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Rombo fiscal
deixa frágil
o Plano Real
GUSTAVO PATÚ
da Sucursal de Brasília
A fragilidade da economia brasileira decorre, principalmente, do
descumprimento de uma promessa feita por FHC quando ministro
da Fazenda: a de que o Plano Real
seria diferente dos planos anteriores porque promoveria o ajuste
das contas públicas.
Em 94, quando o plano foi lançado, não havia déficit público. Todos os economistas oficiais sabiam, porém, que essa situação
mudaria se a inflação caísse e o governo deixasse de contar com o expediente de reduzir gastos simplesmente protelando-os.
Por isso, o Real foi anunciado em
três etapas, sendo a primeira o
ajuste fiscal por meio do FSE (fundo que desobriga o governo de
cumprir despesas determinadas
pela Constituição, hoje com o nome de FEF). Só então os preços foram atrelados à URV (Unidade
Real de Valor) e depois a nova
moeda passou a circular.
No Plano Plurianual elaborado
em 95, havia uma previsão oficial
de déficit zero em todo o mandato
de FHC. Hoje, o déficit supera R$
40 bilhões ao ano.
Quando o governo gasta mais do
que arrecada, o país se torna mais
dependente do capital externo,
uma vez que não há poupança interna suficiente para financiar, ao
mesmo tempo, o déficit público e
os investimentos da economia.
O problema é maior porque o
Real controla a inflação por meio
do barateamento das importações,
obtido com a valorização da moeda nacional em relação ao dólar. A
estratégia, bem-sucedida até aqui,
gera um déficit comercial que também precisa ser compensado pela
atração de capital externo.
Essa situação pode ser sustentada enquanto a economia internacional fornecer dinheiro suficiente
para cobrir os dois déficits brasileiros. Mas a cada crise, como a do
México, a da Ásia e, agora, a da
Rússia, voltam as dúvidas sobre
quanto tempo o país terá para corrigir suas fragilidades.
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