São Paulo, domingo, 20 de agosto de 2006

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Dólar pode disparar se a liquidez internacional diminuir, diz UFRJ

Juro alto e real forte devem prejudicar balanço de pagamento no longo prazo

JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO

A atual política econômica pode resultar numa disparada do dólar se houver uma inversão das condições de liquidez internacional. O impacto dessa mudança de cenário traria como conseqüência um choque inflacionário seguido de um mergulho recessivo, conclui o estudo "Regime cambial brasileiro: sete anos de flutuação", elaborado por Francisco Eduardo Pires de Souza e Cecília Hoff, da UFRJ.
O texto faz parte de um livro a ser lançado em setembro pela Rede de Pesquisas Econômicas do Mercosul. Segundo os autores, o Brasil vive hoje um "trilema" de política econômica, um conjunto de estratégias inviáveis no médio prazo. Para manter a inflação em um patamar baixo, os juros são mantidos em nível elevado, o que gera uma apreciação contínua do real num cenário de farta liquidez internacional. No médio prazo, a combinação é incompatível com o equilíbrio na balança de pagamentos.
"A idéia de trilema de política econômica é que não se pode ter as três coisas ao mesmo tempo: mobilidade de capitais internacionais, política econômica independente e taxa de câmbio estável, determinada pelo governo", explica Francisco Eduardo Pires de Souza.
Segundo ele, quando o Banco Central define uma taxa de juros muito superior à praticada no exterior, ocorre uma enxurrada de aplicações em reais. As tentativas do BC de minimizar o efeito de apreciação da moeda com intervenções no mercado de câmbio só conseguem conter o ritmo de apreciação e geram um custo fiscal elevado.
"É difícil chamar a atenção para essa questão porque o saldo comercial ainda é favorável. O problema é que essas medidas trarão conseqüências que vão se manifestar no futuro", disse. Souza citou como exemplo o comportamento das exportações, que crescem em razão da alta de preços, e não de volume exportado.
Dois fatores poderiam trazer uma mudança de cenário: o fim do ciclo de alta das commodities e os focos de inflação em economias desenvolvidas, que resultam em aumento de taxas de juros. Depois de 17 expansões consecutivas, o Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA) interrompeu o ciclo de alta dos juros iniciado em junho de 2004 e manteve a taxa em 5,25% ao ano em sua última reunião. O Banco Central Europeu levou a taxa básica de juros para 3% ao ano e o Banco da Inglaterra subiu a taxa para 4%.
"Esse aperto monetário, se prosseguir, pode aos poucos mudar a condução da liquidez internacional. Nessa situação, se o balanço de pagamentos mudar nesse cenário, podemos sofrer as conseqüências. É preciso reduzir o peso dos juros na política monetária", disse.
Os autores do estudo sugerem uma mudança no mix de política econômica, com juros mais baixos e câmbio um pouco mais depreciado e estável, para que a economia cresça a um ritmo mais acelerado. A complementação dessa política viria da melhora da política fiscal e de políticas de aumento da produtividade e da competição, como o estímulo à inovação.
O estudo analisa os sete anos de flutuação cambial. Segundo a avaliação de indicadores como volatilidade das reservas e da taxa de juros, os autores concluem que na média dos sete anos o país não foi tomado pelo "medo de flutuação" que atingiu alguns emergentes. Mas, desde janeiro de 1999, a economia sofreu uma série de choques que, se não foram suficientes para que o país deixasse de lado o câmbio flutuante, levaram o BC a ingressar ativamente no mercado de câmbio.


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