São Paulo, sábado, 20 de agosto de 2005

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COMBUSTÍVEIS

Analistas vêem na ação barreira ao uso do gás natural; até Petrobras diz que não reajustava para incentivar produto

Alta de preço pode desestimular consumo

DA FOLHA ONLINE, NO RIO

O aumento nos preços do gás natural animou o mercado financeiro, mas críticos avaliam que a medida pode servir como um desestímulo o consumo do produto no país.
A própria Petrobras destaca que manteve os preços do gás natural de produção nacional inalterados desde janeiro de 2003 com o objetivo de estimular o consumo e desenvolver uma política comercial que garanta competitividade ao produto.
Segundo o diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura, Adriano Pires, o objetivo da estatal é conter o crescimento do consumo de gás natural no país. "A razão principal do reajuste é tentar mitigar via preço o risco de falta de gás. O governo está preocupado com a hipótese de um novo apagão em 2009", afirmou. Desde 1994, o consumo de gás no país cresceu 700%, segundo dados da Abegás (Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado).
Para o diretor, o cenário é similar ao de outras fontes de energia estimuladas pelo governo que mostraram não ter capacidade de atender a demanda. "O governo começou a incentivar o uso dessa fonte, com o estímulo para os carros a gás e para que os empresários usassem gás industrial. Isso é uma repetição do que já vimos com o álcool", disse.
O secretário de Energia, Indústria Naval e Petróleo do Estado do Rio de Janeiro, Wagner Victer, classificou o reajuste como um equívoco. Segundo o secretário, as variações cambiais compensaram o aumento da taxação na Bolívia. Ele afirma também que a estatal não tinha necessidade de reajustar o gás produzido no país porque sua produção é associada ao petróleo. A área de Gás & Energia da estatal registrou lucro de R$ 153 milhões no primeiro semestre deste ano. Em igual período de 2004, a área havia registrado prejuízo de R$ 326 milhões.
"A política de preços dos energéticos no país virou um "samba do crioulo doido". Falta transparência na formação de preços da Petrobras, que controla 100% do fornecimento de gás no país", afirmou.
Em relatório, o analista do banco Brascan, Luiz Caetano, afirma que, embora a notícia do reajuste seja positiva no curto prazo, os aumentos poderão limitar a expansão futura das vendas de combustível.
"Nos últimos três anos, a venda de gás natural cresceu numa média anual de 17,5%. Porém os aumentos de preço e toda a dúvida quanto ao fornecimento do gás da Bolívia trarão incertezas para os possíveis novos usuários do produto, o que, seguramente, limitará sua utilização", escreveu.
(JANAINA LAGE)


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