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TENSÃO ENTRE VIZINHOS
Mas presidente defende manutenção da importação da Bolívia para ajudar "povo muito pobre" do país
Lula prevê auto-suficiência em gás em 2008
FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM NATAL
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva disse ontem, em Natal (RN),
que o Brasil deverá alcançar a auto-suficiência na produção de gás
em 2008. Mesmo assim, afirmou,
não deixará de importar o produto da Bolívia para ajudar o povo
daquele país, que, segundo ele, é
"muito pobre".
"O Brasil está preparado para,
em 2008, ser praticamente independente de gás e não depender
da importação", declarou inicialmente Lula, ao anunciar, em discurso, o que chamou de "dia histórico" para o país.
Logo em seguida, porém, afirmou que, apesar da auto-suficiência, o governo continuará a comprar o produto do país vizinho.
"Obviamente que nós queremos continuar importando gás
da Bolívia, porque interessa ao
Brasil ajudar o povo da Bolívia,
que é um povo muito pobre", disse o presidente brasileiro.
Em tom diplomático, Lula disse
ainda que a Bolívia também tem
interesse em "ajudar o Brasil, vendendo gás" e que essa vontade
mútua levará os governos a "fazer
uma combinação em que os dois
países saiam ganhando".
Brasil e Bolívia quase entraram
em litígio no início do mês, quando o presidente boliviano, Evo
Morales, decretou a nacionalização dos hidrocarbonetos do país e
enviou tropas do Exército para as
refinarias estrangeiras, entre elas
as da Petrobras.
Morales fixou prazo de 180 dias
para a "regularização" das indústrias às novas leis e defendeu o
reajuste do preço do gás vendido
ao Brasil. O governo brasileiro
questiona o aumento. Argumenta
que os contratos só prevêem revisões de cinco em cinco anos.
O presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, em Guamaré (RN)
para inaugurar uma usina experimental de biodiesel, ao ser questionado duas vezes sobre a compra de gás natural da Bolívia apenas para ajudar o país vizinho, como havia dito instantes antes o
presidente Lula, mesmo no caso
de o Brasil se tornar auto-suficiente no combustível, apenas repetiu: "Temos contrato com a Bolívia até 2019 e esperamos que fique em vigor até lá".
No discurso realizado durante
visita à obra de construção da
ponte Newton Navarro, na zona
norte de Natal, Lula anunciou
também que, em breve, termelétricas movidas a álcool entrarão
em operação no Brasil.
"Revolução energética"
O presidente confirmou ainda
que a Petrobras passará a refinar o
óleo bruto de sementes oleaginosas, como a soja e o dendê, junto
com o petróleo, para extrair da
mistura subprodutos como o óleo
diesel.
"Isso significa uma revolução
energética no mundo", declarou o
presidente. "Eu me sinto como se
tivesse nascido um filho, o primeiro filho", disse, referindo-se
ao avanço do projeto do biodiesel,
incentivado por ele em 2003.
O presidente justificou os investimentos lembrando a crise energética no país durante o governo
de Fernando Henrique Cardoso
(1995-2002). "Resolvemos trabalhar de forma mais arrojada para
apresentar à sociedade brasileira
a tranqüilidade que ela precisa,
para não ficar correndo risco de
faltar energia como faltou em
2001, com o apagão."
Colaborou KAMILA FERNANDES, da
Agência Folha, em Guamaré (RN)
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