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Governo finaliza até amanhã projeto com regras para liberação do comércio de produtos geneticamente modificados
Uso comercial de transgênicos será regulado
ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula
Silva pretende fechar amanhã o
projeto que regulamentará as
questões de transgênicos, após
quase oito meses de discussões internas no governo. O próprio Lula
estabeleceu o prazo no final da semana passada.
A tarefa não será fácil, pois o anteprojeto apresentado pela Casa
Civil aos ministros envolvidos nas
negociações não agradou totalmente nem o ministério de Marina Silva (Meio Ambiente) nem o
de Roberto Rodrigues (Agricultura), que defendem posições opostas. Os ministérios tiveram até
sexta para apresentar sugestões
para alterar o versão.
A disputa que divide o governo
entre os mais favoráveis à adoção
de transgênicos e os mais cautelosos é o trâmite para aprovar a liberação comercial de um produto
geneticamente modificado.
A principal divergência, ainda
não resolvida entre os ministérios, é o papel da CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biotecnologia). A comissão foi criada
para preparar pareceres técnicos
sobre a biossegurança de organismos geneticamente modificados.
Marina defende que os pareceres da comissão devem ser apenas
consultivos. Isso significa que, independentemente da opinião da
comissão, o seu ministério seria
responsável pelo licenciamento
ambiental do transgênico e, portanto, poderia exigir estudos de
impacto ambiental.
Rodrigues, por outro lado, quer
que os pareceres sejam vinculantes, ou seja, uma vez que a
CTNBio decida que um produto é
biosseguro e dispensa os estudos
de impacto ambiental, o Meio
Ambiente não poderia fazer qualquer exigência ambiental.
O anteprojeto entregue pela Casa Civil, na opinião de funcionários do Meio Ambiente, não deixa
claro a competência de cada órgão no processo para a liberação.
Além disso, o texto aprovado
pelo ministro-chefe da Casa Civil,
José Dirceu, inclui alguns pontos
que já haviam sido rechaçados
por consenso pelos ministérios.
Mas as dúvidas sobre transgênicos não se limitam ao projeto que
deve ser encaminhado ao Congresso nesta semana. No fim de
setembro, o governo editou uma
medida provisória [MP 131] que
liberou o uso de sementes transgênicas de soja só neste ano. Já a
Assembléia Legislativa do Paraná
proibiu o plantio no Estado.
O presidente da Abrasem (Associação Brasileira dos Produtores de Sementes), Iwao Miyamoto, 60, disse que "ações desastradas" como a edição da MP 131 e a
proibição no Paraná abrem espaço "para que sementes clandestinas ocupem as lavouras".
Outro ponto divergente é a
aprovação do uso do agrotóxico
glifosato nos pés de soja. Sem o
glifosato, não há vantagem nenhuma em plantar a soja geneticamente modificada.
Esse tipo de agrotóxico só pode
ser borrifado antes do plantio, segundo normas vigentes. Mas a soja transgênica foi modificada justamente para poder ser borrifada
após ter brotado -ou seja, não há
por que usar transgênico se não
for possível usar o glifosato.
Uma comissão técnica interministerial (Saúde, Agricultura e
Meio Ambiente) já recomendou o
governo a não liberar o uso do
agrotóxico. A Agricultura, principal interessada no assunto, se esforça para encontrar uma solução
e tentará apresentar uma saída
nesta semana.
Colaborou José Maschio, da Agência
Folha, em Londrina
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