São Paulo, quarta-feira, 20 de junho de 2001

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VIZINHO EM CRISE

Bolsa argentina segue reação de Nova York, e índice Merval desaba 4,6%; risco-país continua elevado

Wall Street aposta forte na desvalorização

DA REDAÇÃO

De pouco adiantou o apoio dos empresários locais. Quando os mercados argentinos reabriram ontem, o índice Merval, da Bolsa de Buenos Aires, despencou. Chegou a bater nos 5% de desvalorização logo depois da abertura dos negócios, mas fechou com recuo de 4,6%%.
Ontem foi o primeiro dia útil depois do anúncio, na sexta-feira, das mudanças no câmbio (na segunda-feira a Bolsa permaneceu fechada, devido a um feriado nacional). Os investidores internacionais continuaram apostando forte na desvalorização do peso em relação ao dólar.
O risco-país (sobretaxa paga para obtenção de empréstimos em relação ao que pagam os EUA) recuou para 986 pontos, depois de chegar a 1.001 na segunda. Mas o índice permanece bastante alto, cerca de 150 pontos acima do brasileiro e 700 do mexicano.
Para o ministro da Economia, Domingo Cavallo, os investidores não entenderam o plano. Mas os analistas dizem que o entenderam muito bem e temem que ele seja apenas um prenúncio da desvalorização do peso.
"Os mercados não gostam de notícias inesperadas, quem vieram a se somar ao ceticismo que existe sobre a argentina", afirmou o economista-chefe para mercados emergentes do ABN Amro, Arturo Porzecanski. "Ante um novo anúncio, seja bom, mau ou regular, a primeira reação é vender, depois se fazem perguntas."
Segundo Porzecanski, um dos analistas mais ouvidos de Wall Street, se o mercado perceber que os argentinos não estejam retirando dinheiro dos bancos para trocar pesos por dólares, a confiança pode ser restabelecida. "Mas se os argentinos perderem a fé, Deus nos livre", afirmou.
"Num aspecto local, as medidas podem estimular a economia. O problema é que elas criam mais incertezas num ambiente que já está muito tenso", afirmou Juan Plett, da corretora Mackintosh.
A avaliação do corretor Mario Zawadzki, da Schweber, que opera na Bolsa de Buenos Aires, mostra como em momentos como esse a boa receptividade interna pode não valer muita coisa. Ele concorda que o câmbio duplo foi bem aceito na Argentina, mas diz que os mercados locais continuarão caindo, influenciados pelos grande bancos internacionais.
"O problema é que, no cassino dos mercados mundiais, Wall Street possui as melhores fichas. Se eles apostam contra a Argentina, então os investidores locais precisam seguir de alguma maneira", afirmou Zawadzki.
A reação do câmbio duplo foi tão negativa que outras medidas positivas do plano, como o corte de impostos, foram completamente esquecidas pelos analistas internacionais. "A redução dos impostos foi feita para aumentar o consumo e reavivar a economia", disse Eduardo Paressini, da corretora Martorell.
De uma maneira geral, os operadores locais lamentaram a indiferença de Wall Street em relação a esse e outros aspectos, mas foram obrigados a se sujeitar às tendências ditadas em Nova York.
O Departamento do Tesouro dos EUA afirmou que não vai se pronunciar a respeito do plano. De acordo com John Taylor, secretário-adjunto para assuntos internacionais, o governo vai esperar que o FMI emita sua análise sobre o plano.


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