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RECEITA ORTODOXA
Por unanimidade, BC acelera ritmo de queda do juro e diz que flexibilização não compromete controle da inflação
Copom reduz a Selic de 19,5% para 19%
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Banco Central acelerou o processo de redução dos juros e promoveu uma redução de 0,5 ponto
percentual na taxa Selic, que a
partir de hoje será fixada em 19%
ao ano. A decisão foi tomada ontem, por unanimidade, na reunião mensal do Copom (Comitê
de Política Monetária do BC).
Por meio de nota, o BC informou que a redução dos juros foi
decidida depois de avaliar que "a
flexibilização da política monetária neste momento não compromete as conquistas obtidas no
combate à inflação".
Mesmo com a queda, os juros
permanecem num nível mais elevado do que o observado há um
ano, quando a taxa estava em
16,75% ao ano. Naquela época,
porém, a tendência era inversa,
pois a Selic continuaria a subir até
chegar a 19,75% ao ano em maio
último -patamar em que permaneceu até o mês passado.
No mercado financeiro, a redução dos juros era dada como certa, embora analistas divergissem
sobre o tamanho da queda -a
maioria apostava num corte de
0,50 ponto percentual, mas outros
diziam acreditar numa redução
de 0,25 ponto.
A crença numa redução dos juros estava baseada no comportamento mais favorável demonstrado recentemente pela inflação.
Entre janeiro e setembro, o IPCA
(Índice de Preços ao Consumidor
Amplo) subiu 3,95%, e tudo indica que o resultado do ano ficará
bem próximo dos 5,1% fixados
pelo BC como meta para 2005.
O próprio BC chegou a admitir,
em documento divulgado há três
semanas, que a manutenção dos
juros em 19,5% ao ano poderia até
fazer com que a inflação ficasse
abaixo da meta oficial. Ainda assim, sua diretoria se mostrava
cautelosa em relação a novos cortes na taxa Selic.
"É preciso que os indicadores
prospectivos de inflação sigam
apresentando elementos compatíveis com o cenário benigno que
tem se configurado", dizia a ata da
reunião de setembro do Copom.
Segundo o texto, só com a confirmação desse "cenário benigno"
seria possível continuar com a redução dos juros.
A tranqüilidade observada no
mercado de câmbio também é
um fator que favorece reduções
nos juros. Mesmo com as intervenções feitas pelo BC nos últimos dias, a cotação do dólar tem
se mantido abaixo de R$ 2,30. A
valorização do real é uma boa notícia para a inflação, pois mantém
sob controle os preços de bens e
matérias-primas importadas.
A queda do dólar é impulsionada pelo fluxo de recursos trazidos
ao país pelos exportadores, mas
também é favorecida pela alta da
taxa Selic: juros altos estimulam
os investidores a fazer aplicações
em renda fixa, que se tornam
mais rentáveis, no lugar de operar
no mercado de câmbio.
A expectativa de que a inflação
de 2006 fique próxima das metas
do governo também colabora para o "cenário benigno" do BC. De
acordo com pesquisa feita na semana passada pelo BC com cem
analistas de mercado, a expectativa é que a alta do IPCA fique em
4,6% no ano que vem, bem próxima da meta fixada de 4,5%.
Considerando tudo isso, a pesquisa de mercado do BC projeta
que a taxa Selic vá encerrar 2005
em 18% ao ano. Um novo corte de
0,5 ponto é esperado para o mês
que vem.
A Selic é utilizada nas operações
feitas diariamente entre os bancos
e o BC e, por isso, acaba servindo
de referência para as demais taxas
praticadas no sistema financeiro.
Em tese, juros menores estimulam o consumo das famílias e os
investimentos das empresas, favorecendo, assim, o crescimento
da economia.
Analistas dizem que o aperto
monetário iniciado no final de
2004 foi um dos principais motivos para a desaceleração da economia -o país, que cresceu 4,9%
em 2004, deve ter expansão de
3,3% em 2005, segundo pesquisa
de mercado feita pelo BC. Anteontem, o presidente Lula falou
em alta de 4% do PIB neste ano.
Os dois últimos cortes na Selic
efetuados pelo BC, porém, devem
ter pouco efeito sobre o crescimento econômico deste ano, pois
estima-se que mudanças nas taxas de juros possam levar até nove
meses para serem sentidas por
completo pela economia.
Dessa forma, só no ano que
vem, quando haverá eleições presidenciais, as recentes decisões do
Copom devem afetar de forma
mais significativa a economia
-tanto do lado da inflação quanto do crescimento. A expectativa
do mercado é que o país tenha
crescimento de 3,5% em 2006,
acompanhada de uma inflação,
medida pelo IPCA, de 4,6%.
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