|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Transferência de renda a bancos é "brutal"
Pelo crédito recebido em 2005, as pessoas físicas pagaram 44% a mais só em juros; taxa ao consumidor supera 100% ao ano
Transferência se dá do setor
público, que paga com o
dinheiro de impostos os
salários de servidores e
pensionistas, e do privado
DA REPORTAGEM LOCAL
Além de ter dado "um gás"
considerado limitado e até "artificial" ao consumo, o aumento do crédito no Brasil nos últimos meses produziu uma enorme transferência de recursos
do setor público e da renda dos
assalariados para os bancos.
No Brasil, o crédito total concedido representa apenas
32,1% do PIB (Produto Interno
Bruto). A média internacional é
maior do que 100%.
Aqui, o principal problema
para a expansão dos empréstimos são os juros e a renda.
Em julho, segundo dados da
Anefac, que reúne estatísticas
desse mercado, o juro mensal
médio subiu para 6,24% ao mês
(106,7% ao ano), o maior patamar desde setembro de 2003
-apesar de o juro básico do BC
ter caído de 19,75% para 14,75%
nos últimos 11 meses.
Pelo total do crédito recebido
em 2005, as pessoas físicas pagaram 44% a mais só por conta
dos juros. Para R$ 155,2 bilhões
em crédito foram pagos R$ 67,6
bilhões de juros.
"É uma transferência de renda brutal para o setor financeiro", afirma o economista Marcel Solimeo, da ACSP.
Essa transferência se dá tanto do setor público, que paga os
salários de seus servidores, dos
aposentados e demais beneficiários da Previdência Social,
quanto dos assalariados privados que tomam empréstimos.
No caso do setor público, é
como se o governo arrecadasse
impostos para pagar salários
que viram juros para os bancos.
Fôlego curto
Os juros altos também emperram o fôlego do crédito como motor econômico. No limite, o consumidor chega a pagar
duas vezes por um mesmo produto -uma pelo bem, outra pelos juros.
Segundo Reinaldo Pereira,
gerente da Pesquisa Mensal de
Comércio do IBGE, o fôlego do
crédito está no fim. "As pessoas
estão no limite do endividamento, e a inadimplência mostra isso", afirma.
Para o IBGE, as vendas de
bens duráveis (móveis e eletrodomésticos) são o melhor termômetro para avaliar o fim
desse fôlego -já que esses bens
são geralmente financiados.
No primeiro semestre de
2006, as vendas de bens duráveis cresceram 9%. No mesmo
período de 2005, o volume foi
duas vezes maior (19,7%).
Antonio Carlos Borges, economista da Fecomercio SP, diz
que, além dos juros, o problema
é que a renda não cresce a uma
velocidade compatível com a
do crédito. "Sem a renda crescendo mais forte, não há novos
consumidores no mercado. A
tendência é de queda no comércio até o final do ano."
Sergio Vale, economista da
MB Associados, diz que a renda
em 2006 está crescendo por
causa do reajuste real do mínimo e da ampliação dos programas sociais e subsidiados (via
Previdência) do governo. "Isso
não se repetirá em 2007", diz.
Carlos Henrique de Almeida,
assessor econômico da Serasa,
empresa de análise de crédito,
afirma que a inadimplência fez
acender um "sinal amarelo" no
mercado.
Almeida acredita, no entanto, que o crédito ainda terá algum fôlego como estímulo ao
crescimento econômico daqui
em diante.
(FERNANDO CANZIAN)
Texto Anterior: Rubens Ricupero: Limites do poder Próximo Texto: Frase Índice
|