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PAPÉIS AVULSOS
Sabesp busca redução do "risco político"
CRISTIANE PERINI LUCCHESI
da Reportagem Local
As ações ON (com direito a voto)
da Sabesp, que vinham apresentando desempenho surpreendente, resistindo até ao furacão asiático, despencaram em junho. Após
pequena recuperação, desvalorizaram 0,6% na semana passada,
contra alta de 7,1% na Bolsa de
Valores de São Paulo, segundo dados da Economática.
A venda de 15% a 20% do capital
da empresa para um "parceiro estratégico", planejada pelo governo do Estado de São Paulo para
acontecer em junho, não se realizou. "A expectativa era grande e o
mercado se frustrou", diz Gabriel
Jafet, administrador de renda variável da Oryx Asset Management.
O "parceiro estratégico", do setor privado, garantiria aos investidores alguma continuidade na
gestão da empresa, completa
Rony Stefano, analista do Deutsche Bank. O "parceiro" cortaria
custos e reduziria o que Stefano
chamou de "risco político": as
eleições de outubro se aproximam
e o quadro da sucessão em São
Paulo está longe de uma definição.
O governo ainda não anunciou
se a venda da participação na empresa acontece ou não, mas os
analistas estão descrentes. "Quem
vai se arriscar a comprar um pedaço minoritário de uma empresa e
se tornar parceiro de um governador que pode não continuar lá?",
pergunta Nicolas Balafas, administrador de recursos do Lloyds
Asset Management.
"E, às vésperas das eleições, o
governador Mário Covas pode ter
muitos problemas políticos se insistir nessa história", diz ele.
Outro complicador para a participação de empresas privadas no
setor de água e esgoto no país,
apontado por Eduardo Roche, da
Liberal Asset Management: não há
regulamentação clara nem órgão
regulador definido. Com isso, o
"risco político" aumenta.
"Hoje, quem define as tarifas de
água é o governo estadual. Se um
candidato populista ganha as eleições em São Paulo e resolve baixar
essas tarifas, os acionistas da Sabesp perdem", diz Stefano.
O secretário de Recursos Hídricos, Saneamento e Obras do Estado de São Paulo e presidente do
Conselho de Administração da Sabesp, Hugo Marques da Rosa, reconhece o chamado "risco político". "Ele não apenas deprecia o
valor das ações da Sabesp, mas
também dificulta a busca de recursos por parte da empresa", afirmou ele em entrevista à Folha.
Segundo o secretário, o governo
do Estado estuda medidas a serem
adotadas ainda nesta gestão para
evitar tal risco. "A busca de um
parceiro estratégico é apenas uma
das alternativas em estudo." Marques da Rosa promete para "os
próximos dias" o anúncio dessas
medidas, que ele não quis adiantar
para não "criar expectativas".
Segundo ele, a venda de 15% a
20% do capital da Sabesp não foi
feita em junho por causa da depreciação da ação. "Não vamos vender a Sabesp a qualquer preço."
Ele negou que os questionamentos
"de caráter político e eleitoral"
tenham pesado na decisão.
O secretário anunciou que uma
segunda versão do anteprojeto de
regulamentação do setor será submetida ao Conselho Estadual de
Saneamento em reunião no próximo dia 28. "Recebemos muitas
contribuições de entidades do setor, que foram incorporadas",
disse ele. O objetivo, segundo o secretário, é submeter o projeto à
votação ainda neste ano.
O secretário disse que está negociando com os municípios inadimplentes, que não pagam a água
fornecida pela Sabesp, formas de
receber os atrasados.
Ele negou a rescisão de contratos
da Sabesp com municípios (que
têm a concessão dos serviços de
água e esgoto) durante a gestão
atual, do governador Mário Covas. "Houve os casos de Diadema
e Mauá, em 95, mas que já haviam
sido definidos antes." Segundo o
secretário, a Sabesp ganhou a concessão de mais de 30 municípios
novos desde o início de 97.
Com o município de São Paulo,
não há contrato assinado, reconhece ele, e a lei permite diversas
interpretações. "Entendemos que
no caso da região metropolitana
de São Paulo a concessão é do Estado. Mas só o Supremo Tribunal
Federal ou uma emenda constitucional podem pôr um ponto final
no assunto", diz o secretário.
Marques da Rosa acredita que há
cortes de custos a serem feitos na
Sabesp. "Mas eles devem ser graduais." O secretário pergunta se é
a melhor hora para demissões,
com tanto desemprego. "A tecnologia também tem custo."
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