São Paulo, quinta, 20 de agosto de 1998

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CRISE RUSSA
Presidente do BC, Serguei Dubinin, revela que entre US$ 3,5 e US$ 3,8 bi foram usados para comprar rublos
Rússia defende moeda com crédito do FMI

Associated Press
Russos fazem fila para trocar rublos por dólares em casa de câmbio de Moscou


das agências internacionais

A Rússia admitiu ontem que gastou entre US$ 3,5 bilhões e US$ 3,8 bilhões para defender o rublo desde o último dia 20 de julho. O governo usou, para isso, recursos da remessa de US$ 4,8 bilhões enviada ao país pelo FMI (Fundo Monetário Internacional).
A informação foi prestada ontem pelo presidente do banco central russo, Serguei Dubinin, ao comitê de Orçamento da Duma, a Câmara Baixa do Parlamento. A outra parte dos recursos, cerca de US$ 1 bilhão, foi usada para financiar gastos públicos. Os US$ 4,8 bilhões integram o pacote de ajuda internacional de US$ 22,6 bilhões que serão enviados ao país em dois anos.
"Eu não acredito que seja uma soma grande. O mercado de câmbio da Rússia movimenta, em um mês, cerca de US$ 100 bilhões", afirmou Dubinin, sobre o total usado em defesa do rublo.
Ontem, o banco central interveio mais uma vez no mercado de câmbio para segurar a cotação de sua moeda, que, desde segunda-feira, pode ter efetivamente uma desvalorização de mais de 30%.
A desvalorização foi permitida depois de o governo ter alterado a faixa de flutuação da moeda. Antes, o rublo variava de 5,27 a 7,13 por dólar. Desde a última segunda-feira, pode ser negociado entre 6,00 e 9,5 por dólar.
Ontem, no mercado interbancário, o rublo foi negociado a 6,99 por dólar. A maioria das casas de câmbio vendeu o dólar por um valor entre 7,5 e 7,8 rublos -abaixo, portanto, da cotação de 9,5 do dia anterior.
Nas ruas de Moscou, o movimento nas casas de câmbio e nos caixas eletrônicos voltou ao normal, depois de dois dias de longas filas. Os russos correram, porém, para os caixas dos bancos, de onde retiraram seus rublos ontem.
A decisão dos 12 maiores bancos do país de se unir para garantir sua estabilidade só tranquilizou os clientes das instituições que participam do pool.
Em uma tentativa de acalmar o mercado, o premiê russo, Serguei Kirienko, afirmou ontem que a Rússia cumprirá todas as suas obrigações.

Reservas
Sem citar números, o presidente do BC russo afirmou ontem ao comitê da Duma que as reservas do país se encontram nos mesmos níveis de antes da remessa do FMI. No último informe divulgado pelo banco central, as reservas eram de US$ 17 bilhões.
Na terça-feira, Serguei Aleksachenko, segundo homem forte do BC russo, havia admitido que, em defesa do rublo, estavam sendo utilizados todos os instrumentos disponíveis, incluindo as reservas em ouro e metais preciosos.
Dubinin afirmou que a situação do mercado financeiro, nos últimos nove meses, tem sido "muito complexa". Por essa razão, segundo ele, o banco central optou por manter a estabilidade do rublo em lugar de aumentar seu déficit orçamentário por meio da concessão de créditos.
O presidente do BC afirmou que as medidas tributárias de estabilização não tiveram resultado, o que levou o governo a alterar sua política cambial e a anunciar a reestruturação da dívida pública.

Ajuda do Japão
O agravamento da crise financeira levou o governo russo a pedir ao Japão que envie logo o crédito de US$ 1,5 bilhão com o qual o país colabora no pacote russo. O pedido foi feito pelo próprio premiê Serguei Kirienko.
O Japão já enviou US$ 400 milhões. A princípio, só deve liberar mais US$ 200 milhões até o final do ano e mais US$ 800 bilhões no começo de 1999.



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