São Paulo, domingo, 20 de agosto de 2006

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Foco

Endividados correm atrás de novo crédito para pagar outras dívidas já vencidas

DA REPORTAGEM LOCAL

A rua São Bento, no centro de São Paulo, é um verdadeiro "corredor polonês" de oferta de crédito. Em menos de 500 metros, há mais de duas dezenas de lojas e centenas de funcionários oferecendo dinheiro a todos os que passam.
A "hipercompetição" entre as empresas nessa área (com a conseqüente diminuição da seletividade) é considerada um dos principais riscos para uma explosão da inadimplência no crédito ao consumidor.
Para atrair os aposentados para o crédito consignado na São Bento, a financeira Cacique tem como garota-propaganda a atriz Nair Belo nos cartazes; o Panamericano, a apresentadora Hebe Camargo.
O baiano João (ele prefere não ser identificado), 49, estava na São Bento na quinta-feira atrás de dinheiro. Aposentado por invalidez, ele recebe R$ 1.200 da Previdência e há seis meses tomou emprestados R$ 4.500. Comprou um carro e agora está apertado.
João pagou apenas 6 das 18 prestações de R$ 329 que assumiu e já estuda um crédito de R$ 3.900. Da primeira vez, cobraram dele juro de 1,54% ao mês. Agora, querem 3,5%. "Acho que não vai ter jeito. Preciso do dinheiro para pagar outras dívidas", afirma.
A aposentada Antonia Rita, 55, também foi à São Bento na semana passada atrás de novo empréstimo para pagar contas em atraso. Ela ainda tem pela frente quatro prestações de um outro financiamento, de R$ 2.000, que tomou no ano passado.

Quem quer dinheiro?!
Na visita à São Bento, a reportagem recebeu 21 folhetos de diferentes financeiras. O funcionário da Finasa oferecia um empréstimo equivalente a 200% do total da renda se o cliente fosse assalariado. Se fosse correntista do Bradesco, poderia até ser mais. Os juros cobrados seriam de 5,7% ao mês (mais de 94% ao ano).
Na Crefisa ("Onde seu talão de cheques vale dinheiro!!"), ofereciam crédito de 200%. Os juros? "Cobrimos qualquer oferta", disse o atendente.
Alguns bancos, como o HSBC, já colocaram propositadamente o pé no freio na concessão de crédito para diminuir o risco de inadimplência. Na visão do banco, enquanto a renda não subir mais e os juros não caírem, a regra a ser adotada é uma só: "cautela".
No Unibanco, as operações de crédito pessoal também foram reduzidas depois que a inadimplência saltou de 4,1% do total da carteira há um ano para 7,5% hoje. (FCZ)


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