São Paulo, terça-feira, 20 de agosto de 2002

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COMÉRCIO EXTERIOR

Socorro para a falta de crédito virá das reservas internacionais; governo anuncia os detalhes hoje

BC vai emprestar US$ 2 bi para exportação

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Banco Central irá destinar US$ 2 bilhões das reservas internacionais do país para o financiamento das exportações. A liberação dos recursos faz parte do esforço do governo para compensar a falta de crédito externo para empresas brasileiras. O anúncio da medida ajudou a derrubar a cotação do dólar, que abriu em alta e começou a cair no final da manhã, fechando em R$ 3,105, em queda de 0,64%.
O cronograma de liberação dos recursos e a maneira pela qual as empresas terão acesso aos dólares das reservas devem ser divulgados oficialmente hoje. Mesmo antes de fechar os detalhes da operação, o BC preferiu anunciar ainda ontem o valor da operação, para tentar acalmar o mercado.
A falta de crédito externo tem sido apontada como uma das causas da alta do dólar. Segundo o Ministério do Desenvolvimento, a oferta de crédito à exportação caiu de R$ 16 bilhões para R$ 13 bilhões nas últimas semanas.
De acordo com o BC, os US$ 2 bilhões anunciados ontem farão parte de um "programa inicial", cujo valor poderá ser elevado caso o governo julgue necessário. O dinheiro será colocado aos poucos no mercado, por meio de leilões.
Além dos dólares das reservas internacionais, também serão destinados ao financiamento das exportações US$ 1,5 bilhão emprestado pelo BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e R$ 2 bilhões vindos do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador).
No caso do dinheiro do BID e do FAT, a parte operacional da concessão dos empréstimos será conduzida pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). O BNDES também terá mais US$ 400 milhões de bancos asiáticos e europeus. No total, os recursos anunciados pelo governo para as exportações nos últimos dez dias somam cerca de US$ 4,6 bilhões.
Quanto aos recursos das reservas, os técnicos do BC ainda trabalhavam ontem para finalizar o método a ser utilizado para fazer com que os recursos cheguem às mãos dos exportadores. O BC não pode emprestar o dinheiro diretamente para as empresas, pois a instituição só está autorizada a operar com bancos.
Mesmo nas transações com bancos, o BC só vende dólares por meio de leilões, normalmente feitos por meio de instituições financeiras por ele autorizadas -conhecidas no mercado como "dealers". Atualmente, não há mecanismo que garanta que os dólares vendidos pelo BC sejam usados para fins específicos, como o financiamento às exportações.
Os exportadores precisam de crédito para financiar a produção e o embarque das suas mercadorias para o exterior. Parte desses empréstimos é oferecida pelo governo, por meio do BNDES e do Banco do Brasil, e parte pelos bancos privados. Nesse último caso, o dinheiro é captado no mercado internacional e repassado para as empresas.
Com o aumento da desconfiança dos investidores em relação ao país, o crédito ao setor privado registrou uma forte retração, dificultando o acesso das empresas brasileiras ao crédito.
Essa retração afeta o mercado de câmbio de duas maneiras. Por um lado, empresas -exportadoras ou não- que possuem dívidas no exterior não conseguem renovar seus empréstimos e são obrigadas a quitá-los. Para isso, mandam dólares para fora do país, o que pressiona o dólar.
Além disso, há o caso específico dos exportadores, que poderiam aproveitar a alta do dólar para aumentar suas vendas para o exterior, mas acabam tendo suas vendas limitadas pela falta de crédito.


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