São Paulo, sábado, 20 de julho de 2002

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ARGENTINA

Após atrito com BC, Lavagna é criticado por chefe de gabinete de Duhalde

Ministro da Economia se isola mais

JOÃO SANDRINI
DE BUENOS AIRES

Após negar diversas vezes nesta semana que iria renunciar devido a divergências com o Banco Central, o ministro Roberto Lavagna (Economia) aumentou seu isolamento ao se desentender ontem com outros membros do governo argentino, desta vez pelo reajuste das tarifas públicas.
A disputa interna começou na noite de quinta-feira, quando Lavagna anunciou que as tarifas subiriam a partir de agosto. O aumento, de até 10%, seria concedido inicialmente para as empresas de água e luz.
Segundo o ministro, tais empresas enfrentam dificuldades financeiras desde janeiro, quando começou a desvalorização cambial. Lavagna acredita que manter as tarifas congeladas mesmo com a queda de 70% do peso poderia levar ao racionamento dos serviços.
No entanto, parlamentares tornaram público ontem que não concordavam com o aumento de tarifas e exigiram negociar uma decisão de consenso com o governo, que cedeu às pressões.
No final da manhã, o chefe de gabinete, Alfredo Atanasof, desautorizou Lavagna e disse que "o governo não vai permitir nenhum reajuste" antes de negociar a fórmula de aumento com empresários do setor, membros do Congresso e consumidores.
Depois, o porta-voz do Ministério da Economia, Sergio Federovisky, mostrou que Lavagna, mesmo isolado, não estava disposto a ceder. Federovisky confirmou o reajuste de tarifas e disse que esse tipo de decisão seria de caráter exclusivo do ministério, sem vínculos com o Congresso.
O desentendimento em torno das tarifas públicas soma-se à disputa interna de Lavagna com o presidente do BC, Aldo Pignanelli, desatado nesta semana.
Pignanelli esteve nos Estados Unidos, onde apresentou a dirigentes do FMI (Fundo Monetário Internacional) e do Tesouro seu plano para flexibilizar as restrições bancárias impostas pelo curralzinho, que prevê a liberação dos recursos depositados em contas correntes e cadernetas de poupança de até 10 mil pesos.
Lavagna atacou esse plano durante toda a semana. Para ele, a liberação dos recursos levaria à hiperinflação. No entanto, assim como Pignanelli, ele disse que os atritos eram "temas menores".
A distância do presidente Eduardo Duhalde dos conflitos internos detonaram uma onda de boatos de que, sem apoio, Lavagna renunciaria. O mais cotado para substituí-lo seria o ex-presidente do BC Mario Blejer. Os boatos foram negados por Lavagna e por Blejer, mas em nenhum momento por Duhalde.
A discussão sobre as possíveis soluções para o sistema financeiro devem continuar na próxima semana, quando chega a Buenos Aires a equipe de economistas estrangeiros designada pelo FMI.



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