|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PRÊMIO DE RISCO
Para Myron Scholes, laureado em 1997, mudanças de planejamento deixam estrangeiros reticentes
Ainda é arriscado investir no Brasil, diz Nobel
ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK
Prêmio Nobel de Economia por
seus estudos sobre instrumentos
financeiros de controle de risco,
Myron Scholes diz que ainda é arriscado investir no Brasil.
"Há ainda muita incerteza no
Brasil. As mudanças no planejamento deixam os estrangeiros reticentes", diz Scholes, que estará
no Brasil nesta semana (leia texto
ao lado).
Scholes entrou para história
econômica por ser co-autor de
umas mais famosas teorias do estudo de instrumentos financeiros,
conhecida como Black-Scholes,
uma proposta, divulgada em
1973, para precificar opções. O
Nobel veio em 1997.
O economista diz que, após as
crises dos anos 90, o mercado está
mais temeroso em relação aos
países emergentes. Mas isso não
quer dizer que consegue medir
com mais precisão o risco de investir nesses lugares.
Depois de obter seu doutorado
em Chicago, Scholes, 62, mudou-se para a Califórnia, onde é professor da Universidade Stanford.
Após o Nobel, seu nome voltou
às manchetes por um fato não tão
positivo. O fundo Long Term Capital Management, administrado
por ele e por outros prêmios Nobel, precisou ser socorrido para
não quebrar e provocar uma
grande crise no mercado financeiro. Scholes não gosta de falar
sobre isso. "Não vou mais responder a essa pergunta."
Folha - Muita gente diz que o
mercado financeiro melhorou a habilidade em calcular riscos de investimentos em mercados emergentes após as crises dos anos 90.
Essa melhora foi tão boa assim?
Myron Scholes - Há ainda muitas
dificuldades em investir nos chamados países subdesenvolvidos.
É muito duro calcular o risco de
investimento nesses países, especialmente porque há muita diferença de informação entre o investidor doméstico e o estrangeiro. Há sempre muita preocupação sobre quais são os direitos de
propriedade -essencialmente, se
você pode tirar seu dinheiro de
volta e que lucro faria nesses países. Acho que o risco ainda está lá.
As pessoas estão tentando entender isso, mas é muito difícil.
Folha - Mas o sr. acha que as pessoas que trabalham no mercado
têm melhores instrumentos para
calcular os riscos ou eles são tão
desconhecidos quanto eram dez
anos atrás?
Scholes - Os riscos são tão desconhecidos quanto eram. As pessoas estão mais cautelosas da possibilidade de choques, como os
que ocorreram no final dos anos
90 na América do Sul. Então, estão mais ligadas nesses riscos, estão tentando medi-los com mais
cuidado. Mas é ainda muito difícil
medir esses riscos.
Por outro lado, você tem alguns
países como Coréia do Sul, Tailândia e China que estavam em
forma muito ruim em 1997 e que
se recuperaram significativamente, e os investimentos ocorreram.
Na Rússia também está algo melhor, mas o prêmio de risco é muito alto, porque os investidores
não têm confiança suficiente nos
direitos de propriedades, se poderão preservar seus investimentos.
O que aconteceu é que os horizontes de investimento estão mais
curtos. Em vez de os investidores
quererem investir dez anos antes
de pegar seu rendimento, estão
agora querendo investir por um
período mais curto.
Folha - Mas isso não é bom para
os emergentes, certo?
Scholes - Isso não é bom.
Folha - E há algo que eles possam
fazer ou é sentar e esperar?
Scholes - É fato que, sejam boas
ou ruins, as regras nos EUA, os direitos de propriedade, estão aí há
muitos anos. Com as mudanças
de regras que ocorreram nos mercados emergentes você tem que
ter investimentos de prazo mais
curto, o que não é bom para os
países.
Folha - O sr. falou sobre os casos
da Coréia do Sul, da Rússia. Quais
os riscos de fazer investimentos no
Brasil hoje?
Scholes - Há ainda obviamente
muita incerteza no Brasil. O Brasil
sempre teve -pelas minhas leituras, não sou um especialista-
maravilhosos pequenos empresários. Por outro lado, no topo disso, existe muito planejamento coletivo. Há dois tipos de mundo.
Um é um ambiente competitivo,
de livre comércio. E você tem uma
visão de planejamento, uma visão
de planejamento pelo Estado. Isso
sempre causou dificuldades para
os investidores estrangeiros. Para
os pequenos empreendedores
que vocês têm no Brasil, é algo
maravilhoso.
Mas, para os estrangeiros que
querem fazer investidores maiores, é mais difícil, por causa do
controle que existe no nível do governo federal. As mudanças no
planejamento coletivo deixam os
estrangeiros reticentes em relação
a fazer investimentos.
Folha - O Brasil poderá discutir
um novo acordo com o FMI (Fundo
Monetário Internacional). Qual a
importância de ter o apoio do FMI
para acalmar o mercado? Vale a pena reduzir investimentos, gastos sociais e crescimento?
Scholes - Obviamente, o FMI
quer proteger seu empréstimo. O
país tem que decidir se os custos
associados com as restrições impostas pelo empréstimo do FMI
são coerentes com o crescimento
e o investimentos do país. Você
pode acabar numa situação em
que reduz o custo de sua dívida ao
custo de diminuição no crescimento do país. O custo é porque
você quase garante que a dívida
será paga.
Folha - O sr. investe no Brasil?
Scholes - Pessoalmente, não invisto no Brasil. Indiretamente, talvez possa investir no Brasil, com
os fundos em que aplico.
Texto Anterior: Luís Nassif: Os nós do modelo elétrico Próximo Texto: Economista participa de Congresso em SP Índice
|