São Paulo, segunda, 20 de julho de 1998

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PAPÉIS AVULSOS
Sabesp busca redução do "risco político"

CRISTIANE PERINI LUCCHESI
da Reportagem Local

As ações ON (com direito a voto) da Sabesp, que vinham apresentando desempenho surpreendente, resistindo até ao furacão asiático, despencaram em junho. Após pequena recuperação, desvalorizaram 0,6% na semana passada, contra alta de 7,1% na Bolsa de Valores de São Paulo, segundo dados da Economática.
A venda de 15% a 20% do capital da empresa para um "parceiro estratégico", planejada pelo governo do Estado de São Paulo para acontecer em junho, não se realizou. "A expectativa era grande e o mercado se frustrou", diz Gabriel Jafet, administrador de renda variável da Oryx Asset Management.
O "parceiro estratégico", do setor privado, garantiria aos investidores alguma continuidade na gestão da empresa, completa Rony Stefano, analista do Deutsche Bank. O "parceiro" cortaria custos e reduziria o que Stefano chamou de "risco político": as eleições de outubro se aproximam e o quadro da sucessão em São Paulo está longe de uma definição.
O governo ainda não anunciou se a venda da participação na empresa acontece ou não, mas os analistas estão descrentes. "Quem vai se arriscar a comprar um pedaço minoritário de uma empresa e se tornar parceiro de um governador que pode não continuar lá?", pergunta Nicolas Balafas, administrador de recursos do Lloyds Asset Management.
"E, às vésperas das eleições, o governador Mário Covas pode ter muitos problemas políticos se insistir nessa história", diz ele.
Outro complicador para a participação de empresas privadas no setor de água e esgoto no país, apontado por Eduardo Roche, da Liberal Asset Management: não há regulamentação clara nem órgão regulador definido. Com isso, o "risco político" aumenta.
"Hoje, quem define as tarifas de água é o governo estadual. Se um candidato populista ganha as eleições em São Paulo e resolve baixar essas tarifas, os acionistas da Sabesp perdem", diz Stefano.
O secretário de Recursos Hídricos, Saneamento e Obras do Estado de São Paulo e presidente do Conselho de Administração da Sabesp, Hugo Marques da Rosa, reconhece o chamado "risco político". "Ele não apenas deprecia o valor das ações da Sabesp, mas também dificulta a busca de recursos por parte da empresa", afirmou ele em entrevista à Folha.
Segundo o secretário, o governo do Estado estuda medidas a serem adotadas ainda nesta gestão para evitar tal risco. "A busca de um parceiro estratégico é apenas uma das alternativas em estudo." Marques da Rosa promete para "os próximos dias" o anúncio dessas medidas, que ele não quis adiantar para não "criar expectativas".
Segundo ele, a venda de 15% a 20% do capital da Sabesp não foi feita em junho por causa da depreciação da ação. "Não vamos vender a Sabesp a qualquer preço." Ele negou que os questionamentos "de caráter político e eleitoral" tenham pesado na decisão.
O secretário anunciou que uma segunda versão do anteprojeto de regulamentação do setor será submetida ao Conselho Estadual de Saneamento em reunião no próximo dia 28. "Recebemos muitas contribuições de entidades do setor, que foram incorporadas", disse ele. O objetivo, segundo o secretário, é submeter o projeto à votação ainda neste ano.
O secretário disse que está negociando com os municípios inadimplentes, que não pagam a água fornecida pela Sabesp, formas de receber os atrasados.
Ele negou a rescisão de contratos da Sabesp com municípios (que têm a concessão dos serviços de água e esgoto) durante a gestão atual, do governador Mário Covas. "Houve os casos de Diadema e Mauá, em 95, mas que já haviam sido definidos antes." Segundo o secretário, a Sabesp ganhou a concessão de mais de 30 municípios novos desde o início de 97.
Com o município de São Paulo, não há contrato assinado, reconhece ele, e a lei permite diversas interpretações. "Entendemos que no caso da região metropolitana de São Paulo a concessão é do Estado. Mas só o Supremo Tribunal Federal ou uma emenda constitucional podem pôr um ponto final no assunto", diz o secretário.
Marques da Rosa acredita que há cortes de custos a serem feitos na Sabesp. "Mas eles devem ser graduais." O secretário pergunta se é a melhor hora para demissões, com tanto desemprego. "A tecnologia também tem custo."



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