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Dólar pode disparar se a liquidez internacional diminuir, diz UFRJ
Juro alto e real forte devem prejudicar balanço de pagamento no longo prazo
JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO
A atual política econômica
pode resultar numa disparada
do dólar se houver uma inversão das condições de liquidez
internacional. O impacto dessa
mudança de cenário traria como conseqüência um choque
inflacionário seguido de um
mergulho recessivo, conclui o
estudo "Regime cambial brasileiro: sete anos de flutuação",
elaborado por Francisco
Eduardo Pires de Souza e Cecília Hoff, da UFRJ.
O texto faz parte de um livro
a ser lançado em setembro pela
Rede de Pesquisas Econômicas
do Mercosul. Segundo os autores, o Brasil vive hoje um "trilema" de política econômica, um
conjunto de estratégias inviáveis no médio prazo. Para manter a inflação em um patamar
baixo, os juros são mantidos em
nível elevado, o que gera uma
apreciação contínua do real
num cenário de farta liquidez
internacional. No médio prazo,
a combinação é incompatível
com o equilíbrio na balança de
pagamentos.
"A idéia de trilema de política
econômica é que não se pode
ter as três coisas ao mesmo
tempo: mobilidade de capitais
internacionais, política econômica independente e taxa de
câmbio estável, determinada
pelo governo", explica Francisco Eduardo Pires de Souza.
Segundo ele, quando o Banco
Central define uma taxa de juros muito superior à praticada
no exterior, ocorre uma enxurrada de aplicações em reais. As
tentativas do BC de minimizar
o efeito de apreciação da moeda
com intervenções no mercado
de câmbio só conseguem conter o ritmo de apreciação e geram um custo fiscal elevado.
"É difícil chamar a atenção
para essa questão porque o saldo comercial ainda é favorável.
O problema é que essas medidas trarão conseqüências que
vão se manifestar no futuro",
disse. Souza citou como exemplo o comportamento das exportações, que crescem em razão da alta de preços, e não de
volume exportado.
Dois fatores poderiam trazer
uma mudança de cenário: o fim
do ciclo de alta das commodities e os focos de inflação em
economias desenvolvidas, que
resultam em aumento de taxas
de juros. Depois de 17 expansões consecutivas, o Fed (Federal Reserve, banco central dos
EUA) interrompeu o ciclo de
alta dos juros iniciado em junho de 2004 e manteve a taxa
em 5,25% ao ano em sua última
reunião. O Banco Central Europeu levou a taxa básica de juros para 3% ao ano e o Banco da
Inglaterra subiu a taxa para 4%.
"Esse aperto monetário, se
prosseguir, pode aos poucos
mudar a condução da liquidez
internacional. Nessa situação,
se o balanço de pagamentos
mudar nesse cenário, podemos
sofrer as conseqüências. É preciso reduzir o peso dos juros na
política monetária", disse.
Os autores do estudo sugerem uma mudança no mix de
política econômica, com juros
mais baixos e câmbio um pouco
mais depreciado e estável, para
que a economia cresça a um ritmo mais acelerado. A complementação dessa política viria
da melhora da política fiscal e
de políticas de aumento da produtividade e da competição, como o estímulo à inovação.
O estudo analisa os sete anos
de flutuação cambial. Segundo
a avaliação de indicadores como volatilidade das reservas e
da taxa de juros, os autores concluem que na média dos sete
anos o país não foi tomado pelo
"medo de flutuação" que atingiu alguns emergentes. Mas,
desde janeiro de 1999, a economia sofreu uma série de choques que, se não foram suficientes para que o país deixasse
de lado o câmbio flutuante, levaram o BC a ingressar ativamente no mercado de câmbio.
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