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OPINIÃO ECONÔMICA
Curiosidade
JOÃO SAYAD
Será que o Tribunal do Júri
consegue apurar a verdade? O
advogado de defesa tem o compromisso de provar a inocência
do réu. O promotor está comprometido em provar que o réu
é culpado. O juiz, preocupado
apenas com os procedimentos.
E 12 jurados, leigos, inocentes,
têm de decidir. Será que dá certo?
E as discussões entre cientistas, serão melhores? Nesse caso,
o cientista que "descobriu",
"propôs" ou "inventou" tem
compromisso com a verdade, e
não com o invento. O outro, que
não acredita, também tem compromisso com a verdade, e não
em "desmascarar" o colega.
Mesmo assim não funciona
muito bem. Lembram-se daquele grupo que "descobriu" a
fissão a frio? Galileu quase foi
queimado vivo.
Em questões públicas, o debate se parece com a discussão
entre advogados e promotores.
O governo, por dever de ofício,
se considera responsável por tudo de bom e de ruim que está
acontecendo. Qualquer tema é
interpretado como acusação ou
crítica. Ex-governo não escapa
do problema -por que não fez
na sua vez?
A oposição é suspeita, acusada de inveja e rabugice. Se levantar um bom argumento, logo se segue a pergunta seguinte
-e qual é a solução?
Em resumo, razão comunicativa, no Brasil, não tem a menor probabilidade de sucesso.
Particularmente em época de
eleição. Por aqui não é possível
o diálogo franco, espontâneo,
livre de qualquer coerção.
Hoje, insisto na conversa desinteressada e em perguntas genuínas, para as quais não tenho
resposta.
O que aconteceu com a distribuição de renda no Brasil, desde 1994? O conceito de imposto
inflacionário e a idéia de que a
inflação é o mais regressivo dos
impostos não são sólidos. Compra de eletrodomésticos também não ajuda. Um sujeito com
salário mínimo não muda de
renda apenas porque carrega
um grande rádio barulhento
pela rua.
Quais foram os efeitos do aumento do salário mínimo?
Quais os impactos dos pagamentos generalizados de benefícios para o setor rural e trabalhadores de baixa renda feitos
pela Previdência? A reforma da
Previdência acabou com esses
benefícios?
A despesa com produtos alimentares alcança 40% da renda dos assalariados. A sobrevalorização cambial afetou preços
agrícolas domésticos e aumentou a renda real dos brasileiros
mais pobres? E o desemprego,
como afeta as diferentes classes
de renda?
O governo informa que a indústria brasileira passa pela
maior transformação do século.
Onde estão as novas indústrias?
São importantes? Por que são
invisíveis? Quem trabalha lá?
Qual a extensão da desindustrialização?
E as empresas que foram privatizadas, como vão indo?
É fácil produzir lucros no curto prazo. Basta renegociar alguns contratos, deixar de pagar
dívidas, fechar departamentos
de pesquisa e demitir funcionários. Isso tudo só interessa ao
acionista.
Quando o acionista é o governo, lucros representam ganhos
para todos os contribuintes.
Quando a empresa é privada, o
lucro não é relevante. Indica
monopólio e ineficiência.
Para o país, interessam a
competitividade e o nível de investimentos.
Será que as propriedades cruzadas -o setor siderúrgico investindo em energia, que investe em mineração, que investe
em transporte- aumentam ou
reduzem a competitividade?
Qual a opinião do ACDE?
Quem financiou a compra das
estatais? Quanto foi financiado
pelo BNDES e quanto pelos fundos de pensão das estatais? As
privatizadas são empresas mais
modernas, mais profissionais
do que as estatais? Como a venda das estatais reduziu o déficit
público se a compra foi em parte financiada pelo governo?
Você também tem a sensação
de que o Brasil, há muito tempo, está ficando mais pobre?
Que a classe média está diminuindo? Que a próxima geração tem dificuldades maiores
em achar empregos e, quando
acha, são empregos que exigem
menos formação do que na nossa época?
Será que o setor privado tem
ambições, coragem e loucura
suficientes para fazer investimentos arriscados e de tamanho significativo para fazer a
economia brasileira crescer?
Depois do café, da substituição
de importações e dos investimentos públicos, o que vai substituir e fazer a economia brasileira crescer? Parques temáticos
e telefones celulares?
Se o Brasil desvalorizar,
quanto as exportações podem
crescer? A média de crescimento
das exportações dos outros países é maior do que o crescimento das exportações brasileiras,
mas ainda é pequena. Como
crescer?
Não adianta perguntar se não
sabemos responder? Ninguém
precisa se preocupar com isso
tudo? Ou a pós-modernidade é
isso mesmo -as coisas vão
acontecendo alegre e desapercebidamente e acabam dando
certo?
João Sayad, 51, economista, professor da
Faculdade de Economia e Administração da
USP e ex-ministro do Planejamento (governo
José Sarney), escreve às segundas-feiras nesta coluna.
E-mail: jsayad@ibm.net
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