São Paulo, sexta-feira, 20 de agosto de 2004

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CAPITAL EXTERNO

Apesar de ganhos no Brasil e na América Latina, maiores companhias americanas elegem a Ásia como prioridade

Múltis lucram, mas não planejam investir

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

As maiores empresas norte-americanas com negócios no Brasil voltaram a ganhar dinheiro no país, mas ainda não fazem nenhuma menção a novos investimentos, cruciais para garantir um crescimento sustentável.
Segundo os balanços recém-divulgados nos EUA por essas companhias, países da Ásia como China e Índia -vistos hoje como novos "parceiros" pelo governo brasileiro- continuam na lista de prioridades para investimentos, em detrimento do Brasil.
Na comparação com o desempenho no Brasil, os resultados dos negócios das americanas nos mercados asiáticos têm sido substancialmente maiores.
As conclusões fazem parte da leitura dos balanços de 15 grandes empresas dos EUA enviados até esta semana à SEC (Securities and Exchange Commission, a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA). Os resultados referem-se ao período de abril a junho.
"A decisão sobre novos investimentos americanos no Brasil, se houver, será tomada apenas no final do ano", afirma o empresário Sergio Haberfeld, presidente da Câmara Americana de Comércio e da Dixie Toga. Ele diz que vários empresários americanos têm visitado o Brasil nas últimas semanas para produzir relatórios.
"Embora o mercado brasileiro se mostre promissor, somente agora as empresas começam a sentir segurança na área financeira do governo Lula", diz Haberfeld. "E temos concorrentes bravos na Ásia, que estão dando a alma por novos investimentos."
Entre as maiores companhias, a General Motors diz em seu balanço que o aumento médio de 20% nas vendas na América Latina no segundo trimestre foi superior ao resultado obtido no Brasil, de 17%. A GM destaca que o crescimento no Brasil deu-se "sobre os níveis recessivos de 2003". A empresa teve receita líquida de US$ 10 milhões na América Latina, após ter perdido US$ 103 milhões no mesmo período de 2003.
Enquanto a GM vendeu 999 mil automóveis no período em toda a região, a China sozinha absorveu 1,3 milhão. A Ásia como um todo, 4,1 milhões. No último mês de que trata o balanço, a GM anunciou planos de investir US$ 3 bilhões na China nos próximos três anos.
A Kodak segue o mesmo padrão. As vendas para todos os países emergentes aumentaram 21% no segundo trimestre, para US$ 730 milhões. No caso da China, o aumento foi de 82%. Da Rússia, 16%, e da Índia, 13%. No Brasil, a alta foi de apenas 6%, na frente somente do México (3%).
A Kodak destaca a assinatura de um acordo de 20 anos com a China Lucky Film Corp. e a compra de 20% da Lucky Film Ltda., maior fabricante chinesa de filmes fotográficos. A Kodak também fala em novos investimentos na área de distribuição na Rússia.
Outras empresas, como a Xerox, anunciam "cortes de custos". Após queda nos ganhos no primeiro semestre, a companhia diz que "medidas adicionais de aumento de produtividade são consideradas para a América Latina na segunda metade do ano".
A Goodyear é outra a destacar o forte desempenho da Ásia na comparação com América Latina e Brasil. As vendas no segmento de pneus cresceram 37% na Ásia. Na América Latina, apenas 5,3%.


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