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Foco
Endividados correm atrás de novo crédito para pagar
outras dívidas já vencidas
DA REPORTAGEM LOCAL
A rua São Bento, no centro
de São Paulo, é um verdadeiro
"corredor polonês" de oferta
de crédito. Em menos de 500
metros, há mais de duas dezenas de lojas e centenas de funcionários oferecendo dinheiro
a todos os que passam.
A "hipercompetição" entre
as empresas nessa área (com a
conseqüente diminuição da
seletividade) é considerada um
dos principais riscos para uma
explosão da inadimplência no
crédito ao consumidor.
Para atrair os aposentados
para o crédito consignado na
São Bento, a financeira Cacique tem como garota-propaganda a atriz Nair Belo nos cartazes; o Panamericano, a apresentadora Hebe Camargo.
O baiano João (ele prefere
não ser identificado), 49, estava na São Bento na quinta-feira atrás de dinheiro. Aposentado por invalidez, ele recebe R$
1.200 da Previdência e há seis
meses tomou emprestados R$
4.500. Comprou um carro e
agora está apertado.
João pagou apenas 6 das 18
prestações de R$ 329 que assumiu e já estuda um crédito de
R$ 3.900. Da primeira vez, cobraram dele juro de 1,54% ao
mês. Agora, querem 3,5%.
"Acho que não vai ter jeito.
Preciso do dinheiro para pagar
outras dívidas", afirma.
A aposentada Antonia Rita,
55, também foi à São Bento na
semana passada atrás de novo
empréstimo para pagar contas
em atraso. Ela ainda tem pela
frente quatro prestações de
um outro financiamento, de
R$ 2.000, que tomou no ano
passado.
Quem quer dinheiro?!
Na visita à São Bento, a reportagem recebeu 21 folhetos
de diferentes financeiras. O
funcionário da Finasa oferecia
um empréstimo equivalente a
200% do total da renda se o
cliente fosse assalariado. Se
fosse correntista do Bradesco,
poderia até ser mais. Os juros
cobrados seriam de 5,7% ao
mês (mais de 94% ao ano).
Na Crefisa ("Onde seu talão
de cheques vale dinheiro!!"),
ofereciam crédito de 200%. Os
juros? "Cobrimos qualquer
oferta", disse o atendente.
Alguns bancos, como o
HSBC, já colocaram propositadamente o pé no freio na concessão de crédito para diminuir o risco de inadimplência.
Na visão do banco, enquanto a
renda não subir mais e os juros
não caírem, a regra a ser adotada é uma só: "cautela".
No Unibanco, as operações
de crédito pessoal também foram reduzidas depois que a
inadimplência saltou de 4,1%
do total da carteira há um ano
para 7,5% hoje.
(FCZ)
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