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LUÍS NASSIF
Exportar é
o que importa
A respeito da coluna abordando a utilização dos princípios de qualidade total no esforço de exportações brasileiro, recebo a seguinte carta do
leitor Fábio Figueiredo:
"Se o governo esta querendo
qualidade total nas exportações, não pode esquecer que as
embaixadas brasileiras no exterior deveriam estar a serviço
dos expatriados como eu, que
ficam como uma 'ponta de
lança' na comercialização de
produtos brasileiros.
Contatei a Embaixada brasileira em Jacarta e em Cingapura. O meu e-mail era simples e curto: Meu nome é tal...
estou localizado na Indonésia
para sedimentar um negócio
de exportação de produtos
brasileiros e gostaria de saber
qual e o tipo de apoio que a
embaixada nos fornece.
Da embaixada brasileira em
Cingapura recebi prontamente uma resposta do assessor de
comércio exterior (sr. Pedro
Friedmann), com o endereço
da home-page da embaixada
em Cingapura e se dispondo a
fornecer informações adicionais.
Da embaixada brasileira em
Jacarta -e Jacarta é a capital
da Indonésia-, estou esperando até hoje... Isso significa
o quê? Que qualidade total é
essa, na qual não existe uma
padronização de serviços, o
brasileiro expatriado fica
mais de 15 dias sem resposta?
E se eu fosse um negociador
que estive passando somente
dez dias aqui?
Mandei um e-mail para o
MRE (Ministério das Relações
Exteriores) explicando o caso
e recebi um e-mail de volta
dizendo que o caso fora encaminhado para a Secretaria de
Comunicação Social daquele
ministério. Continuo aguardando a resposta."
Exemplo dos 70
A carta é exemplo rotundo
de que, apesar dos esforços
desenvolvidos em algumas
áreas, a exportação ainda
não se tornou prioridade de
governo.
O exemplo dos anos 70 precisa ser revisto e aprimorado.
Depois das reformas de 1964,
o país recobrara o nível de
crescimento. Desde o início do
século, cada período de crescimento provocava estrangulamento no balanço de pagamentos, devido ao aumento
das importações e dos financiamentos externos.
Decidiu-se lançar o programa "Exportar é o que importa", que não se tratava apenas de um conjunto de medidas financeiras e tributárias,
mas de todo um envolvimento
do governo e de entidades privadas com o desafio, coordenado na época pelo então super-ministro Antônio Delfim
Netto.
Manteve-se o câmbio favorável. Criaram-se estímulos
fiscais. Além da isenção de
impostos diretos, o exportador gozava não só de isenção
de Imposto de Renda, como
de restituição correspondente
ao imposto que deveria pagar,
para ser ressarcido dos impostos em cascata.
Os financiamentos foram
garantidos pela ampla estrutura do Banco do Brasil e por
mecanismos de repasses por
meio da rede privada.
No plano da infra-estrutura, amarrou-se todo um programa de investimentos aos
chamados "corredores de exportação" -planejados pela
imaginação fervilhante de
Eliezer Baptista.
Para criar mentalidade exportadora, foi lançada campanha nacional com a presença do próprio presidente
da República.
Anualmente, havia uma
premiação aos melhores exportadores (em geral, pequenas e médias empresas), com
prêmios dados pessoalmente
pelo presidente da República,
Emílio Garrastazu Médici
-a única solenidade na qual
Médici se envolvia, além do
futebol.
Organização
A organização dos exportadores era coordenada por
dois personagens relevantes.
Na parte privada, pelo então
presidente da Associação dos
Exportadores Brasileiros,
Giulite Coutinho. Na área diplomática, pelo então responsável pela promoção comercial do Itamarati, Paulo de
Tarso Flecha de Lima.
Quando o exportador saía
do Brasil, havia uma rede internacional, coordenada pela
promoção comercial do Itamarati, pronta a lhe dar toda
a retaguarda, orientando-o
pelas ruas do mundo, apresentando-o aos fregueses, suprindo sua falta de conhecimento sobre idiomas locais.
Esse esforço logrou criar em
pouco tempo, em um país
"caipira", uma geração de especialistas em comércio exterior, jovens universitários que
saíam de faculdades de economia, administração, direito
e engenharia preparados para
ganhar dinheiro, mas imbuídos do sentido de missão.
A luta do comércio exterior
passa novamente por esses
mecanismos de coordenação
de esforços privados, estímulo
interno e apoio externo.
Precisa virar tema nacional,
com envolvimento direto do
próprio presidente da República.
Email: lnassif@uol.com.br
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