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Com novo peso, inflação oficial seria maior
IPCA "passaria" de 1,73% para 1,83% até julho se novo sistema de ponderações do IBGE já vigorasse desde o início do ano
Inflação será menos volátil, porém mais persistente, com o aumento do peso de serviços e redução do de alimentos, diz economista
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Referência para o regime de
metas de inflação do governo, o
IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) foi de 1,73%
no acumulado de janeiro a julho deste ano. Seria, porém, de
1,83% (ou 0,10 ponto percentual a mais) se já estivesse em
vigor o novo sistema de ponderações do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), adotado a partir de julho.
O cálculo é do Grupo de Conjuntura da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e
considerou as novas ponderações de cada grupo de produtos
(alimentos, transportes etc).
Segundo o economista Carlos Thadeu de Freitas Filho, da
UFRJ, a inflação, a partir da nova estrutura de pesos, será menos volátil. É que o peso dos alimentos, cujos preços tendem a
variar mais, caiu de 21,25 pontos percentuais do índice para
20,31 pontos.
Já os serviços ganharam importância na atual estrutura, o
que torna a inflação "mais persistente". É que os serviços variam menos, mas tendem a
manter preços por mais tempo
ou por causa de reajustes contratuais ou por repasses de custos. Um exemplo é o grupo educação. Seu peso passou de 5,02
pontos para 7,13 pontos. Outro
é o grupo comunicação (telefonia, correio e outros), cuja ponderação aumentou de 3,92 pontos para 6,56 pontos.
"Os serviços são preços que
oscilam menos. São mais estáveis, mas, em compensação, demoram mais a recuar. Isso terá
de ser observado pelo Banco
Central", afirma Freitas Filho.
O mês de fevereiro, que concentra reajustes de mensalidades, exemplifica bem o impacto
da mudança. Puxado pelo grupo educação, o IPCA subiu
0,41% nesse mês. Com os novos
pesos, a taxa seria de 0,49%. Foi
a maior diferença observada
neste ano quando comparadas
a nova e a velha ponderações.
Nos demais meses, as variações
foram pequenas, não superando 0,02 ponto percentual.
Independentemente da adoção da nova ou da antiga ponderação, o índice de julho ficou
em 0,19%. Em junho, a deflação
de 0,21% seria de 0,19% se os
pesos novos já vigorassem.
O crescimento da importância dos serviços, diz Freitas Filho, acontece na medida em
que a economia se torna mais
desenvolvida e diversificada. Já
os alimentos tendem a perder
peso. "Está em linha com o que
acontece em todo o mundo."
Na meta
Para retratar melhor o perfil
recente de consumo da população, o IBGE atualizou a partir
de julho o peso de cada produto
no índice com base na POF
(Pesquisa de Orçamentos Familiares) de 2003, que identificou as despesas da população
com cada produto. O IBGE não
recalculou os índices passados.
A mudança não irá interferir
no cumprimento da meta de inflação oficial de 4,5% neste ano,
segundo Freitas Filho. Será
cumprida com folga, diz ele. A
média das previsões do mercado aponta para taxa de 4,48%.
Alexandre Sant'Anna, economista da ARX Capital, também
acredita que não haverá impacto para a inflação deste ano,
embora ressalte que ocorreram
mudanças importantes. Citou
o caso do álcool, cujo peso cedeu de 1,28% do IPCA para
0,42%. A escassez do combustível provocou alta da inflação
nos primeiros meses deste ano,
efeito que será reduzido na próxima entressafra da cana-de-açúcar, afirma o economista.
Sant'Anna destaca que a introdução de novos pesos foi positiva, ao atualizar o IPCA aos
novos hábitos de consumo. Ganharam peso itens como DVD,
telefone celular e TV a cabo. Já
o serviço de acesso à internet,
que não era pesquisado, passou
a integrar o índice.
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