredo, ampliar ou liberar o prazo
não significará que os exportadores trarão para o país um volume
menor de moeda estrangeira ao
longo do tempo.
Redução de custo
A grande vantagem da medida
estará na redução do custo daqueles que utilizam insumos e matéria-prima importada para produzir sua mercadoria. Isso porque
ele poderá deixar o dólar recebido
pela exportação lá fora, quitar sua
dívida com o importador e internalizar somente a diferença.
Hoje, ele precisa trazer o dinheiro e depois enviar novamente um
pagamento ao exterior. A realização dessas remessas tem um custo
que pode chegar a 4% das transações, segundo a Fiesp.
Mas esse benefício não valeria
para os pequenos exportadores,
que não importam tantos insumos ou simplesmente não usam
nenhum componente de fora na
sua cadeia produtiva. O beneficio
maior, nesse caso, ficaria com as
grandes empresas.
Para Figueiredo, a liberdade para o exportador deixar os dólares
recebidos lá fora aumentaria sua
eficiência. "O efeito na cotação da
moeda estrangeira seria nulo."
Ainda assim, o mercado financeiro viveu dias de estresse nesta
semana. Mas o motivo foram as
especulações de que o governo
poderia partir para medidas consideradas "um retrocesso": como
a instituição de uma quarentena.
Com isso, o investidor que viesse a aplicar no Brasil não poderia
sair antes de um determinado período. Isso serviria para inibir a
entrada de dólares. "O câmbio está subindo em parte por essas especulações. O governo diz que é
favorável ao câmbio flutuante,
mas dá sinais de que pode adotar
medidas mais duras na canetada", criticou.
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