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LUÍS NASSIF
Os nós do modelo elétrico
Algumas semanas depois
de ter sido anunciada, a
proposta do novo modelo elétrico já permite uma decantação das críticas e uma definição dos pontos relevantes a serem trabalhados.
O ponto central do novo modelo é reduzir os riscos e a volatilidade do setor, a fim de permitir a volta dos investimentos.
Como se sabe, o modelo anterior definia contratos de longo
prazo de fornecimento de energia e, caso houvesse falta, a
compra no mercado livre para
suprir a diferença. O modelo
implodiu porque o mercado
era imperfeito, pois permitia
volatilidades totalmente disfuncionais.
O novo modelo define um
misto de mercado. O mercado
de longo prazo será entre as geradoras e um pool de 64 distribuidoras que trabalham com
consumidores cativos. Geradora que assinar contrato com o
pool terá assegurado o pagamento, independentemente de
riscos hidrológicos ou de outra
natureza. Haverá também um
mercado livre, entre produtores independentes que poderão
vender para o pool ou para outras empresas.
O novo modelo tira em parte
o risco das geradoras e o transfere para as distribuidoras, que
deverão pagar pela energia independentemente da inadimplência. Além disso, a tarifa a
ser cobrada pelo pool será uma
média do preço das várias
energias.
Quais os nós que ainda persistem no sistema?
A ferramenta básica de garantia de investimento do setor
(que exige capital de longo prazo) são os "recebíveis" -isto é,
os direitos sobre a receita futura dos empreendimentos. Do
lado das distribuidoras, enquanto não se resolver sua delicada situação financeira atual,
não haverá como disponibilizar "recebíveis" como garantia. Do lado das geradoras, a
dificuldade será em como trabalhar o conceito de pool. Entre as distribuidoras existem
empresas sólidas, mas outras
com larga tradição de inadimplência. Essa situação provocará dúvidas sobre a qualidade
dos "recebíveis".
Quanto aos índices de reajuste, o modelo propõe a criação
de um Índice Setorial, uma empresa-modelo monitorada pela
futura Fundação de Pesquisa
do Ministério de Minas e Energia, que irá definir um indicador mensal. Em geral empresas-modelo trabalham com situação ideal, em um setor que
convive com inadimplência
(especialmente do setor público) e com custo de capital altíssimo.
Pelo modelo, caberá às distribuidoras estimar sua demanda
futura. Se a distribuidora errar
por baixo, será punida, porque
terá de buscar energia no mercado livre. Se errar por cima, a
punição será menor. Poderá
haver uma indução que leve ao
excesso de demanda.
Existem problemas de ordem
regional com a história do
"mix" tarifário. Se o "mix" for
adotado, o consumidor do Paraná será prejudicado, porque
o Estado produz energia mais
barata que a média nacional.
Se não for adotado, punirá os
de Pernambuco, devido ao fato
de o Estado ter acreditado no
governo anterior e construído
uma termoelétrica a preços
mais elevados.
Essa soma de problemas
-inerentes a qualquer mudança de modelo- esconde
outro ainda mais sério. A implantação é basicamente complexa. E há uma corrida contra
o tempo que não pode ser perdida.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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