São Paulo, domingo, 20 de agosto de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Com novo peso, inflação oficial seria maior

IPCA "passaria" de 1,73% para 1,83% até julho se novo sistema de ponderações do IBGE já vigorasse desde o início do ano

Inflação será menos volátil, porém mais persistente, com o aumento do peso de serviços e redução do de alimentos, diz economista


PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Referência para o regime de metas de inflação do governo, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) foi de 1,73% no acumulado de janeiro a julho deste ano. Seria, porém, de 1,83% (ou 0,10 ponto percentual a mais) se já estivesse em vigor o novo sistema de ponderações do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), adotado a partir de julho.
O cálculo é do Grupo de Conjuntura da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e considerou as novas ponderações de cada grupo de produtos (alimentos, transportes etc).
Segundo o economista Carlos Thadeu de Freitas Filho, da UFRJ, a inflação, a partir da nova estrutura de pesos, será menos volátil. É que o peso dos alimentos, cujos preços tendem a variar mais, caiu de 21,25 pontos percentuais do índice para 20,31 pontos.
Já os serviços ganharam importância na atual estrutura, o que torna a inflação "mais persistente". É que os serviços variam menos, mas tendem a manter preços por mais tempo ou por causa de reajustes contratuais ou por repasses de custos. Um exemplo é o grupo educação. Seu peso passou de 5,02 pontos para 7,13 pontos. Outro é o grupo comunicação (telefonia, correio e outros), cuja ponderação aumentou de 3,92 pontos para 6,56 pontos.
"Os serviços são preços que oscilam menos. São mais estáveis, mas, em compensação, demoram mais a recuar. Isso terá de ser observado pelo Banco Central", afirma Freitas Filho.
O mês de fevereiro, que concentra reajustes de mensalidades, exemplifica bem o impacto da mudança. Puxado pelo grupo educação, o IPCA subiu 0,41% nesse mês. Com os novos pesos, a taxa seria de 0,49%. Foi a maior diferença observada neste ano quando comparadas a nova e a velha ponderações. Nos demais meses, as variações foram pequenas, não superando 0,02 ponto percentual.
Independentemente da adoção da nova ou da antiga ponderação, o índice de julho ficou em 0,19%. Em junho, a deflação de 0,21% seria de 0,19% se os pesos novos já vigorassem.
O crescimento da importância dos serviços, diz Freitas Filho, acontece na medida em que a economia se torna mais desenvolvida e diversificada. Já os alimentos tendem a perder peso. "Está em linha com o que acontece em todo o mundo."

Na meta
Para retratar melhor o perfil recente de consumo da população, o IBGE atualizou a partir de julho o peso de cada produto no índice com base na POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares) de 2003, que identificou as despesas da população com cada produto. O IBGE não recalculou os índices passados.
A mudança não irá interferir no cumprimento da meta de inflação oficial de 4,5% neste ano, segundo Freitas Filho. Será cumprida com folga, diz ele. A média das previsões do mercado aponta para taxa de 4,48%.
Alexandre Sant'Anna, economista da ARX Capital, também acredita que não haverá impacto para a inflação deste ano, embora ressalte que ocorreram mudanças importantes. Citou o caso do álcool, cujo peso cedeu de 1,28% do IPCA para 0,42%. A escassez do combustível provocou alta da inflação nos primeiros meses deste ano, efeito que será reduzido na próxima entressafra da cana-de-açúcar, afirma o economista.
Sant'Anna destaca que a introdução de novos pesos foi positiva, ao atualizar o IPCA aos novos hábitos de consumo. Ganharam peso itens como DVD, telefone celular e TV a cabo. Já o serviço de acesso à internet, que não era pesquisado, passou a integrar o índice.


Texto Anterior: Vinicius Torres Freire: Juros, pirotecnia e mistificação
Próximo Texto: Foco: Livro do IBGE conta "saga" das estatísticas no Brasil desde o período imperial
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.