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São Paulo, quarta-feira, 20 de agosto de 2003

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PRÊMIO DE RISCO

Para Myron Scholes, laureado em 1997, mudanças de planejamento deixam estrangeiros reticentes

Ainda é arriscado investir no Brasil, diz Nobel

ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK

Prêmio Nobel de Economia por seus estudos sobre instrumentos financeiros de controle de risco, Myron Scholes diz que ainda é arriscado investir no Brasil.
"Há ainda muita incerteza no Brasil. As mudanças no planejamento deixam os estrangeiros reticentes", diz Scholes, que estará no Brasil nesta semana (leia texto ao lado).
Scholes entrou para história econômica por ser co-autor de umas mais famosas teorias do estudo de instrumentos financeiros, conhecida como Black-Scholes, uma proposta, divulgada em 1973, para precificar opções. O Nobel veio em 1997.
O economista diz que, após as crises dos anos 90, o mercado está mais temeroso em relação aos países emergentes. Mas isso não quer dizer que consegue medir com mais precisão o risco de investir nesses lugares.
Depois de obter seu doutorado em Chicago, Scholes, 62, mudou-se para a Califórnia, onde é professor da Universidade Stanford.
Após o Nobel, seu nome voltou às manchetes por um fato não tão positivo. O fundo Long Term Capital Management, administrado por ele e por outros prêmios Nobel, precisou ser socorrido para não quebrar e provocar uma grande crise no mercado financeiro. Scholes não gosta de falar sobre isso. "Não vou mais responder a essa pergunta."

Folha - Muita gente diz que o mercado financeiro melhorou a habilidade em calcular riscos de investimentos em mercados emergentes após as crises dos anos 90. Essa melhora foi tão boa assim?
Myron Scholes -
Há ainda muitas dificuldades em investir nos chamados países subdesenvolvidos. É muito duro calcular o risco de investimento nesses países, especialmente porque há muita diferença de informação entre o investidor doméstico e o estrangeiro. Há sempre muita preocupação sobre quais são os direitos de propriedade -essencialmente, se você pode tirar seu dinheiro de volta e que lucro faria nesses países. Acho que o risco ainda está lá. As pessoas estão tentando entender isso, mas é muito difícil.

Folha - Mas o sr. acha que as pessoas que trabalham no mercado têm melhores instrumentos para calcular os riscos ou eles são tão desconhecidos quanto eram dez anos atrás?
Scholes -
Os riscos são tão desconhecidos quanto eram. As pessoas estão mais cautelosas da possibilidade de choques, como os que ocorreram no final dos anos 90 na América do Sul. Então, estão mais ligadas nesses riscos, estão tentando medi-los com mais cuidado. Mas é ainda muito difícil medir esses riscos.
Por outro lado, você tem alguns países como Coréia do Sul, Tailândia e China que estavam em forma muito ruim em 1997 e que se recuperaram significativamente, e os investimentos ocorreram. Na Rússia também está algo melhor, mas o prêmio de risco é muito alto, porque os investidores não têm confiança suficiente nos direitos de propriedades, se poderão preservar seus investimentos.
O que aconteceu é que os horizontes de investimento estão mais curtos. Em vez de os investidores quererem investir dez anos antes de pegar seu rendimento, estão agora querendo investir por um período mais curto.

Folha - Mas isso não é bom para os emergentes, certo?
Scholes -
Isso não é bom.

Folha - E há algo que eles possam fazer ou é sentar e esperar?
Scholes -
É fato que, sejam boas ou ruins, as regras nos EUA, os direitos de propriedade, estão aí há muitos anos. Com as mudanças de regras que ocorreram nos mercados emergentes você tem que ter investimentos de prazo mais curto, o que não é bom para os países.

Folha - O sr. falou sobre os casos da Coréia do Sul, da Rússia. Quais os riscos de fazer investimentos no Brasil hoje?
Scholes -
Há ainda obviamente muita incerteza no Brasil. O Brasil sempre teve -pelas minhas leituras, não sou um especialista- maravilhosos pequenos empresários. Por outro lado, no topo disso, existe muito planejamento coletivo. Há dois tipos de mundo. Um é um ambiente competitivo, de livre comércio. E você tem uma visão de planejamento, uma visão de planejamento pelo Estado. Isso sempre causou dificuldades para os investidores estrangeiros. Para os pequenos empreendedores que vocês têm no Brasil, é algo maravilhoso.
Mas, para os estrangeiros que querem fazer investidores maiores, é mais difícil, por causa do controle que existe no nível do governo federal. As mudanças no planejamento coletivo deixam os estrangeiros reticentes em relação a fazer investimentos.

Folha - O Brasil poderá discutir um novo acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional). Qual a importância de ter o apoio do FMI para acalmar o mercado? Vale a pena reduzir investimentos, gastos sociais e crescimento?
Scholes -
Obviamente, o FMI quer proteger seu empréstimo. O país tem que decidir se os custos associados com as restrições impostas pelo empréstimo do FMI são coerentes com o crescimento e o investimentos do país. Você pode acabar numa situação em que reduz o custo de sua dívida ao custo de diminuição no crescimento do país. O custo é porque você quase garante que a dívida será paga.

Folha - O sr. investe no Brasil?
Scholes -
Pessoalmente, não invisto no Brasil. Indiretamente, talvez possa investir no Brasil, com os fundos em que aplico.


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