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LUÍS NASSIF
Eliezer e o Avança Brasil
Ao longo de todo o governo
passado, sempre considerei
o Avança Brasil a melhor contribuição conceitual à inovação da
gestão pública. O modelo foi estendido ao Plano Plurianual,
ajudando a organizar o Orçamento.
Na prática, o Avança Brasil falhou, um ótimo conceito, mas
que se perdeu por erros de formulação estratégica. A opinião é
de Eliezer Batista, autor do trabalho original no qual o plano se
inspirou. É importante ouvir sua
avaliação, para as devidas correções de rumo.
Em seus trabalhos, Eliezer privilegiava a integração do país
em eixos de infra-estrutura, mas
sob a ótica econômica. Era suficientemente pragmático para focar nos recursos já disponíveis,
naquilo de que o país já dispunha, e tratar de atrair rapidamente investimentos para acelerar o desenvolvimento.
No Avança Brasil, privilegiou-se uma visão geoeconômica, com
erros de avaliação que, segundo
Eliezer, comprometeram o trabalho. Pai do programa, José
Paulo Silveira é dos maiores especialistas do país em ferramentas de gestão e de planejamento.
É o supergerente. Mas acabou
tocando também a parte estratégica -por falta de formuladores
no governo.
O primeiro erro, segundo Eliezer, foi trocar a visão federativa
pela visão regionalizada -pensar regiões em vez de Estados-
e a visão econômica pela visão
interdisciplinar -tentando focar simultaneamente aspectos
econômicos, sociais, tecnológicos. No papel, a idéia era ganhar
sinergia, e aqui mesmo se louvou
essa intenção. Na prática, por
desconhecimento das peculiaridades do federalismo brasileiro,
criou-se um imbróglio monumental que tornou impossível a
gestão do projeto.
Outro erro, segundo Eliezer, foi
amarrar os investimentos privados à perspectiva de novos investimentos públicos, e não ao que
já existia. O projeto foi montado
em cima de uma enorme vulnerabilidade estratégica -a crise
financeira do setor público.
Finalmente, na integração da
infra-estrutura latino-americana, segundo Eliezer, o programa
acabou esbarrando em uma visão de Fernando Henrique Cardoso alienada da realidade do
continente e na pouca experiência de política internacional dos
formuladores do plano.
No começo a idéia era envolver
o BNDES e a CAF -o banco de
desenvolvimento do bloco andino, considerado muito eficiente.
Permitiu-se a entrada do BID,
no qual a influência norte-americana é muito forte.
Depois, juntaram-se os países
do continente e solicitaram-se
dois projetos de cada um, sem
atentar para as diferenças entre
os países e para a lógica econômica dos projetos. Há países sem
condições de sequer apresentar
um projeto.
Todos esses alertas foram feitos
ao governo Fernando Henrique
Cardoso, mas em vão.
Auto-sustentado
Sugestão de Eliezer para a reforma ministerial: criar um Ministério do Desenvolvimento
Sustentado, que tenha debaixo
de si não apenas os temas de desenvolvimento mas também os
ambientais. Do modo como as
ações estão dispersas hoje em
dia, diz ele, o Ibama e os ambientalistas vão paralisar o país.
Eliezer é o pai do primeiro projeto de desenvolvimento auto-sustentado do mundo -o Carajás.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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