São Paulo, sábado, 20 de maio de 2006

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ANÁLISE

Prazo maior para trazer dólar deve ter efeito nulo no câmbio

SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Apesar de ser uma reivindicação do setor exportador para diminuir a valorização do real ante o dólar, a maior liberdade para trazer ao país o dinheiro obtido com vendas de produtos lá fora -com o fim ou aumento do prazo máximo atual de 210 dias- dificilmente terá o efeito alardeado pelos empresários na taxa de câmbio.
Desde o ano passado, quando esse prazo foi elevado de 180 para 210 dias a fim de tentar diminuir a oferta de dólares no país, a experiência mostrou que os exportadores continuaram internalizando o dinheiro rapidamente. A maioria não espera nem 40 dias, segundo um levantamento de bancos que operam com câmbio.
Um dos motivos é que setores produtivos estão descapitalizados e precisam recorrer a instrumentos de apoio à exportação. Na prática, essas linhas de financiamento, conhecidas como ACC, ACE ou pré-pagamento, permitem receber antecipadamente de uma instituição financeira no país o valor acertado com o estrangeiro que irá adquirir sua mercadoria.
Com isso, é possível antecipar em até 540 dias o recebimento do dinheiro. No caso das operações de pré-pagamento, as grandes empresas exportadoras podem antecipar uma receita que só viria em três, cinco ou dez anos, por exemplo.
Como o dólar está em baixa, o real se valoriza e os juros no Brasil são muito elevados, os exportadores utilizam esses mecanismos de apoio ao comércio exterior, recebem o equivalente em reais e ganham um rendimento extra aplicando os recursos aqui no mercado financeiro.
Além disso, segundo o ex-diretor de Política Monetária do Banco Central Luiz Fernando Figueiredo, ampliar ou liberar o prazo não significará que os exportadores trarão para o país um volume menor de moeda estrangeira ao longo do tempo.

Redução de custo
A grande vantagem da medida estará na redução do custo daqueles que utilizam insumos e matéria-prima importada para produzir sua mercadoria. Isso porque ele poderá deixar o dólar recebido pela exportação lá fora, quitar sua dívida com o importador e internalizar somente a diferença.
Hoje, ele precisa trazer o dinheiro e depois enviar novamente um pagamento ao exterior. A realização dessas remessas tem um custo que pode chegar a 4% das transações, segundo a Fiesp.
Mas esse benefício não valeria para os pequenos exportadores, que não importam tantos insumos ou simplesmente não usam nenhum componente de fora na sua cadeia produtiva. O beneficio maior, nesse caso, ficaria com as grandes empresas.
Para Figueiredo, a liberdade para o exportador deixar os dólares recebidos lá fora aumentaria sua eficiência. "O efeito na cotação da moeda estrangeira seria nulo."
Ainda assim, o mercado financeiro viveu dias de estresse nesta semana. Mas o motivo foram as especulações de que o governo poderia partir para medidas consideradas "um retrocesso": como a instituição de uma quarentena.
Com isso, o investidor que viesse a aplicar no Brasil não poderia sair antes de um determinado período. Isso serviria para inibir a entrada de dólares. "O câmbio está subindo em parte por essas especulações. O governo diz que é favorável ao câmbio flutuante, mas dá sinais de que pode adotar medidas mais duras na canetada", criticou.


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