UOL


São Paulo, domingo, 20 de julho de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

GUERRA COMERCIAL

Com a renda per capita alta, países do golfo Pérsico chamam a atenção dos exportadores brasileiros

Brasil tenta garantir mercado no Iraque

ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

Com uma estratégia agressiva para tentar abocanhar uma fatia do projeto de reconstrução do Iraque, o governo brasileiro vai investir US$ 350 mil até o fim do ano para participar de eventos comerciais no Oriente Médio.
Levará pela primeira vez, por exemplo, empresas do país para a maior feira de construção da região-a chamada Big 5 Show- que ocorrerá em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, em novembro deste ano.
A expectativa é que as empresas, principalmente as fornecedoras de materiais de construção, consigam fechar negócios com as companhias encarregadas da recuperação do Iraque, destruído após mais de dez anos de embargo comercial e do recente conflito com os Estados Unidos.
Os principais contratos foram concedidos pelo governo dos EUA a empresas do país que, agora, estão subcontratando outras companhias. Por enquanto, o Brasil está fora desse processo.
"A expectativa é que as empresas responsáveis pela reconstrução do Iraque, que deverá estar ganhando fôlego no fim do ano, busquem fechar negócios com fornecedores nessa feira em Dubai", diz Juan Quirós, presidente da Apex (Agência de Promoção das Exportações Brasileiras).
Quirós acompanhou Luiz Fernando Furlan, ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, em sua visita ao Oriente Médio no mês passado.
A participação das empresas brasileiras na Big 5 Show, que já acontece há mais de dez anos e engloba cinco segmentos ligados à infra-estrutura e à construção civil, está sendo organizada pela Apex e pela Câmara de Comércio Árabe Brasileira. As duas instituições começarão a selecionar agora as companhias -de 15 a 20- que terão espaço na feira.
Segundo Paulo Atallah, presidente da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, serão escolhidas as empresas interessadas que tiverem maiores chances de fechar negócios. Depois da feira, a comitiva fará um "road show" por Arábia Saudita e Kuait.

Oriente Médio
Além de querer pegar carona na reconstrução do Iraque, interessa também ao governo brasileiro alavancar as exportações para o Oriente Médio.
Depois de terem crescido 49,6% em 2001 e 16,1% no ano passado, as vendas externas do Brasil para a região voltaram a aumentar 19,13% no primeiro semestre de 2003. Entre os principais produtos exportados estão desde produtos primários como carne de frango e açúcar a automóveis.
Embora o volume exportado seja pequeno, US$ 2,6 bilhões em 2002, a entrada nesse mercado é considerada fundamental.
"O Brasil precisa diversificar mercados. A maior inserção em regiões como o Oriente Médio e a China em 2002 compensaram parte das perdas com a crise argentina", diz Antônio Corrêa de Lacerda, presidente da Sobeet (Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica).
Outra razão para a ofensiva a novos mercados são as elevadas barreiras que EUA e União Européia impõem a bens agrícolas.
Segundo Lacerda, a alta renda média de alguns países do Oriente Médio também torna esse mercado bastante atrativo. Segundo dados do Banco Mundial, cinco dos sete países do golfo Pérsico têm renda per capita anual acima de US$ 8.000, mais do que o dobro dos US$ 3.580 registrados pelo Brasil em 2000.
O Brasil responde hoje por menos de 1% das importações do Oriente Médio. O que, segundo especialistas, indica que há espaço para crescimento das exportações para a região. Por isso, o investimento da Apex de US$ 350 mil envolve a presença do Brasil em duas outras feiras comerciais na região, além da Big 5 Show.
A primeira ocorrerá em setembro na Síria, mas só envolverá participação institucional do Brasil. A outra reunirá indústrias de móveis em Dubai, em outubro. As empresas brasileiras ainda estão sendo selecionadas.
De olho na alta renda do golfo, outros países tentam aumentar sua inserção no Oriente Médio. Não por acaso, os EUA têm planos para negociar uma área de livre comércio com a região.

Texto Anterior: Profissão de catador atrai família
Próximo Texto: Privatização: Governo pode desistir de privatizar o Besc
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.