São Paulo, quinta-feira, 20 de outubro de 2005

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RECEITA ORTODOXA

Por unanimidade, BC acelera ritmo de queda do juro e diz que flexibilização não compromete controle da inflação

Copom reduz a Selic de 19,5% para 19%

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Banco Central acelerou o processo de redução dos juros e promoveu uma redução de 0,5 ponto percentual na taxa Selic, que a partir de hoje será fixada em 19% ao ano. A decisão foi tomada ontem, por unanimidade, na reunião mensal do Copom (Comitê de Política Monetária do BC).
Por meio de nota, o BC informou que a redução dos juros foi decidida depois de avaliar que "a flexibilização da política monetária neste momento não compromete as conquistas obtidas no combate à inflação".
Mesmo com a queda, os juros permanecem num nível mais elevado do que o observado há um ano, quando a taxa estava em 16,75% ao ano. Naquela época, porém, a tendência era inversa, pois a Selic continuaria a subir até chegar a 19,75% ao ano em maio último -patamar em que permaneceu até o mês passado.
No mercado financeiro, a redução dos juros era dada como certa, embora analistas divergissem sobre o tamanho da queda -a maioria apostava num corte de 0,50 ponto percentual, mas outros diziam acreditar numa redução de 0,25 ponto.
A crença numa redução dos juros estava baseada no comportamento mais favorável demonstrado recentemente pela inflação. Entre janeiro e setembro, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) subiu 3,95%, e tudo indica que o resultado do ano ficará bem próximo dos 5,1% fixados pelo BC como meta para 2005.
O próprio BC chegou a admitir, em documento divulgado há três semanas, que a manutenção dos juros em 19,5% ao ano poderia até fazer com que a inflação ficasse abaixo da meta oficial. Ainda assim, sua diretoria se mostrava cautelosa em relação a novos cortes na taxa Selic.
"É preciso que os indicadores prospectivos de inflação sigam apresentando elementos compatíveis com o cenário benigno que tem se configurado", dizia a ata da reunião de setembro do Copom. Segundo o texto, só com a confirmação desse "cenário benigno" seria possível continuar com a redução dos juros.
A tranqüilidade observada no mercado de câmbio também é um fator que favorece reduções nos juros. Mesmo com as intervenções feitas pelo BC nos últimos dias, a cotação do dólar tem se mantido abaixo de R$ 2,30. A valorização do real é uma boa notícia para a inflação, pois mantém sob controle os preços de bens e matérias-primas importadas.
A queda do dólar é impulsionada pelo fluxo de recursos trazidos ao país pelos exportadores, mas também é favorecida pela alta da taxa Selic: juros altos estimulam os investidores a fazer aplicações em renda fixa, que se tornam mais rentáveis, no lugar de operar no mercado de câmbio.
A expectativa de que a inflação de 2006 fique próxima das metas do governo também colabora para o "cenário benigno" do BC. De acordo com pesquisa feita na semana passada pelo BC com cem analistas de mercado, a expectativa é que a alta do IPCA fique em 4,6% no ano que vem, bem próxima da meta fixada de 4,5%.
Considerando tudo isso, a pesquisa de mercado do BC projeta que a taxa Selic vá encerrar 2005 em 18% ao ano. Um novo corte de 0,5 ponto é esperado para o mês que vem.
A Selic é utilizada nas operações feitas diariamente entre os bancos e o BC e, por isso, acaba servindo de referência para as demais taxas praticadas no sistema financeiro. Em tese, juros menores estimulam o consumo das famílias e os investimentos das empresas, favorecendo, assim, o crescimento da economia.
Analistas dizem que o aperto monetário iniciado no final de 2004 foi um dos principais motivos para a desaceleração da economia -o país, que cresceu 4,9% em 2004, deve ter expansão de 3,3% em 2005, segundo pesquisa de mercado feita pelo BC. Anteontem, o presidente Lula falou em alta de 4% do PIB neste ano.
Os dois últimos cortes na Selic efetuados pelo BC, porém, devem ter pouco efeito sobre o crescimento econômico deste ano, pois estima-se que mudanças nas taxas de juros possam levar até nove meses para serem sentidas por completo pela economia.
Dessa forma, só no ano que vem, quando haverá eleições presidenciais, as recentes decisões do Copom devem afetar de forma mais significativa a economia -tanto do lado da inflação quanto do crescimento. A expectativa do mercado é que o país tenha crescimento de 3,5% em 2006, acompanhada de uma inflação, medida pelo IPCA, de 4,6%.


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