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Política para crescimento é "artificial", diz economista do Ipea
DA REPORTAGEM LOCAL
O economista Roberto Pires
Messenberg, pesquisador do
Ipea, ligado ao Ministério do
Planejamento, qualifica como
"artificiais" e "insustentáveis"
as atuais políticas que sustentam o crescimento econômico.
Messenberg foi secretário-adjunto de Política Econômica
do Ministério da Fazenda nos
três primeiros anos do governo
Lula e ex-assessor da mesma
secretaria no governo FHC.
A seguir, os principais trechos da entrevista à Folha.
(FCZ)
FOLHA - Há um esgotamento do
crédito como motor da economia?
ROBERTO MESSENBERG - A aposta
do governo era que o aumento
do crédito gerasse elevação do
consumo e da renda que desembocaria em crescimento da
produção, do emprego e, principalmente, dos investimentos.
Ou seja, que traria um efeito
multiplicador e um círculo virtuoso. Discordo disso. Não se
pode sustentar o crescimento
assim, pois é preciso que a taxa
geral de investimento cresça na
mesma proporção, e não é o
que temos visto. Além disso, o
aumento do crédito ficou muito baseado nas classes pobres,
que são mais sujeitas ao desemprego e a cálculos equivocados
sobre juros e prestações.
FOLHA - O crédito é mais um elemento a balançar no tripé montado
pelo governo para sustentar o crescimento? Ou seja: 1) crédito; 2) Bolsa-Família e programas assistenciais
subsidiados pela Previdência; e 3)
aumentos reais do salário mínimo e
criação de mais empregos precários,
com 90% pagando só até R$ 700?
MESSENBERG - Muito disso tudo
fez parte de um processo de
transferência de renda promovido pelo setor público. Os programas assistencialistas injetaram um poder de compra
maior na economia. Isso dá um
gás no consumo e faz com que o
ritmo seja mantido por algum
tempo. Mas é insustentável.
Pois, de outro lado, essas transferências causaram um problema de déficit público. E não
contaminaram o ânimo empresarial para um investimento
substantivo. Não vejo isso pela
frente. É um equilíbrio instável
e precário o que temos. No crédito, certamente os números
mostram que as taxas são continuamente cadentes. Como o
crédito à pessoa física desacelerou, a política do governo agora
é alavancar o crédito direcionado, principalmente em habitação e no setor rural.
FOLHA - Há também um teto, não?
MESSENBERG - Exatamente. No
momento atual, já temos os
créditos de repasses diretos do
BNDES desacelerando bastante e, embora os setores imobiliário e rural ainda cresçam,
eles começam a ter taxas cadentes. E não compensam mais
a desaceleração do crédito. Claramente, o que o governo está
fazendo é tentar, através do
crédito direcionado, elevar a taxa de investimento para trazer
um círculo virtuoso à tona.
FOLHA - Isso pode acontecer?
MESSENBERG - Não creio. A economia continua muito volátil, e
o investimento depende de um
horizonte de cálculo que falta
no momento. O governo está
tentando algo nessa linha. A
frase do ministro [Guido] Mantega [Fazenda], de chamar o
"espírito animal" dos empresários para investir, tem esse objetivo. É tentar acender o espírito deles para que invistam e
dêem sustentação a um movimento generalizado de consumo na economia, colocando-a
em um círculo virtuoso. Eles
estão vendo que o crédito à pessoa física está desacelerando e
que, se nada for feito, tudo vem
para baixo mesmo. Daí a tentativa de fazer o mesmo agora
com os créditos direcionados.
Mas tudo ainda se sustenta
com um equilíbrio precário, e o
empresariado percebe isso
muito bem. Tudo depende de o
investimento privado engatar.
E ele não está engatando na
medida necessária para que se
tenha um crescimento sustentável. Isso demandaria mais investimento público, corte em
gastos correntes, corte em programas assistencialistas e ajustes na Previdência. Mas são
exatamente essas coisas que estão provocando uma transferência de renda do setor público e dando um gás ao consumo.
FOLHA - É uma transferência de dinheiro público dando gás ao consumo e fazendo com que a economia
vá para a frente de forma artificial?
MESSENBERG - De certa maneira
é artificial, pois você não tem ao
mesmo tempo espaço para fazer o investimento público
crescer de tal forma a dinamizar o investimento privado e
tornar tudo mais consistente.
Está se dando um gás para o
consumo das famílias, que se
alavanca com o crédito. Mas o
fôlego não é grande o suficiente
para que o investimento privado cresça de forma significativa
e torne tudo consistente. Até
porque essas políticas tolhem
um pedaço do crescimento do
investimento público, que seria
necessário para que o investimento privado fosse atrás e se
materializasse. Aí, não temos
um círculo virtuoso. É o nó do
setor público. Estamos comprimindo ou já comprimimos tudo em termos de investimento
público para bancar um aumento de gasto com transferências e pagar os programas
assistenciais, a Previdência e os
juros da dívida. E a despesa
com juros gera outra transferência do governo, que faz com
que seja pressionado a cortar
mais o investimento público.
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