São Paulo, segunda, 20 de outubro de 1997.




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LUÍS NASSIF
Exportar é o que importa

A respeito da coluna abordando a utilização dos princípios de qualidade total no esforço de exportações brasileiro, recebo a seguinte carta do leitor Fábio Figueiredo:
"Se o governo esta querendo qualidade total nas exportações, não pode esquecer que as embaixadas brasileiras no exterior deveriam estar a serviço dos expatriados como eu, que ficam como uma 'ponta de lança' na comercialização de produtos brasileiros.
Contatei a Embaixada brasileira em Jacarta e em Cingapura. O meu e-mail era simples e curto: Meu nome é tal... estou localizado na Indonésia para sedimentar um negócio de exportação de produtos brasileiros e gostaria de saber qual e o tipo de apoio que a embaixada nos fornece.
Da embaixada brasileira em Cingapura recebi prontamente uma resposta do assessor de comércio exterior (sr. Pedro Friedmann), com o endereço da home-page da embaixada em Cingapura e se dispondo a fornecer informações adicionais.
Da embaixada brasileira em Jacarta -e Jacarta é a capital da Indonésia-, estou esperando até hoje... Isso significa o quê? Que qualidade total é essa, na qual não existe uma padronização de serviços, o brasileiro expatriado fica mais de 15 dias sem resposta? E se eu fosse um negociador que estive passando somente dez dias aqui?
Mandei um e-mail para o MRE (Ministério das Relações Exteriores) explicando o caso e recebi um e-mail de volta dizendo que o caso fora encaminhado para a Secretaria de Comunicação Social daquele ministério. Continuo aguardando a resposta."

Exemplo dos 70
A carta é exemplo rotundo de que, apesar dos esforços desenvolvidos em algumas áreas, a exportação ainda não se tornou prioridade de governo.
O exemplo dos anos 70 precisa ser revisto e aprimorado. Depois das reformas de 1964, o país recobrara o nível de crescimento. Desde o início do século, cada período de crescimento provocava estrangulamento no balanço de pagamentos, devido ao aumento das importações e dos financiamentos externos.
Decidiu-se lançar o programa "Exportar é o que importa", que não se tratava apenas de um conjunto de medidas financeiras e tributárias, mas de todo um envolvimento do governo e de entidades privadas com o desafio, coordenado na época pelo então super-ministro Antônio Delfim Netto.
Manteve-se o câmbio favorável. Criaram-se estímulos fiscais. Além da isenção de impostos diretos, o exportador gozava não só de isenção de Imposto de Renda, como de restituição correspondente ao imposto que deveria pagar, para ser ressarcido dos impostos em cascata.
Os financiamentos foram garantidos pela ampla estrutura do Banco do Brasil e por mecanismos de repasses por meio da rede privada.
No plano da infra-estrutura, amarrou-se todo um programa de investimentos aos chamados "corredores de exportação" -planejados pela imaginação fervilhante de Eliezer Baptista.
Para criar mentalidade exportadora, foi lançada campanha nacional com a presença do próprio presidente da República.
Anualmente, havia uma premiação aos melhores exportadores (em geral, pequenas e médias empresas), com prêmios dados pessoalmente pelo presidente da República, Emílio Garrastazu Médici -a única solenidade na qual Médici se envolvia, além do futebol.

Organização
A organização dos exportadores era coordenada por dois personagens relevantes. Na parte privada, pelo então presidente da Associação dos Exportadores Brasileiros, Giulite Coutinho. Na área diplomática, pelo então responsável pela promoção comercial do Itamarati, Paulo de Tarso Flecha de Lima.
Quando o exportador saía do Brasil, havia uma rede internacional, coordenada pela promoção comercial do Itamarati, pronta a lhe dar toda a retaguarda, orientando-o pelas ruas do mundo, apresentando-o aos fregueses, suprindo sua falta de conhecimento sobre idiomas locais.
Esse esforço logrou criar em pouco tempo, em um país "caipira", uma geração de especialistas em comércio exterior, jovens universitários que saíam de faculdades de economia, administração, direito e engenharia preparados para ganhar dinheiro, mas imbuídos do sentido de missão.
A luta do comércio exterior passa novamente por esses mecanismos de coordenação de esforços privados, estímulo interno e apoio externo.
Precisa virar tema nacional, com envolvimento direto do próprio presidente da República.

Email: lnassif@uol.com.br


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