São Paulo, segunda, 20 de julho de 1998

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VAREJO
Inadimplência e juros elevados permitem a sobrevivência só das redes comerciais com grande fôlego financeiro
Crise faz a "seleção natural' das lojas

FÁTIMA FERNANDES
da Reportagem Local

A crise do comércio, provocada por inadimplência e juros elevados, não está atingindo por igual as redes de varejo.
Se a maioria dos lojistas reclama, há quem identifique na adversidade chances de levar vantagem.
É o caso de Samuel Klein, dono da Casas Bahia, cadeia de 250 lojas e vendas anuais de R$ 2 bilhões.
Ele dá os números: paga juros de 1,8% ao mês e, na outra ponta, cobra 5,1% do consumidor. É uma diferença que mais do que compensa a inadimplência, afirma. "Quem dá esse ganho para a financeira não é esperto."
É o caso do seu concorrente Girsz Aronson, dono da concordatária G. Aronson, com 19 lojas e dívida de R$ 40 milhões. Sem recursos próprios, ele depende de financeira -o Banco Cacique- para vender a crédito.
Os casos de Klein e Aronson mostram que os juros estão se encarregando de fazer uma seleção natural nas grandes redes de varejo, permitindo a sobrevivência apenas dos mais fortes, ou seja, dos que têm fôlego financeiro.
O problema é que o mau desempenho das vendas compromete a capacidade de gerar caixa, dando início a um círculo vicioso do qual nem todos conseguem escapar.

Nada a comemorar
Analistas de investimento ouvidos pela Folha dizem que este semestre deverá ser melhor do que o primeiro, perspectiva que não chega a entusiasmar, já que se trata de variação sazonal, embora, neste ano, possa ser intensificada pelas próximas eleições.
Ninguém acredita que nos próximos meses as vendas vão disparar ou a inadimplência recue substancialmente.
A projeção da Federação do Comércio do Estado de São Paulo não autoriza comemorações.
As vendas neste semestre devem ser quase 4% maiores do que as efetuadas em igual período de 1997. No ano, entretanto, haveria queda de 3% a 5%.
Nesse ambiente, erros de administração e apostas equivocadas, que em tempos de bonança não teriam maiores consequências, costumam ser magnificados.
"Algumas cadeias erraram na política de crédito", afirma Fernando Tracanella, analista do Deutsche Bank . "Elas foram muito agressivas ao conceder prazos longos de financiamento."
Para ele, as empresas também erraram ao serem conservadoras para provisionar possíveis perdas com o crediário.
Nelson Barrizzelli, consultor especializado em varejo, diz que uma administração eficaz pode minimizar os efeitos de uma economia com juros altos, inadimplência elevada e alta taxa de desemprego.
"A Casas Bahia é muito agressiva na reabilitação do crédito, e isso faz a diferença. A G. Aronson já sofre com o fato de ter de operar com alto custo operacional."




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