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OPINIÃO ECONÔMICA
Os riscos do crescimento econômico
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
Na semana passada, iniciei
uma reflexão sobre a dinâmica do crescimento econômico
que atinge a grande maioria das
economias do mundo neste ano
de 2004. Mostrei que existem hoje
dois grandes pólos de dinamismo,
as economias americana e chinesa, que estão estimulando via comércio internacional a atividade
econômica de outras nações. Com
isso, o nível de atividade da economia mundial recuperou-se do
grande choque recessivo provocado pela explosão da bolha especulativa com ações de tecnologia, no
início do novo século, em Wall
Street.
Como ocorre freqüentemente
na história, foram condições não
previsíveis pelo ser humano que
provocaram essa inflexão na atividade da economia global, a partir de 2003. Muitos analistas vão
dizer que a recuperação da atividade econômica foi fruto da conjugação da redução de impostos
nos EUA com a política de taxas
de juros próxima de zero adotada
pelo Fed, a partir da explosão da
citada bolha especulativa. Digo
eu que essa análise é apenas uma
meia verdade, ou melhor, um terço da verdade.
Essa receita keynesiana, adotada pelo governo americano, e a
ação do Fed tiveram importância
na retomada da atividade econômica nos Estados Unidos, mas
não explica na sua íntegra o que
está ocorrendo no mundo hoje. A
eficácia dessa receita keynesiana
foi aumentada de forma marcante pela presença da China no cenário internacional. Com a economia chinesa atingindo hoje
uma dimensão significativa em
relação ao PIB mundial, a intensidade de seu crescimento passou
a pesar de forma marcante na dinâmica da economia global dos
dias de hoje.
Mostrando uma capacidade
impressionante de modular estrategicamente seus passos para se
transformar em uma das maiores
economias do mundo, o governo
chinês resgatou a imagem do planejamento econômico estatal,
que estava na sarjeta, a partir do
colapso do império soviético. Partindo de uma leitura estratégica
feita pela liderança do PC depois
do colapso do maoísmo, ao longo
de mais de três décadas, o governo foi construindo o arcabouço de
um sistema econômico híbrido,
com planejamento e controle estatal e a liberdade de mercado
coexistindo lado a lado.
A partir desse desenho feito no
passado, as lideranças que se sucederam no governo de Pequim
-outra herança dos tempos de
Deng Xiaoping- foram tomando decisões temporais com grande
eficiência. Mostrando uma grande expertise em economia, construíram um equilíbrio eficiente
entre o planejamento estatal e a
racionalidade macroeconômica
do sistema de mercado. Essa era
uma das críticas fundamentais
feitas pelos companheiros de
Deng Xiaoping ao modelo soviético. Para que uma economia planificada viesse a ter êxito, diziam
eles, era necessária a existência de
um espaço econômico livre a fim
de que os problemas estruturais
pudessem ser identificados e enfrentados a tempo. A existência
desses sensores de racionalidade
seria fundamental para a própria
sobrevivência do sistema político.
Vários analistas ocidentais que
têm acompanhado a política econômica do governo chinês ficam
espantados com o nível de seu conhecimento da teoria econômica
capitalista e de sua capacidade de
articular as ações de mercado
com os ditames de uma economia
planificada. Tomemos o exemplo
do sistema financeiro chinês. A
grande maioria dos bancos é controlada pelo governo e responde
de forma clara às orientações
emanadas de sua cúpula econômica. Mas já há um nascente sistema privado de crédito, inclusive
no segmento de financiamento ao
consumo, setor em que o sistema
bancário oficial não tem grande
experiência.
Para mim, um exemplo marcante dessa expertise chinesa foi a
habilidade em montar um mecanismo de viabilizar suas exportações para os Estados Unidos. O eixo da estratégia chinesa atual
passa pela realização de um grande saldo comercial com os norte-americanos, para financiar suas
importações de equipamentos e
commodities da Ásia, da Europa
e do mundo emergente. Para tal, é
necessária uma política cambial
que evite a valorização de sua
moeda em relação ao dólar norte-americano. Isso está sendo obtido
via uma intervenção maciça do
BC chinês nos mercados de câmbio, comprando o dólar excedente
de seus exportadores e reciclando-o de volta aos Estados Unidos, via
compra de títulos do Tesouro norte-americano.
A questão principal que divide
os analistas econômicos hoje é a
estabilidade dessa ciranda financeira ao longo do tempo. Voltaremos a essa questão proximamente.
Luiz Carlos Mendonça de Barros, 61,
engenheiro e economista, é sócio e editor do site de economia e política Primeira Leitura. Foi presidente do BNDES e
ministro das Comunicações (governo
FHC).
Internet: www.primeiraleitura.com.br
E-mail - lcmb2@terra.com.br
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