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LUÍS NASSIF
A lógica da Embratel
Nos últimos dias descrevi
duas visões de uma mesma questão: a gestão da Embratel. A análise de seus balanços mostra um aumento expressivo das despesas operacionais e
uma dependência perigosa das
ligações de longa distância. A
tal ponto que a empresa ingressou na Justiça para impedir a
entrada dos concorrentes fixos
cuja concorrência poderia destruir a Embratel em seis meses
-segundo declarações de um
alto dirigente.
Na primeira coluna atribuí
os resultados a erros de gestão
e de estratégia. Na segunda
coluna mostrei os argumentos da Embratel, sustentando
que os problemas não foram
de gestão, mas se deveram exclusivamente a práticas anticoncorrenciais das operadoras fixas e à competição predatória da Intelig, sua "empresa-espelho". Do lado das
operadoras fixas, os principais problemas teriam sido a
entrega de cadastros bichados de seus clientes e a cobrança de preços abusivos no
"co-billings" (cobrança conjunta) e da interconexão. Do
lado da Intelig, uma competição irracional. Por conta disso, diz a Embratel, aumentou
muito a inadimplência e, em
decorrência dela, os custos
operacionais para cobrança,
além dos pesados investimentos em publicidade.
A história da Embratel lembra a do caçador despreparado. Se está na selva e encontra
um leão, de duas uma: se tem
armas adequadas, enfrenta o
leão; se não tem, foge. O que a
Embratel preferiu foi se deixar devorar, para, depois,
atribuir a culpa ao leão.
Existem leões nessa selva,
mas qualquer planejamento
estratégico competente supõe
a clara identificação de riscos
e oportunidades.
A Embratel tem duas linhas
de atuação. Uma, as ligações
de longa distância, um varejo
que abarca empresas e pessoas físicas. Outra, o mercado
corporativo, em que entram
clientes pessoa jurídica,
"backbones" para internet
etc. No mercado corporativo
a Embratel reina absoluta,
graças à herança de seu período de estatal e à manutenção da excelência de seus serviços.
Já no mercado de longa distância, a história é outra. Sua
diretoria diz que a empresa é
operacionalmente eficiente,
que o estouro dos custos operacionais se deveu aos problemas enfrentados na longa
distância. Não fosse a explosão da inadimplência, dos investimentos em marketing e
da estrutura da cobrança dos
inadimplentes (tudo na longa
distância), seus indicadores
seriam similares aos das demais companhias. Além disso, confessa que, quatro anos
depois da privatização, a empresa ainda não possui um
cadastro confiável de clientes.
Há tempos havia sinais nítidos de crise mundial das operadoras de longa distância. É
quase impossível a elas sustentar competição com as
operadoras fixas, que têm o
acesso direto ao cliente. Além
disso, é um setor que exige pesados investimentos em marketing, já que é muito mais
fácil ao usuário trocar sua
operadora de longa distância
do que sua operadora fixa. E
essa facilidade levou a quedas
sucessivas de margem, para
não perder mercado. Escreve
o leitor Sérvio Túlio Prado:
"Uma ligação Nova York-Chicago de três minutos, antes da revolução digital, custava US$ 5,45. Hoje, por volta
de US$ 0,05, podendo ser encontrada gratuita. O negócio
atual da empresa está desaparecendo. Como ela não
procurou se diversificar?".
Em vez de reforçar e ampliar sua posição onde era
evidente sua vantagem corporativa, a Embratel optou
por segurar com unhas e dentes sua posição em um mercado sem futuro, quando o correto seria identificar antecipadamente esses problemas e
tratar de reduzir a dependência da longa distância, reforçando e agregando valor aos
produtos corporativos.
Se a culpa pelos problemas
da Embratel é ou não das
operadoras fixas, pouco importa. Briga-se com elas enquanto se reduzem as vulnerabilidades. Nada foi feito.
Agora, a sobrevivência da
empresa está nas mãos de
seus advogados.
E-mail - LNassif@uol.com.br
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