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LUÍS NASSIF
A Microsoft e o Brasil
Envolta em problemas com o
governo americano -acusada de
práticas monopolistas-, nos
próximos dias a atuação da Microsoft no Brasil deverá ser objeto, pela primeira vez, de análise
sobre presumíveis abusos de poder econômico.
O processo foi deflagrado por
uma pequena e premiada empresa mineira, a Paiva Piovesan
E&I, criadora do software "Finance para Windows", de gerenciamento financeiro, adaptado a
"home bankings". Considerado
um dos 15 melhores softwares nacionais na Fenasoft-97, premiado
pela revista "Informática Exame", o software se viu preterido
em algumas grandes compras
bancárias, pela estratégia da Microsoft de venda casada do "Money", seu gerenciador financeiro.
Na verdade, essas práticas já
vinham afetando há tempos empresas brasileiras. O Brasil tinha
uma boa tradição de editores de
texto, e algumas tentativas em
bancos de dados, que acabaram
eliminados do mercado não só
pela alta qualidade dos produtos
Microsoft, mas pelo sistema de
vendas casadas, a preços ínfimos.
A argumentação da Piovesan
passa por aí. Em março a empresa entrou com uma representação
junto à Secretaria de Direito Econômico, relacionando as seguintes práticas da Microsoft:
1) inclusão gratuita do "Money" em um pacote denominado
"Microsoft Office for Small Business", indicando que o mesmo se
repetiria com o "Microsoft Office", que detém mais de 90% de
"market share" no mercado brasileiro;
2) a aquisição e distribuição de
cópias gratuitas por bancos brasileiros para seus clientes;
3) dificuldade de colocar seu
produto para ser distribuído pelas grandes distribuidoras nacionais.
A Microsoft terá 15 dias para
apresentar sua defesa. Inocente
ou culpada, o episódio abre um
precedente importante para se
discutir a questão do abuso de
poder econômico na área de software e o espaço reservado à criação brasileira entre esses produtos estandartizados. Mas sem
perder de vista os interesses
maiores dos consumidores.
E agora?
Na coluna do dia 8 de março,
com base em carta enviada pelo
leitor Arnaldo Luís Santos Pereira -um engenheiro civil, como
tantos outros que estavam disponíveis para serem consultados
pela imprensa-, alertei que a
responsabilidade penal pela queda do edifício Palace 2 poderia
ter sido do projetista, e não da
construtora. Explicava o leitor:
"Como a análise do projeto estrutural baseia-se em elementos
eminentemente objetivos (plantas, memórias de cálculo e demais peças do projeto), é muito
difícil, se não impossível, que um
projetista seja responsabilizado
indevidamente".
Na revista "Imprensa" de março, voltei a alertar: "Se a culpa é
do calculista, muda completamente o espectro de responsabilidades. Em qualquer hipótese, a
responsabilidade civil, pela indenização, é da construtora, que
contratou a todos. No plano criminal, é do calculista (...) O deputado Naya continuará culpado
das picaretagens, do tráfico de
influência, de burla ao Código de
Defesa do Consumidor, da indenização às vítimas, mas deixará
de ser responsável criminalmente
pela queda do Palace 2".
Ontem, a divulgação do laudo
do Instituto Carlos Éboli confirmou que o Palace 2 desabou por
falha no cálculo estrutural. Criminalistas consultados pelo jornal informam que, confirmada a
hipótese do laudo, Naya continua responsável pelas indenizações às vítimas. Mas se livra das
acusações penais.
Condenam-se antecipadamente os réus, sem uma análise mais
técnica dos problemas, porque o
que vale é o show. Com a análise
técnica, descobre-se que os réus
ou são inocentes ou (como o caso
Naya) passíveis de outras condenações, mas não da prisão. E o
Judiciário acaba pagando o pato
pela falta de uma cobertura técnica e de qualidade.
BMD e Proer
Há duas situações complicadas
no caso da quebra do Banco
Mercantil de Descontos (BMD).
A primeira é que o banco foi
atingido duramente por uma
corrida de depositantes, no ano
passado, devido a uma declaração impensada de um funcionário do Banco Central. Se a situação do banco era boa, o BC pode
ser processado pelos controladores por tê-lo induzido à quebra.
Se era ruim, pode ser processado
pelos correntistas, por permitir
que se deteriorasse mais ainda,
apanhando os pequenos no contrapé.
E-mail: lnassif@uol.com.br
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