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MERCADOS TENSOS
"Não aconteceu nada', diz o presidente, para quem o país "não tem fragilidades" que justifiquem temor
Para FHC, queda da Bolsa foi normal
CLÓVIS ROSSI
enviado especial a Genebra
A Bolsa de Valores de São Paulo
sofreu, anteontem, a maior queda
do ano até agora. Mas, vista de Genebra, "não aconteceu nada".
Palavra do presidente Fernando
Henrique Cardoso, que jura não
ter perdido o sono por conta da
queda da Bolsa, manchete comum
aos principais jornais brasileiros.
"Bolsa sobe e desce todo dia e
não se deve confundir esse problema com uma situação mais séria",
minimizou FHC.
O presidente acha que só haveria
motivos para perder o sono se o
país "tivesse fragilidades". Usou
como argumento para demonstrar a inexistência delas o fato de a
cotação do dólar não ter se alterado apesar da queda da Bolsa.
"Esqueletos"
A Folha quis saber se os déficits
externo e fiscal não eram "fragilidades".
FHC usou como resposta o caso
da Itália, que também tem um formidável déficit, e completou:
"No caso do Brasil, estamos colocando à mesa os esqueletos existentes".
Os "esqueletos" seriam:
1 - O déficit da Previdência,
"que não foi criado pela ação do
governo, mas pela sociedade".
2 - A necessidade de "sanear os
bancos, o que aumenta o déficit".
A seu lado, o ministro da Fazenda, Pedro Malan, não se animou a
dizer que dormira tão tranquilamente quanto FHC.
Contou que ficara acompanhando, pelo telefone celular, a evolução da situação na Rússia e seus
reflexos sobre o Brasil, em busca
de explicações consistentes para o
que houvera em Moscou.
O contágio
Malan tem um teorema elaborado para explicar porque problemas econômicos em um país contagiam outros, distantes e aparentemente muito diferentes, como
Brasil e Rússia.
O ministro volta a 1992, para
lembrar o momento em que a libra esterlina, a moeda britânica,
foi atacada por especuladores. O
ministro de turno garantiu que a
libra não seria desvalorizada, mas
acabou sendo forçado a ceder.
"Quem ficou desmoralizado foi
o ministro, que pediu demissão,
mas os mercados acharam que a
Inglaterra continuava confiável,
pela solidez de suas instituições",
rememora Malan.
Depois, salta para o México de
1994. O país tentou fazer uma desvalorização controlada do peso,
mas foi atropelado.
"Nesse caso, o descrédito foi para o país e também para seus vizinhos, porque o mercado vê as instituições como mais precárias nos
países em desenvolvimento", fecha o raciocínio.
Problemas russos
No caso da Rússia e do contágio
no Brasil, ocorreu mais ou menos
a mesma coisa. "A Rússia, além
da bomba atômica, tem dificuldades político-institucionais, como
o demonstrou a demora na aprovação do novo primeiro-ministro
indicado pelo presidente", diz
Malan.
É natural, portanto, que os mercados fiquem nervosos e "busquem uma fuga para a qualidade,
que afeta todo mundo".
Nesse cenário, não adianta muito o esforço que a equipe econômica vem fazendo para, primeiro,
demonstrar que o Brasil não era o
México, depois que não era a Tailândia e, agora, que não é a Rússia.
"Não se passa a ser confiável
por um ato de vontade unilateral
ou por decreto", conforma-se Malan.
Mas tanto ele quanto o presidente da República acham que o Brasil
tem "ativos" suficientes para dar
um salto de qualidade.
Ativos que são políticos, como a
consolidação da democracia e a
ausência de conflitos fronteiriços
ou étnicos, mas também econômicos.
Neste capítulo, ambos citaram o
fato de que foi mantida a privatização da Telebrás. FHC aposta que
não haverá queda no valor da empresa:
"Quem vai investir nas teles não
está pensando na Bolsa, mas em
retorno a médio e longo prazo",
imagina o presidente.
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