São Paulo, quarta, 20 de maio de 1998

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Rombo fiscal deixa frágil o Plano Real

GUSTAVO PATÚ
da Sucursal de Brasília

A fragilidade da economia brasileira decorre, principalmente, do descumprimento de uma promessa feita por FHC quando ministro da Fazenda: a de que o Plano Real seria diferente dos planos anteriores porque promoveria o ajuste das contas públicas.
Em 94, quando o plano foi lançado, não havia déficit público. Todos os economistas oficiais sabiam, porém, que essa situação mudaria se a inflação caísse e o governo deixasse de contar com o expediente de reduzir gastos simplesmente protelando-os.
Por isso, o Real foi anunciado em três etapas, sendo a primeira o ajuste fiscal por meio do FSE (fundo que desobriga o governo de cumprir despesas determinadas pela Constituição, hoje com o nome de FEF). Só então os preços foram atrelados à URV (Unidade Real de Valor) e depois a nova moeda passou a circular.
No Plano Plurianual elaborado em 95, havia uma previsão oficial de déficit zero em todo o mandato de FHC. Hoje, o déficit supera R$ 40 bilhões ao ano.
Quando o governo gasta mais do que arrecada, o país se torna mais dependente do capital externo, uma vez que não há poupança interna suficiente para financiar, ao mesmo tempo, o déficit público e os investimentos da economia.
O problema é maior porque o Real controla a inflação por meio do barateamento das importações, obtido com a valorização da moeda nacional em relação ao dólar. A estratégia, bem-sucedida até aqui, gera um déficit comercial que também precisa ser compensado pela atração de capital externo.
Essa situação pode ser sustentada enquanto a economia internacional fornecer dinheiro suficiente para cobrir os dois déficits brasileiros. Mas a cada crise, como a do México, a da Ásia e, agora, a da Rússia, voltam as dúvidas sobre quanto tempo o país terá para corrigir suas fragilidades.



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