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PÓS-CORRALITO
Crédito cresce e bancos devem registrar lucros
Após três anos, argentinos voltam a guardar o dinheiro em contas
MAELI PRADO
DE BUENOS AIRES
Após três anos marcados pela
desconfiança pós-corralito, os argentinos estão de volta aos bancos. Neste ano, pela primeira vez
desde a pior crise econômica da
história do país, as instituições financeiras vão registrar lucro: os
depósitos bancários somam hoje
117,6 bilhões de pesos, valor que
chegou a ser de 70 bilhões de pesos em 2002.
Já a demanda por crédito pessoal no mês passado foi a maior
para qualquer mês -com exceção de 2002, ano para o qual não
há dados disponíveis- desde
abril de 2001. É uma retomada
que vem grudada na recuperação
da economia.
De qualquer forma, é uma reação considerada surpreendente
na Argentina por causa da recente
história do país vizinho: em 2001,
o então ministro da Economia,
Domingo Cavallo congelou os depósitos bancários (o chamado
corralito), o que levou milhares de
pessoas às ruas, forçou a renúncia
do presidente Fernando de la Rúa
e agravou a crise.
O fato de os argentinos voltarem a fazer depósitos e tomar empréstimos depois de um período
tão complicado é algo a ser comemorado, mas a recuperação ainda
não chegou às linhas de crédito
mais robustas, de longo prazo.
O estoque de empréstimos hipotecários, por exemplo, somou
8,8 bilhões de pesos em maio deste ano, a metade do valor registrado em maio de 2001, de 16,9 bilhões de pesos, segundo dados da
consultoria abeceb.com.
O que deve garantir o lucro aos
bancos é em grande parte a demanda por crédito de curto prazo, como empréstimo pessoal e
cartão de crédito.
No primeiro caso, o estoque somou 5,3 milhões de pesos no mês
passado -ao longo de 2003 e
2004, se manteve entre 3 milhões
de pesos e 4 milhões de pesos
mensais. Os empréstimos no cartão somaram 3,5 milhões de pesos, para um patamar de cerca de
2 milhões de pesos ao mês nos
anos pós-crise.
Nos primeiros meses de 2005, a
quantidade de cartões em circulação subiu 30% em relação a 2004,
ano que já vinha apresentando
reação da atividade econômica. O
dinheiro gasto, na mesma comparação, subiu 28%.
A quantidade de argentinos
com conta corrente também começa a se recuperar. Em dezembro do ano passado, último dado
disponível, eram 1,972 milhão
contas, segundo o banco central
da Argentina, ante 1,795 milhão
em dezembro de 2003.
Mesmo assim, muitos argentinos ainda mantêm suas economias fora do sistema financeiro
por falta de confiança. A última
estimativa, realizada por um banco de investimentos, dizia que o
montante total de dinheiro fora
dos bancos no país poderia chegar a US$ 100 bilhões.
Além disso, o total do crédito
concedido ao setor privado ainda
não voltou aos níveis pré-crise. De
acordo com estimativa da abeceb.com, vai representar 15% do
PIB argentino neste ano. Melhor
do que os 12,3% registrados em
2003 e 2004, mas ainda muito
abaixo dos 21,7% de 2001.
"A situação da Argentina hoje é
a seguinte: está saindo do poço,
olha para cima e vê tudo o que falta para sair, e olha para baixo e vê
de onde veio. Temos um sistema
financeiro que volta a ser confiável, mas nos falta muitíssimo ainda", analisa o economista Aldo
Abram, da consultoria Exante.
Fuga
O auge da crise dos bancos no
país foi em 2002, quando tiveram
um prejuízo que chegou aos 19,1
bilhões de pesos. Fecharam 2003
no vermelho em 5,4 bilhões de pesos e em 2004, ainda negativo, em
902 milhões de pesos.
Desde 2004, além da retomada
do crédito, os bancos vem sendo
ajudados pela redução dos custos
operacionais e pela queda da inadimplência. "As instituições financeiras ganharão mais com
empréstimos este ano, terão menos perdas com inadimplência e
também há mais contas correntes
cartões de créditos do que no período da crise", afirma Mariano
Lamonthe, economista da consultoria abeceb.com.
Ele destaca ainda que o
"spread" bancário na Argentina,
ou seja, a diferença entre o que os
bancos pagam para captar dinheiro no mercado e o que cobram do
consumidor final, está mais alto
do que em anos anteriores.
Hoje, os bancos pagam entre
3% e 4% ao ano de juros pelo capital, e emprestam a uma taxa de
30% ao ano em média, no caso de
crédito pessoal. Os juros cobrados
do consumidor baixaram bastante na comparação com 2002,
quando chegaram a ser, em novembro, de 50% ao ano.
De qualquer forma, taxas muito
mais baixas que as brasileiras: segundo dados da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de
Finanças, Administração e Contabilidade), os juros cobrados em
operações de crédito pessoal são
em média de 142% ao ano.
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