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VAREJO
Inadimplência e juros elevados permitem a sobrevivência só das redes comerciais com grande fôlego financeiro
Crise faz a "seleção natural' das lojas
FÁTIMA FERNANDES
da Reportagem Local
A crise do comércio, provocada
por inadimplência e juros elevados, não está atingindo por igual
as redes de varejo.
Se a maioria dos lojistas reclama,
há quem identifique na adversidade chances de levar vantagem.
É o caso de Samuel Klein, dono
da Casas Bahia, cadeia de 250 lojas
e vendas anuais de R$ 2 bilhões.
Ele dá os números: paga juros de
1,8% ao mês e, na outra ponta, cobra 5,1% do consumidor. É uma
diferença que mais do que compensa a inadimplência, afirma.
"Quem dá esse ganho para a financeira não é esperto."
É o caso do seu concorrente
Girsz Aronson, dono da concordatária G. Aronson, com 19 lojas e
dívida de R$ 40 milhões. Sem recursos próprios, ele depende de financeira -o Banco Cacique-
para vender a crédito.
Os casos de Klein e Aronson
mostram que os juros estão se encarregando de fazer uma seleção
natural nas grandes redes de varejo, permitindo a sobrevivência
apenas dos mais fortes, ou seja,
dos que têm fôlego financeiro.
O problema é que o mau desempenho das vendas compromete a
capacidade de gerar caixa, dando
início a um círculo vicioso do qual
nem todos conseguem escapar.
Nada a comemorar
Analistas de investimento ouvidos pela Folha dizem que este semestre deverá ser melhor do que o
primeiro, perspectiva que não
chega a entusiasmar, já que se trata de variação sazonal, embora,
neste ano, possa ser intensificada
pelas próximas eleições.
Ninguém acredita que nos próximos meses as vendas vão disparar ou a inadimplência recue substancialmente.
A projeção da Federação do Comércio do Estado de São Paulo
não autoriza comemorações.
As vendas neste semestre devem
ser quase 4% maiores do que as
efetuadas em igual período de
1997. No ano, entretanto, haveria
queda de 3% a 5%.
Nesse ambiente, erros de administração e apostas equivocadas,
que em tempos de bonança não
teriam maiores consequências,
costumam ser magnificados.
"Algumas cadeias erraram na
política de crédito", afirma Fernando Tracanella, analista do
Deutsche Bank . "Elas foram muito agressivas ao conceder prazos
longos de financiamento."
Para ele, as empresas também
erraram ao serem conservadoras
para provisionar possíveis perdas
com o crediário.
Nelson Barrizzelli, consultor especializado em varejo, diz que
uma administração eficaz pode
minimizar os efeitos de uma economia com juros altos, inadimplência elevada e alta taxa de desemprego.
"A Casas Bahia é muito agressiva na reabilitação do crédito, e isso faz a diferença. A G. Aronson já
sofre com o fato de ter de operar
com alto custo operacional."
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