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LUÍS NASSIF
A nova estrutura da Copene
A falta de planejamento prévio à privatização provocou enorme atraso na petroquímica brasileira. Houve dispersão em um setor que exige escala, atraso de investimentos e de consolidação das novas empresas. Apenas agora se entra
na fase de amadurecimento com a consolidação da Copene e do complexo Odebrecht (OPP)-Mariani. Nos próximos dias, deverá sair o acordo final, permitindo à Odebrecht e ao grupo Mariani aportar à Copene as empresas de segunda geração e
a participação de 29% que a OPP detém na Copesul.
Por envolver muitas sociedades anônimas, os termos do acordo estão guardados sob sete chaves, até a conclusão. Mas, pelas características do negócio,
é possível supor (ainda dependendo da divulgação de todos os
detalhes) que se chegou a um modelo consistente de integração de ativos.
O que se tinha antes? O maior
grupo petroquímico brasileiro, a
OPP, altamente endividado, inclusive pelos investimentos despendidos na privatização. Mais
tarde, quando o setor mergulhou em crise, a OPP se recusou
a aceitar a nova realidade, aumentando ainda mais a sua exposição. Praticamente entrou
em um jogo de tudo ou nada,
que culminou com a última cartada, a compra do controle da
Copene, atropelando a rival,
grupo Ultra, muito mais capitalizado.
As dúvidas que surgiram
eram até que ponto não se somariam passivos resultando em
um gigante de pés de barro, endividado e sem capacidade de
investimento. A lógica da operação, para a OPP, envolveu três
dimensões.
A primeira, a de evitar a contaminação da nova empresa
com os problemas do novo controlador. Além da Odebrecht e
do grupo Mariani, a Copene
tem como acionistas expressivos
a Petroquisa, Previ e Petrus,
além de ações pulverizadas no
mercado.
A maneira acordada foi definir, antes da incorporação, níveis mínimos de desempenho da
nova empresa, em cima de indicadores como níveis de liquidez,
relação dívida/EBITDA, serviço/geração de caixa.
Depois, proceder a uma avaliação de todos os ativos a serem
aportados. Pela proposta dos
grupos Odebrecht-Mariani, entrariam na Copene a Triken, Nitrocarbono, Poliaaldren, Politeno e a participação que a OPP
detinha na Copesul. Os ativos
seriam aportados pelo valor de
avaliação, mas de maneira a
preservar os índices mínimos
acordados com os demais acionistas.
Para não ter sua participação
diluída, entrou-se na segunda
dimensão do projeto, que foi a
desmobilização da Odebrecht.
Cobravam dela a desmobilização, explica Pedro Novis, presidente do conselho da holding,
mas havia uma estrutura societária complexa, fruto dos tempos de fechamento da economia. Com a operação, resolveu-se essa questão. A Odebrecht
passou por forte processo de saneamento financeiro, vendendo
ativos no valor total de US$ 280
milhões e alongando as dívidas
da construtora. Aliás, fez em
momento oportuníssimo, antes
do fechamento do mercado internacional ao Brasil.
Com a venda de outros ativos,
o grupo fez mais de R$ 650 milhões a R$ 700 milhões de caixa.
Segundo a diretoria da holding,
a reestruturação eliminou qualquer dúvida sobre a capacidade
do grupo de pagar seus passivos.
Finalmente, a terceira questão
é que, com a incorporação, ao
integrar a cadeia produtiva, o
conjunto ganhou valor.
Os apertos financeiros obrigaram a Odebrecht, após muita
resistência, a definir focos de
atuação, desfazendo-se de ativos no exterior, inclusive concessões que operava na Argentina.
O novo foco inclui a Copene, a
construtora e a CRR, a empresa
de concessões rodoviárias.
Os sócios da Copene já concordaram sobre os princípios gerais
do negócio. Estão apenas terminando as avaliações. Aprovadas
pelas partes, levam-se à Assembléia Geral Extraordinária da
Copene para referendo.
E-mail - lnassif@uol.com.br
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