São Paulo, segunda, 20 de julho de 1998

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Empresário diz que terá dificuldade para conseguir pagar credores
Aronson vende lojas, mas não vê saída para a concordata

da Reportagem Local

Concordatário reincidente, Girsz Aronson está vivendo, aos 81, a primeira crise financeira para a qual não vê solução.
Desde o primeiro bilhete de loteria vendido em Curitiba, aos 12 anos, Aronson contabiliza quase sete decênios de comércio, ramo em que ele considera ter se dado sempre bem -até a concordata do início do ano.
Ele acha que não terá como arranjar, até março, R$ 16 milhões, valor da primeira parcela para sair dessa situação.
A venda de 13 das suas lojas -das quais 11 em shoppings- ao grupo Pão de Açúcar, segundo ele, vai lhe render R$ 9 milhões. O grupo está pagando mais R$ 4 milhões pelo estoque da rede, dinheiro que será usado para indenizar os funcionários. "Vou tentar convencer os fornecedores de que é melhor receber um pouco do que tenho a pagar do que nada", afirma. (FF)


Folha - Quando o sr. pediu a primeira concordata e por quê?
Girsz Aronson
- Em 1991, em razão das altas taxas de juros, da inadimplência e para não ter um título protestado por um banco. A dívida era de R$ 8 milhões, paga em cinco meses.
Folha - E a segunda?
Aronson
- Assim como na primeira, um banco me apertou em 97. Só que a dívida agora é maior, de R$ 40 milhões. Está mais difícil sair dessa. Tanto que estou me desfazendo de 13 lojas.
Folha - Como vai conseguir levantar o dinheiro?
Aronson
- Não sei. Os fornecedores não querem vender mercadorias, assim como estão fazendo com a Arapuã. Esses fabricantes asquerosos deveriam me dar força.
Folha - Como o sr. consegue mercadorias?
Aronson
- Estou comprando de concorrentes, como o Ponto Frio. Cheguei até a adquirir produtos na Arapuã.
Algumas empresas ainda vendem quando pago antecipado, mas isso quando estão com estoques altos.
Minha venda caiu muito. Faturava R$ 20 milhões por mês antes da concordata e agora não vendo nem R$ 10 milhões. Em 97, faturei R$ 250 milhões. Neste ano, devo vender a metade.
Folha - O sr. pretende reduzir a empresa?
Aronson
- O Pão de Açúcar comprou 13 lojas, das quais 11 em shoppings. Eles vão me pagar R$ 9 milhões pelos pontos e R$ 4 milhões pelo estoque. Já recebi um sinal. Estou entregando o filé mignon e ficando com o osso. Com esses R$ 9 milhões, vou tentar pagar a dívida toda.
Folha - O sr. quer vender a empresa?
Aronson
- Sinceramente, não. Tenho paixão pelo meu trabalho. Se eu vender isso eu morro no dia seguinte. Eu quero morrer onde trabalho (loja no centro de São Paulo).
Folha - O sr. está preparando a sua sucessão?
Aronson
- Não toca nesse assunto. Eu não sei se meus filhos vão ter capacidade para continuar meu trabalho. São filhos criados com carinho, com tudo o que quiseram. Eles não estão acostumados a sofrer na vida.
Quem trabalha comigo é apenas o Gerson, meu diretor financeiro, que estudou na FGV, fez pós-graduação na Suíça e fala quatro línguas. É um menino de ouro, mas não o preparei para esse comércio vil.
Os quatro tiram mais de R$ 10 mil por mês cada.
Folha - O sr. conversa com frequência com os Simeira Jacob, donos da Arapuã?
Aronson
- Sim. Eles estão arrasados. O Jorge Wilson era presidente de uma holding, que controlava, além da Arapuã, uma grande empresa, a Etti. Agora, ele administra uma concordata e procura um sócio.
Folha - Qual é o futuro das cadeias menores?
Aronson
Só vão sobrar os gigantes -Wal-Mart, Carrefour, Eletro, Makro e Ponto Frio.
Folha - Em quem o sr. vai votar para presidente?
Aronson
- Eu voto sempre no Fernando Henrique Cardoso.



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