São Paulo, sábado, 20 de maio de 2006

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TENSÃO ENTRE VIZINHOS

Mas presidente defende manutenção da importação da Bolívia para ajudar "povo muito pobre" do país

Lula prevê auto-suficiência em gás em 2008

FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM NATAL

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem, em Natal (RN), que o Brasil deverá alcançar a auto-suficiência na produção de gás em 2008. Mesmo assim, afirmou, não deixará de importar o produto da Bolívia para ajudar o povo daquele país, que, segundo ele, é "muito pobre".
"O Brasil está preparado para, em 2008, ser praticamente independente de gás e não depender da importação", declarou inicialmente Lula, ao anunciar, em discurso, o que chamou de "dia histórico" para o país.
Logo em seguida, porém, afirmou que, apesar da auto-suficiência, o governo continuará a comprar o produto do país vizinho.
"Obviamente que nós queremos continuar importando gás da Bolívia, porque interessa ao Brasil ajudar o povo da Bolívia, que é um povo muito pobre", disse o presidente brasileiro.
Em tom diplomático, Lula disse ainda que a Bolívia também tem interesse em "ajudar o Brasil, vendendo gás" e que essa vontade mútua levará os governos a "fazer uma combinação em que os dois países saiam ganhando".
Brasil e Bolívia quase entraram em litígio no início do mês, quando o presidente boliviano, Evo Morales, decretou a nacionalização dos hidrocarbonetos do país e enviou tropas do Exército para as refinarias estrangeiras, entre elas as da Petrobras.
Morales fixou prazo de 180 dias para a "regularização" das indústrias às novas leis e defendeu o reajuste do preço do gás vendido ao Brasil. O governo brasileiro questiona o aumento. Argumenta que os contratos só prevêem revisões de cinco em cinco anos.
O presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, em Guamaré (RN) para inaugurar uma usina experimental de biodiesel, ao ser questionado duas vezes sobre a compra de gás natural da Bolívia apenas para ajudar o país vizinho, como havia dito instantes antes o presidente Lula, mesmo no caso de o Brasil se tornar auto-suficiente no combustível, apenas repetiu: "Temos contrato com a Bolívia até 2019 e esperamos que fique em vigor até lá".
No discurso realizado durante visita à obra de construção da ponte Newton Navarro, na zona norte de Natal, Lula anunciou também que, em breve, termelétricas movidas a álcool entrarão em operação no Brasil.

"Revolução energética"
O presidente confirmou ainda que a Petrobras passará a refinar o óleo bruto de sementes oleaginosas, como a soja e o dendê, junto com o petróleo, para extrair da mistura subprodutos como o óleo diesel.
"Isso significa uma revolução energética no mundo", declarou o presidente. "Eu me sinto como se tivesse nascido um filho, o primeiro filho", disse, referindo-se ao avanço do projeto do biodiesel, incentivado por ele em 2003.
O presidente justificou os investimentos lembrando a crise energética no país durante o governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). "Resolvemos trabalhar de forma mais arrojada para apresentar à sociedade brasileira a tranqüilidade que ela precisa, para não ficar correndo risco de faltar energia como faltou em 2001, com o apagão."


Colaborou KAMILA FERNANDES, da Agência Folha, em Guamaré (RN)

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